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Henrique,  20 anos:   “No Mundial, nadei na cintura do Phelps até os 170 metros” | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Henrique, 20 anos: “No Mundial, nadei na cintura do Phelps até os 170 metros”| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Estrutura

Remuneração é o empecilho

Boa infraestrutura, mas sem dinheiro no bolso. Os nadadores de elite que optam por ficar em Curitiba, caso de Henrique e Alessandra, têm de abrir mão de um salário como atleta para seguir treinando na capital paranaense. "Toda adaptação tem seu preço", diz o especialista nos 200 m medley. Nenhum clube do Paraná oferece salário aos nadadores, o que facilita o assédio de times de outros estados.

"O esporte no Paraná foi deixado de lado por muito tempo. Não temos nenhuma piscina pública olímpica oficial para competições, por exemplo. Esse descaso traz um preço para a natação adulta", diz o presidente da Federação de Desportos Aquáticos do Paraná (Fdap), Luiz Fernando Graczyk.

"O meu clube [Curitibano] é social, ainda falta encontrar um bom meio de incentivar a natação, para segurar seus atletas", diz Alessandra Marchioro. A associação custeia os técnicos e parte das viagens da velocista. "Esses altos salários na natação, pagos por Pinheiros, Corinthians, chamam a atenção dos nadadores, mas não temos isso como política. Não deixamos nada a desejar em estrutura", diz o diretor de esportes aquáticos do Curitibano, Ilton Zationi. O 5º lugar no ranking nacional deve-se, principalmente, às conquistas das equipes infantil e juvenil.

Henrique usa a estrutura da Academia Amaral e sua família bancou os custos para trazer o técnico brasiliense Antônio Henrique Barbosa, o Toninho, que já treinou outros nomes da seleção brasileira, como Fabíola Molina, Diogo Yabe e Tatiane Sakemi. O nadador ainda negocia com clubes de outros estados para saber onde nadará em 2012. Na mesa de negociações, estão o Flamengo, seu atual clube, e o Pinheiros. Sempre com a condição de seguir treinando em Curitiba. (AB)

  • Alessandra Marchioro, 18 anos:

Os nadadores curitibanos Hen­­rique Rodrigues, 20 anos, e Ales­­sandra Marchioro, 18, têm tarefas nada fáceis – e solitárias – na fa­­se preparatória para a Olimpíada de Londres, em julho. Ele já tem presença garantida nos 200 m medley. Ela ainda busca a segunda vaga nos 50 m livre. Competir na capital inglesa é uma etapa essencial no projeto principal das suas carreiras: os Jogos do Rio de Ja­­nei­­ro, em 2016.

Até chegarem ao Parque Aquático londrino, a dupla treina na capital paranaense, longe dos principais polos da natação no país e enfrentam as dificuldades de nadar em alto desempenho num estado que se especializou na formação de atletas, mas sem conseguir segurar seus talentos quando estes chegam à maturidade.

Henrique trocou o projeto criado por Cesar Cielo, em São Paulo (o PRO 2016), para incluir no seu programa de treinamento o bem-estar de ficar junto da família e da na­­morada. Até o final de 2011, não tinha encontrado nenhum patrocinador disposto a bancar o projeto na terra natal, atualmente custeado por seu pai, o empresário Nelson Rodrigues. Nesta semana duas empresas paranaenses – uma público-privada e uma privada garantiram apoios que cobrirão metade dos custos do nadador. O contrato ainda não foi assinado.

Alessandra resiste ao assédio dos clubes de São Paulo para seguir no Clube Curitibano – atualmente o 5.º melhor do ranking nacional (colocação conquistada especialmente pelos resultados nas categorias de base, como infantil e juvenil). E também para estar com a família. Ela recebe do Curitibano a estrutura para treinar e o pagamento dos técnicos. Um patrocínio da Embratel, assinado em setembro, cobre parte dos gastos de viagens para competir e treinar.

Ela também recebe a Bolsa Atle­­ta Internacional (R$ 1.850 mensais). Porém o aporte é insuficiente. Ela só tem o apoio de fisioterapeuta, fisiologista, nutricionista porque os profissionais a atendem sem custo. O material esportivo recebe da Speedo.

A promissora nadadora vê as ex-colegas de piscina, como a catarinense Carolina Bergamaschi, trocarem a boa estrutura no clube pela remuneração oferecida por outras equipes com maior potencial de mídia e aporte da iniciativa privada.

Os dois melhores nadadores paranaenses da atualidade treinam sem companheiros de nível de seleção, um já com o pensamento voltado para o desempenho em Londres; a outra ainda corrigindo as falhas de 2011 para estar na Olimpíada de 2012. Henrique voltou de Guadalajara com o bronze nos 200 metros medley e tem o segundo melhor índice brasileiro, depois de Thiago Pereira.

Mas, na Olímpiada, vai competir em um patamar ainda mais elevado: terá de enfrentar dois favoritos absolutos: os norte-americanos Michael Phelps e Ryan Lochte, atual recordista mundial da prova (1min54s).

"Não os vejo como bichos de sete cabeças. No Mundial [em Xangai, na China], nadei na cintura do Phelps até os 170 m. Sei o que preciso fazer para melhorar. Estou muito focado", diz o atleta.

Um indício foi a vitória no Bra­­sileiro Sênior, no dia 15 de dezembro, no Rio de Janeiro, à frente de Thia­­go Pereira. Além de vencer o maior medalhista brasileiro em Jogos Pan-Americanos, bateu o recorde da competição, com 2min00s43.

"Fiquei muito animado. Depois do Pan, o Thiago parou um bom tempo de treinar; eu, por outro lado, fui para o Brasileiro recuperado de uma lesão no ombro. Fiquei satisfeito porque consegui nadar firme depois de um ano em que vinha me sentindo mal pelos resultados", explica. Dois dias depois, na disputa do Open, melhorou a marca para 1min59s79, reafirmando o índice olímpico (o tempo classificatório é de 2min00s17).

Na mesma semana e na mesma piscina, Alessandra foi vencida por Graciele Hermann nos 50 m livre tanto no Brasileiro quanto no Open. Na primeira disputa, a gaúcha de 19 anos terminou a prova em 25seg12, oito centésimos abaixo do índice, o que a colocou na Olimpíada de Londres. Em temporadas anteriores, Alessandra nunca havia perdido as finais para atleta do Grêmio Náutico União (RS).

"Foi resultado de um ano em que ela cresceu muito [além do índice, foi prata no Pan de Guadala­­jara] e que minha temporada foi complicada. Tive uma tendinite no ombro, mudei muitas vezes de técnico no ano. Cheguei a sair do Curitibano, tive apenas duas semanas estáveis para treinar para o Brasileiro e o Open. Ainda assim, consegui baixar meus melhores tempos, que eram ainda na época dos trajes especiais. Deixei de pensar em competir com a Graciele e agora vou centrar o trabalho na minha vaga olímpica."

A curitibana diz que é possível baixar os 35 centésimos necessários para chegar ao índice olímpico. "Estou tranquila porque meu técnico já detectou onde tenho de melhorar. Várias pequenas mu­­dan­­ças que vão surtir bom resultado no cronômetro."

Ela tem ainda o Troféu Maria Lenk, em abril, e uma seletiva para as provas que até lá não tiverem dois nadadores classificados. Ales­­sandra sabe que é cedo para pensar em medalhas olímpicas em 2012. "Mas meu desempenho no Rio passa pela experiência que vou ganhar em Londres", destaca.

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