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Claudiney é flanelinha, não tem renda fixa, mora no bairro Xaxim e cuida de carros no Água Verde, em Curitiba. Quem o vê todos os dias, das 9 às 19 horas na Avenida República Argentina, não imagina que esse sujeito posto à margem da sociedade seja a força motriz da segunda mais lucrativa indústria do mundo, o futebol. Sapo, codinome de rua de Claudiney Santos Tavares, é o retrato de um sem-número de torcedores que só encontram alegria na bola. Uma gente que faz de cada gol do time um sedativo para as mazelas da vida, nem que para isso seja preciso gastar o pouco que tem.

Aos 27 anos, segundo grau completo, Sapo ganha uns R$ 400 por mês, metade para manter sua única paixão: o Atlético. As contas nem sempre batem. No Campeonato Brasileiro de 2004, por exemplo, para acompanhar o Furacão na reta final ele acabou ficando sem luz por uns tempos. Deixou a conta sobre a mesa e entrou no ônibus direto para o Rio de Janeiro, ao fatídico confronto em que o Atlético perderia para o Vasco por 1 a 0 e praticamente entregaria o título daquele ano para o Santos. Além da derrota, lá se foram R$ 120.

Na adolescência, Sapo pensou em seguir os rumos daqueles que hoje têm por ídolos. Teve mais sorte nas ruas, onde para ele as chances pareciam maiores. De cada 100 carros, uns 20 dão gorjeta. Salvo a sorte de se deparar com um rubro-negro, a recompensa pára nos centavos, quando muito chega a um real. Mas há exceções. Sapo lembra da segunda-feira posterior à goleada do Furacão sobre o Botafogo – foram 4 a 1 em pleno Maracanã. Ganhou R$ 10, numa nota só. Ele estava com o moletom da Torcida Os Fanáticos. Não tem dúvidas de que o motorista era rubro-negro.

Ele faz parte dos torcedores que o presidente do clube de coração, Mário Celso Petraglia, diz não querer no estádio, pois são baderneiros e só dão prejuízos. Mas só de camisas e uniforme do Atlético, Sapo já perdeu a conta de quanto gastou: atualmente tem duas camisas oficiais (uma de jogo e uma de treino), mais o agasalho. Sem contar os penduricalhos, como caneca, caneta, chaveiro. Não gasta mais porque não tem. Precisa guardar um pouco para o marmitex de cada dia, que come sentado na calçada mesmo. Nada de luxo, só o suficiente para sobreviver.

Sapo nunca havia ouvido os argumentos de Petraglia. Já viu muitas confusões, mas afirma nunca ter se metido numa dessas. Confessa, no entanto, que já cometeu o "delito" de ir ao jogo depois de uns goles, sorrindo quando o time ganha, ou chorando quando perde. Já é caractarística dele aparecer no local de trabalho de óculos escuros no dia seguinte a uma derrota do Furacão. "Futebol, na minha vida, significa paixão. É a única coisa que mexe com meus sentimentos. Você sabe, pois deve ser assim com você também".

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