• Carregando...
 | Fernando Santos/ Folhapress
| Foto: Fernando Santos/ Folhapress

Artigo

Djalma de todos os Santos

No rico e vasto painel humano do futebol, um dos personagens mais admirados, celebrados e respeitados em todos os tempos é o brasileiro Djalma Santos.

Amado como ser, exaltado como atleta, idolatrado como craque e eternizado como grande campeão pelas equipes e seleção que defendeu ao longo de sua extensa e virtuosa carreira, ele entrou para a história como Djalma de todos os Santos.

Dentre tantos feitos extraordinários, aquele que mais o destacou foi, a meu ver, a sua eleição como o melhor lateral-direito da Copa do Mundo de 1958. Extraordinário porque o titular da posição vinha sendo Nilton De Sordi, que se lesionou na partida semifinal, em que o Brasil goleou a França e credenciou-se para a finalíssima com os donos da casa em Estocolmo.

Escalado para jogar a decisão do título mundial diante da Suécia, Djalma Santos revelou toda a sua enorme categoria técnica, experiência e, sobretudo, inigualável talento individual ao ser eleito pela crítica internacional o melhor jogador da posição em todo o torneio.

Ou seja: em apenas 90 minutos, ele realizou o que milhares de jogadores jamais conseguiram na carreira inteira.

Bicampeão mundial pela seleção brasileira e com diversos títulos defendendo a Portuguesa, o Palmeiras e o Atlético, o Lord, como era chamado pelos cronistas e companheiros da época, distinguindo-se pela elegância dentro e fora de campo, e pela nobreza pessoal, foi o maior de todos os alas-direitos do país. Com menção honrosa a Carlos Alberto Torres, Leandro e Cafu que deixaram marcas indeléveis atuando pelos clubes e pela seleção brasileira.

Djalma Santos foi um jogador completo, pois ao mesmo tempo em que proporcionava espetáculo e realizava jogadas de puro malabarismo com a cabeça e com os pés, destacava-se pela eficiência como marcador implacável e como apoiador de largos recursos técnicos.

Sem esquecer de sua característica peculiar nos arremessos manuais, em que colocava a bola onde queria, mesmo em lançamentos de longa distância na cobrança de laterais.

Também foi um atleta perfeito no aspecto físico, tanto que jogou profissionalmente até os 40 anos, sagrando-se campeão paranaense vestindo a camisa rubro-negra número 2 do Furacão na conquista de 1970.

Tive o privilégio de vê-lo treinar e jogar ao mesmo tempo em que convivi com esse admirável personagem do esporte mundial, sempre alegre e feliz com a vida.

Carneiro neto, colunista

O garoto pobre, que tinha como sonho ser piloto de avião e jamais imaginou ser um dos maiores jogadores da história do futebol, com direito ao apelido de Lord, recebido dos sisudos ingleses. Esse foi Djalma Santos, que morreu na noite de ontem, aos 84 anos, em Uberaba (MG). Ele estava internado no Hospital Hélio Anogtti desde o dia 1.º de julho por causa de um quadro de pneumonia e insuficiência respiratória.

Djalma Santos passou mal ao assistir pela tevê à vitória do Brasil sobre a Espanha, no dia 30 de junho, na final da Copa das Confederações. A situação se agravou ontem, quando o ex-jogador passou a apresentar insuficiência renal e morreu às 19h30.

Considerado um dos maiores jogadores do futebol bra­­si­leiro, ele nasceu em São Paulo, em 27 de fevereiro de 1929. Brilhou na Portuguesa, Palmeiras e Atlético.

A forma dócil com que tocava na bola, a maneira correta para desarmar o adversário e a entrega certeira para os companheiros fizeram deste paulistano o lateral-direito da seleção brasileira em quatro edições da Copa do Mundo (1954, 1958, 1962 e 1966), com direito a dois títulos (58 e 62). Foram 114 jogos oficiais com a camisa verde-amarela e três gols marcados.

Como na seleção, Djalma Santos construiu uma carreira de muito sucesso nos clubes pelos quais passou em 22 anos de carreira. Primeiro na Portuguesa, depois de ser reprovado na "peneira" do Co­­rinthians.

Foram dez anos de sucesso no momento mais glorioso da Lusa. Ganhou dois títulos do Torneio Rio-São Paulo (1952 e 1955), a Fita Azul pela excursão invicta à Europa e a convocação para as seleções paulista e brasileira. Até hoje é o segundo jogador que mais vestiu a camisa do clube.

