Clássico inspira camisas 10
Carlinhos Paraíba e Ferreira já sentiram o gosto de decidir um Atletiba. Foi a partir de um petardo do seu camisa 10 que o Coritiba abriu o caminho para o título estadual do ano passado. E foi com uma matada precisa e um chute no canto do seu camisa 10 que o Atlético venceu o primeiro clássico de 2008. Inspiração suficiente para dois jogadores que precisam render mais nesta temporada.
Ferreira é veterano de Atletiba. Disputou seis, venceu três, empatou outros três. No dia 20 de janeiro de 2008, abriu o placar na vitória por 2 a 0, no Couto. "Fiz um gol muito bonito. Seria muito bom fazer um gol e conquistar a vitória. Mas o importante é o Atlético ganhar", comenta o colombiano, que poucas semanas depois daquele gol foi para o Oriente Médio.
Na volta, Ferreira teve poucos momentos de brilho. Um deles, justamente contra o rival, na Arena, dando início à jogada do pênalti convertido por Alan Bahia no empate por 1 a 1. Lampejos suficientes para manter elevada a confiança de Geninho em seu futebol.
Paraíba ainda tenta adquirir esse crédito com Ivo Wortmann. As suas atuações neste início do ano tornaram incerta sua escalação para o clássico. Se for mantido como titular, já sabe onde buscar referência para recuperar o ótimo futebol do primeiro semestre de 2008. "Foi o melhor Atletiba que eu fiz (2 a 0 no Couto, dia 27/4). Apesar de ser campeão na Baixada que foi muito bom, o melhor foi no Couto, não só pelo gol marcado, mas pela jogada, que não esqueço pela beleza."
Um novo retrato do Atletiba. As cores, os traços marcantes como os lances do clássico traduzidos pela arte das ruas. A convite da Gazeta do Povo, dois grafiteiros, ou oficialmente escritores de grafite, deram forma ao tradicional duelo paranaense.
Tema praticamente desprezado pelos sprays, a possibilidade inédita de mostrar o futebol instigou os artistas Michael Davis e Felipe Kees. O primeiro, por ser torcedor do Coritiba, o outro, pela possibilidade de imprimir no muro a emoção e o movimento do esporte.
"Nunca teríamos escolhido fazer um desenho como esse", confessa Kees, tatuador e com 8 anos de experiência no grafite, do italiano graffiti, marca ou inscrição feita em um muro ainda no Império Romano.
Já classificado como pichação, o grafite duela com rótulos. "Comum passarem xingando a gente, chamando de vagabundo, sermos abordados pela polícia", conta Devis, que compara o preconceito ao sofrido por torcidas organizadas: "Nem todos são ruins, baderneiros".
Há 11 anos com as latas de tinta na mão e recém-chegado do Japão, ele grafitou em vários países, atendeu empresas como Nike, Toyota e Panasonic e chegou a ser contratado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para pintar um viaduto sobre biodiversidade no Largo da Ordem. Em janeiro, a dupla, ao lado de Wagner Now, fez um painel na Travessa da Lapa.
Entre os moradores da periferia, onde o grafite surge em várias esquinas, a técnica é bem vista. Enquanto imprimiam no cimento detalhes de Atlético e Coritiba, Devis e Kees foram convidados para três trabalhos e ainda tiveram um espaço oferecido para um novo desenho por uma moradora vizinha.
"Acho muito bonito. Já pintaram uma vez e agora fizeram um belo desenho, é uma arte", definiu o motorista de ônibus Aparecido Carlos Nogueira Filho, de 58 anos, que emprestou o muro da sua casa na Avenida dos Pioneiros, Alto Boqueirão, para os escritores.
"Essa é a minha área, aqui somos reconhecidos e temos respeito. Muitos começam a pintar por causa disso, para não serem mais um nas estatísticas, para mostrar que são alguém", explica Kees.
Fazer um rolê, como eles denominam a confecção de um desenho, os aproxima da realidade de regiões carentes da cidade. "Trabalhar na rua tem o lado bom e ruim. Temos a inspiração, mas também vemos coisas tristes, como crianças nas ruas, drogas, problemas sociais", comenta Devis. "Mas é a melhor faculdade de todas, a faculdade da rua", completa Kees.
Na representação do Atletiba, eles misturaram um pouco da imagem de videogame para retratar a arquibancada, mostraram detalhes de um estádio e ainda um pouco dos campinhos de terra da periferia onde os torcedores boleiros sempre revivem a rivalidade de seus times.
Ao som de muito rap no mp3 player, mas com direito até a Édith Piaf, eles levaram quatro horas para finalizar o grafite. Vinte cores, vinte dois tubos de tinta (contando o total do material) e sete técnicas diferentes (pincel, cuspida, recorte, plastiquinho, fat cap, sombreamento e rabisco) depois, o Atletiba ganhou novo cenário e expressão.