Curitiba tem tudo para acordar diferente amanhã, confirmada como uma das subsedes da Copa do Mundo de 2014. A Copa é o evento esportivo mais popular do mundo e ter ela acontecendo no seu quintal é um privilégio para poucos. Existem motivos claros para celebração.
Ser escolhida como uma das subsedes cria a expectativa que a cidade venha a colher inúmeros benefícios. O mais evidente talvez seja a divulgação internacional de Curitiba. Fãs de futebol do mundo inteiro conhecerão a cidade. É difícil imaginar que um dia a capital do estado venha novamente a despertar tanta atenção aos olhos internacionais.
Outro benefício é o investimento em infraestrutura esportiva que terá de ser feito. A Fifa é exigente e a cidade assumiu um compromisso que terá de cumprir. São necessárias diversas melhorias na estrutura para o evento, que acabarão ficando como legado para a cidade.
Mas talvez o maior benefício seja o fluxo de capital novo que entrará em Curitiba, proveniente da legião de turistas do Brasil e do mundo que virão à cidade. Todos os envolvidos com a economia local esperam com ansiedade esse fortalecimento de capital no mercado.
Os benefícios para Curitiba serão imensos. Mas até que ponto isso é realmente verdade? Será que não existe nenhum contraponto à euforia generalizada? A Copa dá retorno mesmo? Até onde vale a pena o investimento?
É quase consenso entre economistas que os benefícios da Copa do Mundo são superestimados. A chance de o impacto ser negativo é de 60%. Quando os EUA foram escolhidos como sede em 94, a estimativa era que ganhassem cerca de US$ 4 bilhões. Pesquisas realizadas após o evento estimam um prejuízo acumulado superior a US$ 9 bilhões. A Copa de 2002 não gerou o retorno previsto. Em 2006, por sua vez, o setor hoteleiro alemão teve uma redução de 2,7%. Existem, portanto, evidências de que é necessária cautela quanto ao real benefício produzido pelo evento.
A exposição das cidades brasileiras, por exemplo, pode ter um lado nefasto. Ao mesmo tempo em que o mundo poderá ver aquilo que temos de bom, ele também verá as mazelas que encaramos diariamente, como desigualdade social, insegurança, desorganização e corrupção.
O fluxo de capital dos turistas, por sua vez, ficará bastante concentrado nas mãos da Fifa. Mais de 90% da receita dela vem da comercialização de eventos, e a Copa é a sua principal propriedade. A FIFA fará o possível para evitar que terceiros lucrem com um produto que é seu e dos seus patrocinadores.
A melhoria da estrutura esportiva, por fim, também pode ter o seu benefício superestimado. Curitiba não é uma cidade com cultura futebolística local muito desenvolvida, e o aumento da oferta de estrutura para uma demanda historicamente baixa pode afetar o desenvolvimento da indústria do futebol local no longo prazo.
A Copa do Mundo trará benefícios para a população, principalmente por dar a Curitiba seus 15 minutos de fama mundial e, consequentemente, fortalecer o orgulho de seus cidadãos. Mas é preciso ter cautela e saber dos riscos envolvidos. A euforia não pode afetar o raciocínio lógico. Ou daqui cinco anos poderemos acordar com uma baita dor de cabeça.
* Oliver Seitz é pesquisador do grupo de Indústria do Futebol da Universidade de Liverpool, na Inglaterra.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
A gestão pública, um pouco menos engessada
Deixe sua opinião