
"Não ligo para essa história de ídolo, estrela..."
Apesar de só jogar em 2013 pelo Coritiba, Alex já aponta as primeiras distinções entre o antigo e o novo clube. "Só ter todo mundo falando a mesma língua é bem diferente. Apenas o Escudero e o Ruidíaz falam espanhol. Meu vestiário tinha um grupo de africanos falando francês, tinha alemão, inglês, turco, português", cita.
No primeiro encontro que teve com o grupo alviverde, prometeu ir ao limite para que tudo funcione bem. "Não quero privilégio, não ligo a mínima para essa história de estrela, ídolo. Se vou ser campeão ou não, não sei. O limite entre ter sucesso ou não é bem pequenininho. Vou trabalhar e honrar o clube e a torcida. É isso".
Enquanto não entra em campo, vai administrando a ruptura com a Turquia, prejudicada diz ele pela novela Salve Jorge, da Rede Globo. A trama tem um núcleo no país euro-asiático, reforçando as lembranças. "Vejo por cima. Minha filha mais velha assiste e corrige as palavras. Ela é praticamente turca." Nos oito anos em Istambul, o jogador ampliou a família teve ainda mais dois filhos no período.
A emoção de voltar para casa, após 15 anos, ainda contrasta com a confusa despedida da Turquia. Entre um atormentado jantar em família para assimilar a súbita despedida de Istambul e um café da manhã em Curitiba para selar o retorno ao time do coração, Alex viveu uma história digna de um pop-star, situação bem avessa à propria personalidade do jogador.
No dia 1.º de outubro, oito anos de história no Fenerbahçe foram encerrados em uma reunião que durou das 16h15 às 16h18 com o presidente do clube Aziz Yildirim. O ponto final, no entanto, não durou apenas três minutos, começou de forma lenta e gradativa, e se gravou duas semanas antes.
"O status como jogador mudou quando inauguraram a estátua [15/9, com a imagem do meia em tamanho natural] em frente do clube. É comum estátua de ex-jogador, não de quem está todo dia no vestiário. O clima com a torcida foi espetacular, mas dentro do clube ficou pesado", lembra o meia, com exclusividade à Gazeta do Povo, sem revelar detalhes das controvérsias com o ex-comandante, Aykut Kocaman, estopim da inesperada saída do clube. "Quem sabe quando eu escrever um livro."
O fim desse ciclo foi anunciado pelo curitibano de 35 anos via Twitter e propagou-se imediatamente.
"Ligou um quinhão de times e descartei um quinhão. Do Brasil e de outros países. O Coritiba não me ligou nenhuma vez. Minha conversa havia sido antes, mas era sobre o projeto do Coxa, não tinha nada certo. Dei papo para o Palmeiras e Cruzeiro por consideração às pessoas. Atendi o presidente do Cruzeiro sentado em uma mala, cercado de outras 20. Mas eu não tinha condições emocionais para falar com ninguém."
Alex confessa que a opção pelo Coxa partiu exclusivamente dele, contrariando declarações vindas do time mineiro de que a família havia influenciado a escolha. "Sempre tive essa ideia de fechar um ciclo. Acho que se eu não voltasse levaria essa frustração", conta o jogador.
Ele assinou sua contratação em um café da manhã na sua casa, há exatos 13 dias, com presidente Vilson Ribeiro de Andrade e o superintendente Felipe Ximenes à mesa. "Tenho de agradecer pelo Coritiba ter se refeito para eu poder aceitar o convite. Muita gente não acreditava na reerguida depois de 2009", acrescentou. A facilidade na qual apertou a mão dos dirigentes do Coxa é inversamente proporcional ao tumulto vivido dias antes.
No momento da ruptura com o time turco, por exemplo, o camisa 20 teve um primeiro receio: não queria que a filha Maria, a mais velha, sentisse o baque da notícia por terceiros. A menina estava na escola e a tranquilidade só veio quando ela chegou em casa. "Queria que ela soubesse da reviravolta pelos pais e também não fosse alvo da comoção dos torcedores."
O meio-campista conta ainda uma história surreal: na noite da rescisão resolveu ir com amigos, mulher e filhos jantar em um restaurante no enorme condomínio onde a família Souza morava na parte asiática de Istambul. O burburinho já era intenso. Foi avisado da romaria de torcedores e de que os porteiros e seguranças não conseguiriam controlar. Logo em seguida, um grupo de 20 pessoas entrou no restaurante para se despedir do ídolo. Assustado com a movimentação, o garçom aconselhou Alex a ir embora. Não precisava nem pagar a conta.
"Quando eu estava chegando em casa, veio uma avalanche de fãs. Eram uns 300. Dois, três minutos depois era um número absurdo. No giro [a movimentação do início ao fim da homenagem], disseram que foram quase 10 mil pessoas. Uma coisa louca", contou. Os torcedores pediam a sua permanência, cantavam, acendiam sinalizadores, queriam fotos, davam presentes. "Chorei muito." A mobilização durou das 21h30 às 4 h da madrugada. Ainda assim, pela manhã, uns 30 torcedores ainda dormiam no jardim da casa do jogador.
A vigília persistiu. Duzentas, trezentas pessoas faziam sentinela no condomínio, o muro da casa estava sempre cheio de gente. Os amigos apareciam a toda hora. A cada abraço, novas lágrimas.
"Foi um enterro de 12 dias. Senti tristeza, decepção com a forma como o clube tratou a situação e tentava de certa forma entender aquela loucura, a paixão toda daquele povo incrível. Um momento difícil foi buscar coisas no camarote que a Daiane [esposa e quem menos se recuperou do impacto da saída do Fener] usava no estádio. Depois entrei no campo, fiquei uns 15 minutos. Chorei de novo. Chorava toda a hora. Pensei: Fiz uns 100 gols aqui, não precisava ter sido assim".
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