Suzuka, Japão Fernando Alonso não acreditou quando viu a fumaça no carro à sua frente. "No princípio, achei que fosse um Spyker. Vi uma mancha laranja, vermelha, e não imaginei que fosse uma Ferrari. Só me preocupei em evitar o óleo na pista, me concentrei no asfalto. Não me dei conta que era o Michael até o momento em que o passei."
Pois era Michael. O Schumacher. O heptacampeão mundial. O vencedor de cinco das sete etapas anteriores. O mito vivo do esporte. Era ele. Que parava a 16 voltas do fim do GP do Japão, vendo escapar a vitória, mas, principalmente, sentindo o octocampeonato se desintegrar.
A causa do problema, uma rara quebra de motor, algo que em sua carreira de 247 GPs só havia acontecido cinco vezes. A última, havia seis temporadas. Em cinco segundos, entre o primeiro sinal de fumaça e a ultrapassagem, o 57.º campeonato da F-1 e seus principais personagens se transformaram.
De vice-líder do Mundial, de piloto que chegou a Suzuka descontrolado pela possibilidade de perder o título por antecipação, Alonso tornou-se novamente o dono da situação. Venceu a penúltima etapa da temporada, na madrugada de ontem, e, com o abandono de Schumacher, abriu dez pontos de vantagem: 126 a 116. Se for oitavo colocado no GP Brasil, no dia 22, conquistará o título independentemente do resultado do alemão. Em suma, está a um ponto do bicampeonato.
De líder na tabela, de protagonista da reação mais sensacional dos últimos anos, de piloto confiante e tranqüilo às portas de mais uma conquista épica, Schumacher tornou-se um homem entre a desolação e o conformismo, um apagado espectro do sujeito que, uma semana antes, classificara a vitória na China de miraculosa.
Apesar da vantagem confortável na tabela, Alonso evitou qualquer espécie de euforia, de comemoração antecipada. E usava a infelicidade alheia como principal argumento para sua posição. "A mesma coisa que aconteceu com o Michael pode acontecer comigo. Você nunca sabe o que pode acontecer. Primeiro, tem de terminar a corrida. Só depois, olhar para o campeonato", disse.
Seu histórico recente também recomenda um quê de cautela. Das últimas cinco etapas, o espanhol abandonou duas. Na Hungria foi vítima de uma porca mal apertada que mandou uma roda pelos ares. Na Itália, deixou a prova com problema idêntico ao do alemão ontem: motor estourado.
O histórico mais antigo, porém, está ao lado do espanhol. Nunca na F-1 um piloto conseguiu tirar uma desvantagem de dez pontos e virar o campeonato na última etapa. E nunca Schumacher venceu um título de virada.
Se manteve uma postura contida nas entrevistas no paddock, Alonso não conseguiu se segurar nos momentos decisivos da prova. Assim que superou Schumacher, o espanhol fechou o pulso e deu um pequeno soco no ar. E quando parou o carro sob o pódio, foi à loucura na vibração com a escuderia.
Subiu no carro e dobrou uma das pernas. "Imitei uma fênix", explicou, referindo-se à ave mitológica que renasce das cinzas. Depois, pulou as grades que os separavam dos companheiros de Renault e correu para abraçá-los. Não houve como se segurar. O sangue espanhol falava mais alto. Gritava.
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