A torcida do Coritiba, a partir desta quarta-feira (4), tem o reforço de uma voz de peso. Cinquenta e nove dias depois do emocional jogo de despedida contra o Bahia, Alex volta ao Couto Pereira esta noite como torcedor. Ficará nas sociais do estádio, como costumava fazer durante as férias do Fenerbahçe. Porém com um peso muito maior que o de antes.
Os dois anos jogando pelo clube reforçaram a idolatria da torcida por ele e o envolvimento com a montagem do plano de gestão da nova diretoria fizeram dele um ator importante no futuro alviverde. Foi com a noção exata deste status que Alex conversou com a Gazeta do Povo por 36 minutos, sexta-feira, em uma padaria de Curitiba.
Falou da vida de jogador aposentado, relembrou as emoções e brigas do último ano de jogador e já lançou um alerta para os novos administradores do clube, que já nas primeiras contratações fugiram da filosofia discutida com o ídolo coxa-branca.
Já se sente um ex-jogador?
Já. Até o momento, tranquilo. Fui brincar uma pelada esses dias. Fui lá e brinquei com os caras igual a um ex-jogador mesmo. Os caras me chamaram para 50 peladas e joguei duas. Não sinto falta de treinar. Não tive nem um pequeno pensamento que me colocasse em Atibaia treinando.
Como será a sua rotina de torcedor?
Vou para o lugar em que sempre assisto aos jogos desde que conheci minha mulher, nas sociais. A diferença é que vou ver mais jogos, hoje tenho uma expectativa diferente. Quero ver como vão receber o Vaná no gol. Como ele vai se posicionar como número 1 do time. Nos dois últimos anos a atuação dele nos bastidores foi muito importante.
Nestes dois últimos anos, nas dificuldades, o Coritiba sempre tinha você como referência técnica, de liderança. Como o time vai se virar sem essas referências?
Em 2012, quando cheguei, o time tinha três referências técnicas: Everton Ribeiro, Rafinha e Deivid. E lideranças absolutas no vestiário: Willian, Deivid, Lincoln, Vanderlei. Em 2013 e 14, o Robinho cresceu muito, atingiu o espaço dele. É um time novo. Jogador ganha jogo. Os que ganhavam jogos saíram. Vai ter de procurar dentro desse time jogador que ganha jogo. Pode aparecer o Rafhael Lucas, que sempre foi goleador na base. O próprio Keirrison se jogar mais. Esses novos que chegaram. Com o tempo a gente vai ter a ideia de quem vai ser a liderança, de quem ganha jogo, de quem vai ser decisivo.
O primeiro jogo em casa é com o Maringá, adversário na eliminação do Paranaense do ano passado. Você decidiu parar já naquele jogo mesmo?
Ano passado eu decidi parar duas vezes. Uma foi esse jogo do Maringá. O ambiente não era decisão, estava pesado, pouca gente no estádio. Muita gente fala que tem de ganhar estadual, mas em um jogo como aquele não tinha torcedor no estádio. Eu pensava o seguinte: "Eu paro hoje, provavelmente o Dado vá cair, porque Estadual só serve pra derrubar treinador, e o novo treinador vai ter tempo até o Brasileiro para montar o time sem a minha presença. Talvez seja o momento".
Anunciei a coletiva na segunda e a ideia era parar imediatamente. Só que aí tive um problema com o Felipe [filho do ídolo, de 4 anos] na minha casa. O moleque ficou três dias sem falar comigo. Alguns jogadores - Robinho, Keirrison, Vaná, Julio Cesar, Ivan, um grupo de lideranças - marcaram o almoço, conversaram comigo e acabei refletindo.
E a conversa final foi com o Tcheco, que falou para eu esquecer o Coritiba e imaginar coisas boas para mim: jogar no Mineirão e ser aplaudido; jogar no Palestra e ser aplaudido; jogar o último Atletiba.
A outra foi o Atletiba de Maringá, que talvez em mais de mil de jogos, tenha sido um dos mais melancólicos que eu fiz. Foi em um lugar sem referência nenhuma do futebol da capital. Tinha mil pessoas no estádio, se tanto. Um jogo ridículo, horrível, que não saía mais de três passes seguidos.
Ano passado você jogou, brigou por salário e participou da política do clube, tudo ao mesmo tempo. Como foi conciliar tantas frentes?No início do ano passado o Ricardo Guerra me ligou e disse: "Tenho a ideia de ser presidente, montar um G5 forte e preciso da tua imagem e tua força para ajudar. Vem comigo?". Eu falei: "Vou. Encerro e vou contigo. A única coisa que eu não quero é participar inicialmente da mudança do elenco, pois os caras são meus amigos e vai haver choque".
