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Valmor Zimermann ao lado do mascote do Atlético estilizado com sua caricatura. Dirigente se confunde com o clube que ama. Na foto abaixo, ele incorpora o personagem | Walter Alves/ Gazeta do Povo
Valmor Zimermann ao lado do mascote do Atlético estilizado com sua caricatura. Dirigente se confunde com o clube que ama. Na foto abaixo, ele incorpora o personagem| Foto: Walter Alves/ Gazeta do Povo

No retorno dele ao Atlético, em julho, não foram poucos os que comentaram: "Valmor Zimer­­mann? Mas ele não está meio ultrapassado?". A recuperação do Furacão no Brasileiro pós-Copa do Mundo responde. E o dirigente, hoje, diante deste tipo de observação, elimina qualquer dúvida: "Eu sou mesmo um cartola à moda antiga".

Autoavaliação que, inclusive, enfeita a antessala do apartamento de Zimermann, em Curitiba. Entre as camisas do Rubro-Negro e do Brasil – ambas autografadas – está um desenho do dono da casa encarnando o Cartolinha, ex-mascote atleticano. Ao lado, uma foto registra cena idêntica: o então presidente do clube veste fraque, cartola e a faixa de campeão paranaense de 1988.

"Seu" Valmor, como é comumente chamado no CT do Caju, é do tempo em que se levava boleiro para jantar logo após as partidas. De quando meter a mão no bolso para quitar as contas atrasadas era tormento rotineiro – práticas impensáveis atualmente. "Hoje são outros tempos, mudou muito. Mas posso dizer que eu consegui me adaptar bem", diz o empresário, 67 anos, natural de Xanxerê, em Santa Catarina.

Companheiro de dia a dia no Atlético, o gerente de futebol Oci­­mar Bolicenho indica o motivo provável do sucesso do colega. "Ele tem um carisma positivo espetacular. Todos têm a mesma opinião sobre o Valmor. E isso su­­pera qualquer possível falta de atualização. O que nem é o caso".

A relação de Zimermann com o Furacão começou pelas ondas do rádio, ainda em Francisco Beltrão, onde morou. "Eu e alguns amigos acabamos escolhendo o Atlético, sem muita explicação".

Já em Curitiba, a paixão alcançou as arquibancadas e, em 1973, tornou-se ainda mais próxima. "Li em um jornal que o clube não havia treinado por não ter uniformes limpos. Decidi contribuir".

Dessa preocupação nasceu a Retaguarda Atleticana – aliás, o nome do grupo diz muito sobre o seu criador, sempre atuante nos bastidores, despido de vaidade. "No início, nós ajudávamos financeiramente. Depois, fomos, naturalmente, nos tornando diretores". Participaram também Valdo Zanetti, Samir Lobato Machado, Celso Gusso, Airton Galina e al­­guém que, anos mais tarde, revolucionaria o Furacão: Mário Celso Petraglia.

"Eu trouxe o Mário para dentro do Atlético, como diretor financeiro, em 1984", lembra Zimer­­mann. A essa altura, ele sentava na cadeira de presidente, função que ocupou até 85 e voltou a exercer no biênio 87/88. Período de dois títulos estaduais e, especialmente, saneamento nas contas. "Posso dizer que nunca deixei faltar nada ou atrasar salários".

Jogador da época, o agora procurador Carlinhos Sabiá confirma: "Eu tive diversas passagens pelo clube e não era brincadeira. Posso dizer que somente no tempo do Seu Valmor nós recebíamos normalmente. Tenho muito carinho por ele, é um amigo sensacional".

Do ex-ponta-direita, Zimer­­mann lembra da final com o Pi­­nheiros em 88. Bastava Carlinhos acertar o pênalti para o caneco ir rumo à Baixada. Não foi o que aconteceu, e o jogador deixou o gramado do Pinheirão chorando copiosamente. "Eu o levei para jan­­tar em um hotel na Boca Mal­­dita e falei ‘você é o nosso craque, vai ser decisivo’". No terceiro confronto, Carlinhos passou para Manguinha anotar o gol da conquista rubro-negra.

Depois da segunda presidência, ele tentou livrar-se dos problemas do Atlético, aparentemente infindáveis. Chegou a raspar o bigode na tentativa de ficar "irreconhecível". Em vão. Na metade da década de 90, mesmo sem a marca-registrada, participou das obras da reinauguração do Joaquim Américo e, mais tarde, compôs o colegiado responsável por tocar o Furacão. Em 2001, no título nacional, marcou presença como supervisor da bola.

Um ano depois veio o afastamento da diretoria em virtude de um câncer no estômago. En­­tretanto, o contato como torcedor permaneceu e foi fundamental para um novo retorno, nesta temporada. "Eu via todo ano o time brigando para não ser rebaixado, isso me deixava agoniado. Até que recebi o convite em um jantar, tinha tomado vinho demais e acabei aceitando", revela, rindo.

Porém, desta vez, ele garante que encerra sua participação. Quer dedicar-se mais à família e à pescaria, seu grande hobby. A ajuda na montagem da equipe que se recuperou na competição, além dos ajustes para 2011, serão as últimas lembranças. "Eu gostaria de entrar para a história como um cara sincero, que fala o que pensa, na frente das pessoas. O que eu me dispus a fazer, eu fiz. Nada de excepcional".

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