Em 1958, ganhou o primeiro título mundial com a seleção na Suécia, ao disputar apenas a final no lugar do então titular De Sordi. O ponta-esquerda sueco Skoglund, apontado como o melhor da posição na Copa, não viu a cor da bola naquela decisão.

No mesmo ano, se transferiu para o Palmeiras e fez parte da primeira Academia. Atuou em 501 jogos com a camisa palmeirense, na época em que era a única equipe paulista capaz de fazer frente ao Santos de Pelé. Foram três títulos paulistas, dois da Taça Brasil (equivalente ao atual Campeonato Brasileiro), um Robertão e um Rio-São Paulo. Sua passagem pelo Palmeiras, que durou até 1968.

Em 1962, atuou como titular indiscutível da seleção que levantou o bicampeonato mundial no Chile. Sem a presença de Pelé, que se machucara contra a então Tchecoslováquia, Djalma Santos, juntamente com Gylmar, Bellini, Zito, Nilton Santos, viu Mané Gar­­rincha desequilibrar.

Em 1968, veio para o Atlé­­ti­­co, time no qual se sagrou campeão paranaense em 1970. Jogou até o ano seguinte, e se aposentou aos 41 anos sem nunca ter sido expulso na carreira.Sua fama de jogador habi­­lidoso e de rara técnica fez com que várias lendas fossem criadas com seu nome. Uma das principais afirma que em um jogo entre a seleção brasileira e a Argentina, no Maracanã, Djalma Santos levou a bola de sua área até a adversária controlando com a cabeça. Histórias que apenas a um mito se pode conceber. Um mito para sempre.

Lateral encerrou a carreira como campeão pelo Atlético

André Pugliesi

Bola reposta pelo goleiro. Praticamente de costas, o camisa 2 dava um tapa nela com o lado do pé, quase de calcanhar. A esfera executava um arco, um "autochapéu", e se oferecia mansa para a partida ao ataque. Os rubro-negros da antiga jamais se esquecerão desse lance, marca da passagem de Djalma Santos pelo Atlético.

O lateral-direito bicampeão mundial com a seleção brasileira nas Copas de 1958 e 62 passou três anos na Baixada. Período iniciado em 1968, na disputa do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, certame equivalente na época ao Campeonato Brasileiro. A contratação de Djalma, já com 39 anos, era outro trunfo do então presidente Jofre Cabral e Silva. Do rebaixamento estadual em 1967 – e a virada de mesa para manter o clube na elite –, o dirigente pretendia transformar o Rubro-Negro em uma máquina de jogar futebol.

Para tanto, Jofre trouxe ainda três outros atletas que fizeram ferver o mercado local – o zagueiro e também bicampeão mundial Bellini, Sicupira e Nilson Borges, dois jogadores que entrariam para a história do Furacão. "Foi uma época muito boa. Um grande time, recheado de craques. E o Djalma era um companheiro maravilhoso", lembra Sicupira, maior artilheiro e bigode mais famoso de todos os tempos do Rubro-Negro.

O atual comentarista da Rádio Banda B conviveu de perto com a lenda do futebol mundial. "Nos víamos quase todos os dias. Além do contato no clube, éramos amigos", diz o ex-camisa 8. Para se ter uma ideia, na Copa de 58, Djalma Santos fez apenas um jogo, a decisão vencida diante da Suécia (5 a 2). Bastou para ser escolhido o melhor lateral do evento.

Junto com o lateral-esquerdo Julio e Nilson, a dupla virou sócia em uma lotérica no centro de Curitiba, localizada na João Negrão. "Ele tinha uma concessão por ter sido campeão do mundo e nós fizemos a sociedade. Era uma forma de encorpar os rendimentos", recorda Sicupira.

Com a bola nos pés, Djal­­ma Santos sagrou-se campeão do Paranaense de 1970, quebrando um jejum de 12 anos sem títulos estaduais do Atlético. Acabou eleito o melhor lateral-direito da competição, sempre se destacando pelo vigor físico, apesar da idade avançada, e pela elegância.

No ano seguinte, decidiu se aposentar. O adeus aconteceu no dia 21 de janeiro, na Vila Capanema, em um amistoso com o Grêmio, fechado em 0 a 0. Para variar, em grande estilo. Ao sair do gramado, Djalma descalçou as chuteiras, sentado na pista do Durival Britto, e as entregou para Everaldo, adversário da tarde e que havia sido campeão mundial com a seleção em 1970.

Chuteiras penduradas, Djalma Santos arriscou-se na carreira de treinador, dirigindo o próprio Atlético. Não teve o mesmo sucesso na Baixada e, no futuro, acabou abandonando a nova profissão.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]