Foi engraçado que agora no começo do ano o [vice-presidente André] Macias me ligou para falar com o Robinho e o Robinho me ligou para eu falar com a diretoria. Até falei: "Robinho, agora você está entendendo por que falei que não seria diretor de nada? Você é meu amigo, mas eu seria funcionário do clube e teria de defender os interesses do clube".
A coisa seguiu e em um dado momento, que eu acho que o Ricardo errou, ele anunciou que não seria mais candidato a presidente. Ali, eu recuo. Se ele não quer mais, eu também não vou. Fiquei desestimulado. E agora, quem vai ser o presidente? Até aquele momento tínhamos conversado várias vezes eu, o Guerra, o Paulo Autuori, o João Paulo Medina e o Marcelo Almeida, que talvez seria do G5, mas acabou não saindo.
Conversamos a respeito de filosofia, o que seria bom para o Coritiba. Eu treinava, jogava e minha participação como capitão era brigar pelo meu vestiário. Ninguém aceitava e era situação muito ruim para nós porque o Vilson [Ribeiro de Andrade, presidente] ia para a imprensa e se colocava como se estivesse tudo em dia.
Os caras chegaram em um momento de estar na concentração e ver o Vilson falando na TV de gestão temerária, responsabilidade fiscal e ele fazendo as mesmas coisas aqui. Ele passava para o grande público uma imagem que não era real. A situação só ficou exposta para a maioria quando peitamos com a faixa no Atletiba. "Ah, o Alex fez a faixa!". Não fiz. Chegou um momento que falei: "Não dou mais ideia nenhuma. Se quiser fazer qualquer tipo de ação, eu vou junto".
Surgiu a ideia da faixa e era um período tão ruim A faixa custou R$ 1,5 mil e ninguém tinha dinheiro para fazer. O Julio Cesar dava carona para dois, três porque tinha de economizar o dinheiro do combustível, então o pessoal começou a fazer mutirão. A minha participação foi comprar a faixa e mandar um funcionário meu buscar.
Eu também não tive nada a ver com a carta. Era um problema de nove jogadores que tinham imagem e estava atrasado. Eu falei: "Tem nove atrasados. Nós, da CLT, vamos juntos ou assistimos? Mas tem o seguinte: um dia pode ser nós. Então é o que vai doer em um vai doer em todos ou temos cada um defendendo o seu?"
A carta antes de ser exposta foi para o Vilson e choveu retaliação de empresário dizendo que os mais novos foram coagidos. Até brinquei com o Paulo Otávio, o mais novo, se ele tinha sido coagido. Não quer assinar a folha, não assina. Como capitão, só me posicionei.
Não tenho nada contra o Vilson. Respeito as vitórias dele, as coisas boas. Mas naquele jogo do Criciúma ele perdeu a mão e os caras ficaram putos [o presidente cobrou vergonha na cara dos jogadores em entrevista após a derrota por 2 a 1, em casa].
No jogo do Figueirense, "nêgo" queria matar. Torcida no alambrado gritando; "Bando de filho da puta, mercenário, tudo em dia e toma quatro do Figueirense!". O que não era verdade. Se fosse verdade, já estava errado. Você não é mercenário por receber seu salário.
Vocês tinham a noção de que, com a faixa, era proibido perder aquele Atletiba?Total. Quando inventaram a faixa, isso era quarta-feira antes do jogo, foi falado todos os dias. Na sexta pela manhã o Vilson foi no vestiário e talvez tenha sido outro erro dele. A esposa do Robinho tinha feito uma curetagem, perdido uma gravidez, então o clima estava meio baixo. O Vilson entrou, não cumprimentou ninguém e veio direto em mim, me puxou para o lado. Falou alguma coisa da Lei Responsabilidade Fiscal e que queria falar com o time. Eu disse: "Você é o presidente". Ele foi lá. Falou "estamos junto, apoiando" e saiu. O Marquinhos nos levou para o vídeo e ele também não sabia da faixa. Assistimos ao vídeo e pedi mais dez minutos para discutir dois assuntos com o grupo antes de ir para o campo. Falei que o pessoal da torcida queria ir no hotel conversar com alguns jogadores, dar apoio, fazer entender o peso do clássico. Todo mundo respondeu: "Sem problema. A hora que quiserem ir, a gente recebe". A outra é que o presidente falou que vai pagar, só não sabe quando. Perguntei se tinha uma data, um momento só para a gente poder se organizar, mas ele respondeu: "Alex, não tenho". Virei para o grupo e perguntei: "E aí? A faixa está comigo. Mantém? Acredita no presidente?" E todo mundo: "Não, mantém. E bom que é o Atletiba. Vamos expor a situação e atropelar o Atlético. Toca o pau."
