Marcelo Vilhena é mestre em Educação Física e vai comandar os garotos atleticanos no Estadual| Foto: Brunno Covello/ Gazeta do Povo

Estreia

Com terceiro sub-23, Atlético desafia jejum de 5 anos no estado

Eduardo Luiz Klisiewicz

Pela terceira temporada seguida, o Atlético aposta no time sub-23 para encerrar um jejum de cinco anos sem título no Campeonato Paranaense.

O time da estreia, em Cascavel, tem a cara do projeto rubro-negro. Mescla garotos promovidos da base, remanescentes de estaduais anteriores e atletas que estiveram emprestados para clubes de outros estados e países.

Companheiro de Douglas Coutinho no ataque de 2013, Júnior de Barros é a esperança de gols da torcida. "Curado" de problemas comportamentais, ele retornou ao CT do Caju após aval do Departamento de Inteligência e Formação (DIF) com contrato de três anos.

Quatro jogadores já tiveram chances no time principal: Mario Sérgio, Ricardo Silva, Matteus e Zé Paulo. Héracles é o mais famoso do grupo. Foi vice-campeão em 2012 e 2013. Bruno Pelissari e Gustavo Marmentini tiveram boas atuações na Liga Indiana de Futebol e recebem a oportunidade de tentar uma vaga no time de cima.

No Cascavel Jorge Preá (ex-Atlético) e Henrique Dias (destaque no Paraná e Coritiba) formarão a dupla de ataque. Paulo Foiani aposta na base do time que empatou em 1 a 1 durante a preparação para o Paranaense. Será a estreia do clube do Oeste na primeira divisão estadual.

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Chamar o técnico de "professor" nunca foi tão adequado. A gíria usada pelos boleiros para se dirigir respeitosamente ao treinador serve como uma luva para Marcelo Vilhena. O comandante do time sub-23 do Atlético neste Paranaense tem um vasto passado acadêmico.

Mestre em Educação Física com ênfase em treinamento esportivo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), título conseguido em 2007, foi professor universitário na Gama Filho, onde lecionava a disciplina "Futebol nas categorias de base". Na PUCMG coordenava o curso de qualificação de treinadores.

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"Ele é extremamente responsável, comprometido e dedicado ao trabalho", elogia o argentino naturalizado brasileiro Pablo Juan Greco, professor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG. Greco foi o orientador da dissertação de mestrado de Vilhena, intitulada "Processo de Ensino-Aprendizagem-Treinamento no Futsal: Influência no Conhecimento Tático Processual".

Para leigos, é quase impossível decifrar o trabalho de 208 páginas. Resumindo, Vilhena analisou os métodos de ensino e treinamento de seis equipes de futsal nas categorias pré-mirim e mirim. O objetivo era investigar a evolução do conhecimento tático dos garotos. Dois temas – tática e aprendizagem – que são caros a Vilhena e que dão pistas do que o torcedor atleticano pode esperar na competição estadual.

"Um time de toque de bola e que vai lutar por manter a posse o maior tempo possível", afirma Greco. Segundo ele, as principais referências táticas de seu pupilo são técnicos que trabalham no futebol inglês: José Mourinho (Chelsea), Arsène Wenger (Arsenal), Louis van Gaal (Manchester United), Alex Ferguson (aposentado) e, para variar, Pep Guardiola (Bayern de Munique).

"Ele tem uma visão tática muito boa e trabalha com os mais novos conceitos da área, como análise dos dados de jogo. Cobra muito compromisso tático e não apenas a parte técnica. Com ele não adianta só saber chutar a bola", conta Greco.

O meia William Sotto e o zagueiro Erwin, atletas que jogaram nas categorias de base do Atlético sob o comando de Vilhena e que vão disputar o Paranaense pelo Foz do Iguaçu, concordam com Greco. "Ele é um treinador jovem e moderno, que estuda bastante e faz bastante treino tático", diz Erwin. "Ele é um cara calmo, tranquilo, fácil de lidar, mas não faz vista grossa para coisa errada", relata Willian Sotto.

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A tranquilidade mineira de Vilhena, nascido em Belo Horizonte, é uma das suas principais características. "Ele gosta de conversar bastante", diz Erwin. "Na mão dele, esse elenco do Atlético tem tudo para evoluir."

Religioso – em sua dissertação, o primeiro agradecimento é para "Deus, meu Senhor", e o último para a Igreja Batista –, Vilhena não deixa de estudar. Em breve deve ganhar um novo título: doutor em Ciências do Esporte, também pela UFMG.

Henrique Dias revê passado de sucesso

O atacante Henrique Dias passou os melhores momentos de sua carreira em gramados paranaenses. No Coritiba, fez o gol que garantiu o título do clube na Série B de 2007, e, no ano seguinte, o do título paranaense, em plena Arena da Baixada, contra o Atlético.

Também está marcado na história do Paraná. Foi o autor do primeiro gol do Tricolor na Libertadores, também em 2007, contra o Cobreloa.

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Depois de sair do Coritiba, em 2008, passou por vários clubes do interior de São Paulo, do Nordeste e do Centro-Oeste. Embora não tenha tido o mesmo sucesso nesses times como no Alviverde, Dias classifica o período como de "muito aprendizado".

Em busca de novos momentos para ficar na história, o "paulista de nascimento, mas paranaense de coração" Henrique Dias faz uma espécie de recomeço no FC Cascavel. "Estou feliz, estão fazendo um bom trabalho aqui", resume.

Aos 30 anos, considera que ainda tem "muita lenha para queimar." Espera, junto com os companheiros de clube, manter o time na Primeira Divisão e, se tudo der certo, beliscar uma vaga na Série D nacional.

Para isso, aposta no técnico."O Paulo Foiani é um treinador novo, porém muito inteligente. Conseguiu acessos por onde passou, inclusive aqui no Cascavel. Não importa a divisão, sempre é difícil conquistar o título", elogia.

O reencontro com o Atlético não o preocupa. "Vou jogar como contra qualquer outra equipe. Mas vamos tratar como uma final. Aliás, temos de tratar todos os jogos como uma final." Contra o Coritiba, porém, a emoção promete ser grande. "Se fizer gol, não vou comemorar", promete. "Tenho um carinho enorme pelo Coxa, inclusive como torcedor. Tudo o que eu tenho devo ao Coritiba."

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Beletti

Fundador do FC Cascavel ao lado do irmão Sandro, o ex-jogador Beletti, hoje comentarista na tevê, se afastou há alguns do clube. Para ele, a política de aumento de salários adotada nesta temporada é arriscada. "Pela minha experiência, já vi muitas vezes isso terminar com um final infeliz", vaticina.