Décadas antes da existência do Google, Aloar Odin Ribeiro era a fonte de consulta preferida dos colegas das rádios e jornais pelos quais passou como narrador esportivo, repórter e editor. Sempre que surgia uma dúvida sobre a escalação de um time ou dos confrontos de uma Copa do Mundo, todos sabiam a quem perguntar. Além da memória invejável, a precisão da informação, a disponibilidade para ajudar e contentamento em contribuir em uma pauta eram características marcantes do jornalista e radialista. Mineiro, mudou-se para Curitiba aos 4 anos.
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Ao longo dos 46 anos em que trabalhou na Gazeta do Povo – permaneceu no jornal de 1960 a 2006, contribuiu para a formação de gerações de jornalistas esportivos. Das muitos histórias, várias destacam a generosidade e o entusiasmo com os mais jovens, aos quais dedicava tempo e valiosos ensinamentos. Ético e sempre imparcial, não permitia que dirigentes dos times de futebol interferissem na cobertura feita na redação, prática comum naquela época. “Às vezes, um clube não gostava de alguma crítica ao futebol praticado e logo recebíamos um telefonema de algum dirigente. Com educação, deixava claro que não permitiria essa interferência”, relatou Célio Martins, jornalista da Gazeta do Povo, que trabalhou com Aloar entre 1986 e 1999.
O que lhe deixava contente era o furo jornalístico. Cobrava de sua equipe a publicação dos fatos antes dos concorrentes. Para isso, sempre estava disposto a colaborar repassando o telefone de uma fonte ou até mesmo um pouco de sua experiência em uma simples conversa. Inovador, trouxe um texto leve à cobertura esportiva. Fugia das adjetivações e buscava novos formatos para informar. Por essas e muitas outras características, era chamado carinhosamente por “mestre Odin” ou simplesmente “mestre”.
Carneiro Neto homenageia Aloar Odin Ribeiro; ouça
Era coxa-branca, acompanhava as movimentações do clube, mas não era do tipo que se permitia a paixões clubísticas nem a coberturas esportivas favoráveis ao Alviverde. Aloar se pautava pela correção.
Anos mais tarde, recebeu uma bela e justa homenagem do Coritiba. O amigo e ex-colega Marcus Aurélio de Castro, à época assessor de imprensa do Coxa, sugeriu que a sala de imprensa do Estádio Major Antônio Couto Pereira fosse batizada com o nome de Aloar Odin Ribeiro. E assim foi feito. Sempre preocupado com a preservação da história do futebol, foi um dos fundadores do memorial do Coritiba em conjunto com o major que dá nome ao estádio.
Recebeu também o Corujinha de Ouro, o Troféu Imprensa do Paraná e um prêmio recebido das mãos do então governador do Paraná, Ney Braga, nos anos 1980.
Dos tempos de Gazeta, seu xodó era a coluna “Ontem e Hoje”, na qual se dedicava a resgatar a memória do futebol e de seus personagens. Ao longo dos anos, foi produzindo um vasto acervo fotográfico e biográfico. Publicada aos domingos, a coluna trazia semanalmente informações e imagens de como eram os atletas no passado e sobre como estavam e o que faziam no presente.
Antes de se dedicar ao jornalismo impresso, Aloar já se destacava no rádio na década de 1950. Considerado um dos melhores narradores esportivos do país, logo chegaram convites para trabalhar em São Paulo ou Rio de Janeiro. O amigo e ex-colega Marcus Aurélio de Castro conta que em uma dessas oportunidades ele chegou a ir a São Paulo para ouvir a proposta da Rádio Tupi, mas decidiu retornar. Não queria deixar Curitiba e sabia que a esposa não aprovaria a mudança. Tinha uma narração forte, imparcial e marcante e guardava fitas com cada uma delas que faz ao longo da carreira.
Além da Gazeta do Povo, passou por veículos como a Gazeta Esportiva, de São Paulo, o Jornal Última Hora, e as rádios Marumbi, Curitibana, Emissora Paranaense, Clube, Cultura, Guairacá, Universo, entre outras, cobrindo os times paranaenses.
Discreto, pouco os colegas sabiam da vida pessoal de Aloar. Vivia em um apartamento no Centro da cidade com a esposa e com a coleção de filmes. O cinema era um de seus hobbies. A memória quase infalível permitia guardar dados sobre roteiros, atores, e tudo o que dizia respeito à produção cinematográfica.
Na segunda metade dos anos 2000, aposentou-se da Gazeta. Mas a impressão dos colegas é de que não se acostumou bem à nova rotina - depois de tantos anos dedicados à imprensa esportiva. A memória também já não era mais a mesma e isso o deixava incomodado. Muitos ex-colegas perderam o contato com Aloar. Alguns, por sorte, tiveram o prazer de encontrá-lo em um dos seus passeios por um shopping no Centro da capital, ou depois, já no novo endereço no Jardim Botânico, em uma das caminhadas com o seu cachorro.
Aloar Odin Ribeiro morreu em Curitiba, aos 87 anos, de parada cardíaca, no dia 11 de fevereiro de 2018. Deixa a esposa.
Colaboraram: Mariana Balan, Célio Martins, Rodrigo Fernandes e José Carlos Fernandes.
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