Teixeira
Para se afastar da Fifa e evitar um possível processo por corrupção, o brasileiro Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, rompeu os vínculos financeiros com a entidade. Em acordo, ele abriu mão de uma aposentadoria de R$ 60 mil mensais até 2030 por um pacote de benefícios de valor milionário, porém não divulgado. "Teixeira faz parte do passado", resumiu Domenico Scala, chefe do Comitê de Auditoria da Fifa.
A Fifa confirmou ontem que proibirá que jogadores sejam comprados por fundos de investimento e empresas, uma prática recorrente principalmente em alguns países da Europa, como Espanha e Portugal, e também na América do Sul. Com a medida anunciada pelo presidente da entidade, Joseph Blatter (foto), após a reunião do Comitê Executivo, em Zurique, na Suíça, os atletas terão de pertencer exclusivamente aos clubes.
"Tomamos uma decisão firme que a participação de terceiros deve ser banida", comunicou Blatter, explicando que um grupo de trabalho será criado para estudar como a medida será tomada. "Haverá um período de transição", continuou. A expectativa, segundo o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, é que a nova regra esteja em vigor daqui a três ou quatro anos.
A decisão, tomada em resposta a uma demanda do presidente da Uefa, Michel Platini, deve ter grande impacto no mercado de transferências de atletas. De acordo com estudos da KPMG, empresa de consultoria e auditoria, hoje outros investidores que não os clubes já detêm de 3,7% a 7,8% dos valores de mercado dos jogadores da Europa 30% em Portugal. O montante no Velho Mundo pode chegar a R$ 3,3 bilhões.
No Brasil estima-se que essa participação seja ainda maior. Situação que exigirá dos clubes repensar a forma de atuar no mercado. "Os clubes brasileiros devem se unir e regulamentar o mercado. Determinar quanto pode ser pago a técnicos, empresários, comissões. Hoje, a saída é apelar para terceiros e para participação de direitos econômicos dos atletas. Os clubes estão caminhando para a falência", opinou o presidente do Santos, Odílio Rodrigues Filho. Para ele, no cenário atual, seria impossível abrir mão do dinheiro de investidores.
Realidade com a qual será preciso lidar, como alerta o especialista em direito esportivo Eduardo Carlezzo. "Está na hora de os clubes aprenderem a viver com os próprios recursos", resumiu. "No curto prazo, os clubes serão impactados, especialmente aqueles que vivem em crise financeira. Terão menos recursos. No médio e longo prazo, a medida é positiva. Eles voltarão ter 100% das receitas dos atletas", defendeu.
A venda de participação de jogadores por clubes para empresas e fundos de investimentos é uma prática comum na América do Sul. Esses grupos investem em direitos econômicos dos atletas e capitalizam com a venda posterior deles, na maioria das vezes para o mercado externo. Transações como a de Neymar, Paulinho e Oscar renderam lucros para investidores que tinham comprado participações dos atletas.
A proteção encontrada pela Fifa, porém, não isenta por completo o mercado da bola da interferência de investidores ansiosos para lucrar com a venda de atletas. "Tem de tomar cuidado com os Tombenses [time controlado pelo empresário Eduardo Uram], os clubes hospedeiros", alerta Toninho Nascimento, secretário de futebol do Ministério do Esporte. Criar um clube ou comprá-lo para registrar jogadores é visto pelos fundos de investimento como a possível salvação para burlar a barreira jurídica.