Há exatos sete anos, estávamos nós da Gazeta do Povo (Trovão, Valterci, Lílian e eu), afivelando as malas para voltar de Sydney. Havia um clima de satisfação pelo trabalho realizado, mas também de decepção pelas 12 minguadas medalhas conquistadas pelo Brasil na Olimpíada.
Tínhamos um turbilhão de informações que acabou se condensando num episódio que marcou muito. Depois de perder a medalha de bronze no futebol feminino para a Alemanha, também por 2x0, as jogadoras desabafaram.
Sissi, Andréia, Roseli e outras, estavam indignadas com a CBF. Os cartolas apostaram todas as fichas para ganhar a medalha de ouro no futebol masculino, mas o Brasil foi eliminado por Gana. Eles então correram para, com o marmitex explodindo de dólares, alimentar as bóias-frias do futebol feminino, que ainda estava no páreo.
O bicho individual para a seleção masculina ganhar o ouro seria de 50 mil dólares. Como a outra seleção era de mulheres, o valor foi barganhado para cinco mil, e a moeda cambiada para real. A seleção feminina perdeu a semifinal para os EUA (1x0), e recebeu uma contra oferta para arrebatar a medalha de bronze: três mil reais...
Assim é tratado o futebol feminino no Brasil. E a tal Liga Feminina, não passa de imaginação erótica na cabeça de freqüentadores de sex-shop. "Um time forte, num país sem Liga Nacional, é vergonhoso e inadmissível, apesar de ter uma das maiores torcidas do planeta", disse Wang Lei, jornalista que conheci na Copa da Alemanha e que trabalha para o Titan Sports Beijing.
Mas estas preciosas mulheres conquistaram a China, mesmo perdendo o jogo final. Sabemos que a marcha foi, é e será longa. As nossas amazonas ainda fazem esta marcha por um ideal, que foi cassado durante a ditadura militar de 64. O esporte "rude" virou crime, pois "é um acinte à estética feminina", diziam os moralistas da época.
Hoje, 1.º de outubro, a China comemora a criação da República Popular. Creio que a concentração está sendo comemorada na Praça da Paz Celestial, onde ao lado da gigantesca cara de Mao, um telão deveria congelar o rosto miúdo da goleadora, melhor da Copa e melhor do mundo, Marta. Uma mulher do bem.
Edson Militão - Edson Militão é jornalista
Deixe sua opinião