Tínhamos a consciência de que era uma merda enorme que a gente estava comprando. Acabou que o Hélder fez um puta golaço. Mas estava foda.
O Vilson disse que perdeu a eleição para o Alex e a Império? Você assume esse peso?Não. Eu não dou esse peso para mim. Muita gente falou que a entrevista que eu dei na Transamérica a dois dias da eleição fez a balança pender. Eu não inventei nada. Só contei fatos que explicavam por que o grupo não tinha relação com o presidente. Eu não entro na parte administrativa. O presidente nos devia três meses de salário. Eu hoje sou ex-jogador e o último salário que recebi foi setembro. Fundo de garantia não é depositado desde junho. Conversando com o Lincoln, ele falou que não recebe do Coritiba há 20 meses. Não sou eu. A gestão era do Vilson. Quando ele fala da Império, talvez seja. O novo conselho tem uma turma ligada à torcida.
Mas todas as conversas que eu tive com o Reimackler [Graboski, presidente da organizada], ele sempre se posicionou a favor do Vilson. Disse que tinha uma relação de carinho, de amizade, de gratidão com ele. Não sei o peso que o Reimackler tinha dentro da torcida.
Você pode até não te dar esse peso, mas tudo o que você fala no Coritiba tem peso. Você tem noção disso? Vai frear a língua?
Claro, tenho essa noção. As pessoas confundem que o que eu falo é direcionado às pessoas. Jamais fiz isso. Eu gosto de falar de conceito. Falei com o Guerra e o Macias. Não vou criticar porque a gestão tem um mês, mas começaram fugindo do que a gente conversava antes. Nem conheço o cara, mas quando traz o Rodolfo e joga o Dudu e o Zé Rafael para o lado, foge do que a gente conversava, da filosofia de jogar o prata da casa. O Rodolfo tem a idade deles. Vai trabalhar um cara que não é nosso preterindo o Dudu e o Zé?. O João Paulo é um jogador que o Atlético não usaria. Provavelmente tem salário maior do que o Coritiba imaginaria pagar para qualquer outro, joga na posição de volante e o Coritiba deve ter dois, três caras no time do Tcheco.
Isso é fuga da filosofia que a gente conversava. Podem alegar que é ano de transição, mas você assina com o Negueba por dois anos. É o mesmo processo que eu estou contando do Dudu e do Zé Rafael. Provavelmente tem jogador com característica parecida, da mesma idade e que seja nosso. Essa que conversamos muito lá atrás. Por isso que todo mundo que vem me perguntar eu falo que vou torcer para o Medina. Para que ele tenha força suficiente para suportar a pressão diária e fazer o trabalho dele.
Medina quer você trabalhando com ele. Vai topar?
Ele quer que eu vá com ele e eu estou recusando uma atrás da outra por causa disso. Meu modo de ser, a maneira de colocar as coisas, nesses dois casos já daria atrito. Rodolfo é melhor? Não sei. Dudu e Zé são nossos. João Paulo é melhor que o Ícaro? Talvez seja, mas não devolve nada além da parte técnica. Se é isso que esse Coritiba deseja, ótimo. Mas a gente conversava de fazer isso de apostar na base, senão quebra. Não tinha de estar falando do Luccas Claro. Ele já tinha de ter ido embora. Tinha de falar do Ceará para substituir o Bonfim. Não tinha de estar lamentando a saída do Leandro Almeida, mas imaginando outro beque. Como não tem filosofia, lamenta a saída de um, de outro. Converso com o Medina uma vez por semana "e aí professor, como está, cabeça boa?". O grande trabalho do Medina não vai aparecer esse ano. Vai aparecer em 2018, 2019. A pergunta é se vai sustentar e o lado de fora entender.
O que é mais difícil: a diretoria bancar ou a torcida entender?
Posso falar da torcida. Se jogar às claras, dá para entender. Não conheço o [Ernesto] Pedroso, não conheço o Giba [Gilberto Griebler]. Conheço pouquinho do presidente. Conheço o Guerra e o Macias, sei mais ou menos o que eles pensam. Mas são cinco, não sei como é a troca de ideias dos caras, o embate diário. Essa que eu te falei da filosofia. Da base não dá pra por para jogar, mas pode por da base do outro? Não sei como é entre eles. O torcedor, se jogar às claras, talvez a paciência aconteça. Assim, o Coritiba vai brigar pelo Paranaense e vai brigar igual no Brasileiro. A grande diferença é achar quem ganhe jogo. Nos últimos anos sempre teve quatro ou cinco que ganhavam e vai ter que achar no time atual.
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