Emanuel privou-se à toa da companhia dos amigos quando entrou no cursinho. Se soubesse que a almejada faculdade de Medicina seria trocada pela paixão pelo vôlei, teria estudado na mesma turma de velhos conhecidos ao invés de escolher decorar sozinho fórmulas e mais fórmulas para o vestibular no começo dos anos 90.
"Não quis ficar com a gente para não atrapalharmos. Ele era extremamente cdf", contam e se divertem os amigos de quadra e de colégio do atleta mais vitorioso do vôlei de praia mundial. Parte dos companheiros do início da carreira do jogador estarão hoje, às 15h30, no Círculo Militar para um jogo festivo.
O grupo de trintões dominou as categorias de base do vôlei em Curitiba na década de 90. Aos poucos, eles foram substituindo saques e cortadas por diplomas, família e trabalho, enquanto viam o franzino Emanuel chegar cada vez mais longe na modalidade.
À época, os mais velhos caçoavam do esforço daquele jogador magrinho: era muita vontade para poucos músculos. "Tanto que ele ganhou o apelido de Espeto", conta Clésio Prado, seu primeiro companheiro na praia e chamado de Graveto, o que excluía, irremediavelmente, o adjetivo "dupla de peso" daquela parceria.
Zombar dos novatos era praxe e ninguém escapava. Outro alvo dos "veteranos de 15 anos" era Giba. "Ele jogava bem na categoria dele, mas quando treinava conosco falávamos que era muito ruim", relembra André Mattos, hoje técnico de vôlei, sobre o atacante ícone da seleção brasileira de Bernardinho.
Entre os remanescentes, tanto Clésio como André são os que permaneceram mais próximos do esporte. André segue à beira da quadra e Clésio, ainda ontem, disputava os Jogos Abertos de Maringá. Pouco a quem foi o primeiro paranaense a ser convocado pela seleção brasileira. "Ele tinha muito talento mesmo", conta o técnico Emílio Trautwein.
A impossibilidade de sobreviver do esporte levou a maioria dos amigos presentes no jogo de hoje a seguir caminhos diferentes. Engenheiros, profissionais liberais e médicos que esta tarde testarão a técnica adquirida num tempo onde a amizade era mais valiosa do que os resultados.
"Dentro de quadra até havia bastante rivalidade. Curitibano e Círculo Militar, por exemplo, era como um Atletiba. Mas depois saíamos todos juntos", conta Rafael Pazello, de 33 anos. Ginecologista, obstetra e amigo de Emanuel desde a pré-escola, ele defende a carreira escolhida pelo heptacampeão mundial. "Tenho certeza de que seria um grande pediatra, pois foi sempre muito dedicado. Mas ganharia bem menos", brinca.
Emanuel começou ganhando pouco. O primeiro contrato foi assinado em BTN (Bônus do Tesouro Nacional) com a prefeitura de Ponta Grossa, algo em torno de R$ 200. Lá, eles montaram uma equipe quase imbatível para representar a cidade. Foi o primeiro salário de Emanuel e o único para metade daquele time que logo largaria o esporte para se dedicar às carreiras.
"Lembro como um tempo inesquecível que trouxe valores importantes à vida de todos", avalia Paulo Franciscon, ex-atacante de ponta e hoje agropecuarista em Apucarana.
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