Berlim A Itália jogou como sempre, mas teve de vencer antigos medos para conquistar a Copa do Mundo pela quarta vez. Na base da garra, mantendo uma defesa sólida e sem se aventurar no ataque, a Azzurra segurou o empate por 1 a 1 com a França, ontem, em Berlim, e levou sua sorte para os pênaltis. Sinônimo de sofrimento para a equipe, que havia perdido em todas as três ocasiões em que se defrontou com os tiros livres, as cobranças desta vez garantiram a volta olímpica dos comandados de Marcello Lippi. Sem sustos: 5 a 3.
A façanha ainda exorcizou um fantasma carregado por 12 anos. Em 1994, ano de sua última final antes do Mundial da Alemanha, a Itália cedeu a taça Fifa para o Brasil em uma cobrança errada de Roberto Baggio. A bola subindo sob o olhar desolado do então camisa 10 marcou a história das Copas. Somente nessas ocasiões o melhor time do planeta foi conhecido nas penalidades.
Apostando alto em montar um grupo unido, o técnico italiano soube mexer com o emocional de seus jogadores. Usou o escândalo de corrupção no futebol do país para criar um ambiente de entrega total. E conseguiu. Dos 12 gols marcados pelo time nas sete partidas disputadas, apenas Luca Toni e Materazzi fizeram dois. Outros oito atletas contribuíram uma vez cada. Juntos, os 23 convocados de Lippi aumentaram a série invicta da seleção para 24 jogos. São 14 vitórias e 10 empates.
A França, que nunca havia perdido uma decisão jogou outras cinco: a Copa do Mundo de 1998, as Eurocopas de 1984 e 2000 e as Copas das Confederações de 2001 e 2003 , mostrou futebol mais leve, procurando o toque de bola e pressionando no campo adversário. Sem pontaria e sem o astro Zidane, expulso aos 5 minutos do segundo tempo da prorrogação, por agressão, em sua última partida como profissional, capitulou nos pênaltis.
O primeiro tempo foi muito equilibrado. Um gol para cada lado, três chutes a gol e duas bolas que acertaram o alvo. Logo no primeiro lance, o placar foi aberto. Materazzi deu combate a Malouda dentro da área, tentou evitar o contato, mas na queda do francês o árbitro marcou a penalidade máxima. Zidane, que entrara em campo com olhar fixo, rosto fechado e a bola embaixo do braço, fez seu último gol no minuto seguinte.
Bateu de maneira arriscada, dando um toque sutil por baixo da bola lance conhecido na Europa como Banenka, em referência a um jogador tcheco que usou essa técnica na final da Euro-76. A redonda bateu no travessão e entrou. Com isso, Zidane se tornou o terceiro jogador da história a marcar gols em duas finais de Copa do Mundo, se igualando a Pelé (58 e 70), Vavá (58 e 62) e Paul Breitner (74 e 82). O empate saiu em escanteio escorado de cabeçada por Materazzi, aos 19 minutos, depois de rara pressão italiana.
Na etapa final e na prorrogação, a França se lançou à frente. Chutou bastante, acertou pouco e pagou o preço na decisão por pênaltis. A trave parou o chute de Trezeguet, o segundo dos Bleus. Precisos nas cobranças, os italianos comemoraram o quarto título mundial. Agora, estão de novo na cola do Brasil, que carrega cinco estrelas no peito.
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Em BerlimItália 1 x 1 França (nas penalidades: 5 x 3)
ItáliaBuffon; Zambrotta, Cannavaro, Materazzi e Grosso; Gattuso, Pirlo, Perrotta (De Rossi) e Camoranesi (Del Piero); Totti (Iaquinta) e Luca Toni. Técnico: Marcello Lippi.
FrançaBarthez; Sagnol, Gallas, Thuram e Abidal; Makelele, Vieira (Diarra), Zidane, Ribéry (Trezeguet) e Malouda; Henry (Wiltord). Técnico: Raymond Domenech.
Estádio: Olímpico. Árbitro: Horacio Elizondo (ARG). Gols: Zidane (F), aos 7, e Materazzi (I), aos 19 do 1.º tempo. Cartões amarelos: Zambrotta (I), Sagnol, Diarra e Malouda (F) Cartão vermelho: Zidane (F)