Sete anos após os primeiros saltos, Maria do Carmo Cruz ainda vira o rosto na tentativa de escapar da imagem de suas filhas se atirando em queda livre de uma plataforma de dez metros de altura. No início, a mãe queria apenas que elas aprendessem a nadar. Vendo a aptidão das gêmeas para os esportes aquáticos, um pouco mais tarde, desejou ver Natali e Nicoli brilhando no nado sincronizado. Mas foi nos saltos ornamentais que as duas meninas, hoje com 16 anos, descobriram o prazer pela adrenalina e a vontade de superar limites.
"Por mim, elas estariam fazendo nado sincronizado. Até porque nos saltos elas também são adversárias. Eu ficava falando para elas: "O nado sincronizado é tão legal, tem aqueles maiôs lindos, coloridos". Mas não teve jeito. Eu quero é que elas sejam felizes. Não importa o que façam", disse a mãe coruja.
O começo foi como o da maioria: na natação. Natali e Nicoli nasceram em Manaus, e foi lá que elas deram as primeiras braçadas. Aos nove anos, as gêmeas mudaram de cidade, foram para o Rio de Janeiro, mas continuaram praticando o esporte e, mais tarde, testaram o nado sincronizado. Mas o que realmente mudou a vida das irmãs foi o convite para um teste nos saltos ornamentais.
"A minha mãe dizia que, desde pequena, a gente falava que queria pular lá do alto. Ela falava que isso era só para gente grande. Depois, começamos a fazer os saltos e gostamos. A gente sentia aquele friozinho na barriga e gostava de superar os nossos medos", contou Natali, a mais quietinha da dupla, que disputará ao lado da irmã vaga no Sul-Americano Adulto de Saltos Ornamentais, na seletiva realizada de terça a sexta-feira da próxima semana, no Rio de Janeiro.
Superando medos e limites
O esporte tão pouco tradicional no Brasil acabou caindo no gosto das meninas. A sensação de superar medos e limites foi decisiva na escolha de Natali e Nicoli, que no aniversário de 15 anos pediram de presente saltar de paraquedas.
"Na primeira vez que pulamos da plataforma de sete metros, ficamos o treino inteiro para ter coragem para saltar. Só no finalzinho é que conseguimos pular mesmo", lembrou Nicoli.
A rotina é dura. São cerca de oito horas de treino divididos em duas sessões diárias, no Parque Aquático Julio Delamare. As pancadas na piscina, apesar de amortecidas pela água, deixam as saltadoras doloridas constantemente. Determinadas, porém, elas não costumam reclamar. Pelo contrário. Maria do Carmo revelou que, até mesmo em casa, as meninas estão sempre treinando. Prova disso são as paredes brancas do apartamento sempre sujas pelas marcas dos pés das saltadoras.
Se por um lado as duas irmãs são adversárias nas provas individuais, por outro, são companheiras nas provas sincronizadas. Mas independentemente de saltarem juntas ou separadas, Natali e Nicoli são cúmplices e procuram sempre tirar coisas boas do fato de competirem uma contra a outra.
"Como a gente começou juntas e as duas têm a mesma capacidade, supõe-se que quando uma consegue uma coisa a outra também tem que conseguir. Ela faz, eu corro atrás para fazer também. Uma estimula a outra", disse Nicoli.
Natali e Nicoli são promessas para os Jogos Olímpicos de 2016
Os frutos de tanta dedicação começam a aparecer. Aos 16 anos, as duas já colecionam medalhas nas provas individuais. No último Sul-Americano Júnior, em Mar de Plata 2009 (ARG), Natali e Nicoli foram ouro e bronze, respectivamente, na plataforma. Agora, a dupla está se concentrando nos dez metros sincronizados. Em dezembro do ano passado, foram ouro nesta prova no Troféu Brasil. Mas elas já pensam em saltos muito mais altos como a classificação para o Sul-Americano Adulto.
"Hoje em dia, nossas metas são ambiciosas. Já estamos começando a entrar em competições de adulto para brigar de igual para igual. Ainda estamos no começo do trabalho, mas é um começo muito promissor. Já dá para sonhar, e sonhar alto", afirmou o técnico da dupla, o cubano Alexander Ferrer.
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