Rodrigo França
"Igual, mas...diferente!"
Certo, Sebastian Vettel venceu mais uma prova neste ano na F-1. Para quem não viu, esse resultado parece indicar que a F-1 voltou aos tempos em que as corridas estão chatas, só um tem chance de vencer, etc... Mas não é bem por aí. Quem prestou atenção no GP da Espanha viu que a monotonia esteve longe da corrida disputada ontem, no circuito da Catalunha.
A começar pelo próprio traçado espanhol: a pista sempre reserva os momentos mais tediosos da temporada porque a possibilidade de ultrapassagem, mesmo com a longa reta do boxes, é muito pequena. Neste ano, nem mesmo com o uso da asa móvel (DRS, na sigla em inglês), esse fenômeno conseguiu ser evitado.
Em Barcelona, a nova regra de 2011 que se mostrou bem eficiente foi a dos diferentes tipos de pneu, produzidos pela Pirelli com a intencional ideia de gerar muita diferença de desgaste. Aí, sim, a corrida ficou dinâmica para o espectador, com estratégias diferentes, dezenas de pit stops e carros com performances desiguais (um usando macio e o outro, duro). Além disso, essa corrida movimentada trouxe a emoção de disputa na pista pela vitória nas voltas finais, no duelo de Lewis Hamilton com Vettel.
O inglês não conseguiu passar o alemão, mas chegou a poucos décimos de segundo do "até então imbatível" carro da Red Bull, mostrando que a esperança de uma briga nas próximas corridas atende mesmo pelo nome de McLaren.
Na batalha dos "coadjuvantes", o time inglês foi melhor, com Jenson Button em terceiro (recuperando-se de um começo de prova ruim), superando o companheiro de Vettel, Mark Webber, que ficou em quarto. O australiano foi bem nos treinos, inclusive fazendo a pole, mas se mostrou apagado na corrida e mais uma vez viu Vettel brilhar.
Situação pior que a de Webber só mesmo a da Ferrari. Felipe Massa não foi competitivo em nenhum momento. Já Fernando Alonso fez uma de suas manobras geniais na largada, pulando de quarto para primeiro. Mas, mesmo com o incrível talento do espanhol, não é possível lutar contra a superioridade das outras duas equipes rivais do momento, McLaren e Red Bull. Foi emblemático o momento em que ele levou uma volta dos líderes apenas os quatro carros destas duas equipes mostraram ter ritmo decente de prova. O resto terá de fazer a lição de casa se quiser melhorar nesta temporada.
A próxima etapa será no circuito mais inusitado do ano, em Mônaco, onde, no ano passado, a Red Bull fez dobradinha. Mas é justamente no Principado que as surpresas costumam aparecer, como a memorável vitória de Senna sobre o "carro de outro planeta", a Williams de Mansell, em 1992.
Rodrigo França, @RodrigoRF1
O anormal seria se Sebastian Vettel não vencesse o GP da Espanha. Ele e o companheiro de Red Bull, Mark Webber, ocupavam a primeira fila no grid e os carros concebidos pelo projetista da sua equipe, Adrian Newey, somam, com a vitória de ontem, 11 triunfos em 21 edições da prova no Circuito da Catalunha. O que ninguém esperava era o ritmo espetacular da McLaren.
Lewis Hamilton fez Vettel suar o macacão para vencer. O inglês recebeu a bandeirada apenas 630 milésimos de segundo atrás de Vettel e seu companheiro de McLaren, Jenson Button, foi terceiro. "Esses caras [Hamilton e Button] chegaram de vez", definiu Vettel.
"Foi difícil. Eu me lembrava do GP da China. Como lá, no fim, meus pneus também já estavam desgastados, que alívio quando a corrida acabou", completou. Hamilton tentava ultrapassá-lo no fim da reta, da 54.ª à 66.ª e última volta. Em Xangai, restando seis voltas, o inglês conseguiu e venceu. Foi a única vez que Vettel não ganhou neste ano e, mesmo assim, terminou em segundo.
Dos 125 pontos disputados até agora, Vettel somou 118 e ampliou ainda mais a liderança da competição. Hamilton, o segundo, tem 77. Com o inexpressivo quarto lugar de ontem, Webber ultrapassou Button e assumiu o terceiro posto, com 67. Button, quarto, tem 61. Para quem foi o mais rápido na sexta-feira e estabeleceu a pole no sábado, acabar em quarto quase institucionaliza Webber como segundo piloto da Red Bull. "Perder o primeiro lugar para Fernando [Alonso] e o segundo para Sebastian na largada comprometeu minha prova", justificou-se o australiano.
Os pneus concebidos para resistirem a poucas voltas, o sistema de recuperação de energia (Kers), com seus 80 cavalos extra de potência, e o flap traseiro móvel tudo planejado para facilitar as ultrapassagens não tiveram o mesmo efeito das quatro etapas anteriores. "Apesar de estar a menos de um segundo de Sebastian, não tive, na verdade, nenhuma chance real de ultrapassá-lo", lamentou Hamilton, que pôde acionar o flap móvel e chegar à freada do fim da reta cerca de 18 km/h mais rápido que o inglês da McLaren. "Não dá para me sentir desapontado por não ter vencido", comentou Hamilton. "Nosso ritmo, hoje [domingo], esteve no mesmo nível da Red Bull. Demos um grande passo adiante com as modificações realizadas no carro."
Pneus confundem a estratégia das equipes
O que é melhor, visando a um melhor resultado no fim da corrida? Largar em sexto no grid, tendo utilizado os pneus à disposição, ou em último, por não ter disputado a classificação, sábado, e por isso contar com três jogos de pneus macios novos? A lógica seria apostar em começar a corrida o mais à frente possível. Mas, na Fórmula 1 atual, as equipes começam a pensar se não é mais negócio não usar pneus novos na definição do grid, largar atrás, e ter um trunfo no domingo.
Ontem, Nick Heidfeld, da Renault, provou que ter pneus macios novos pode fazer a diferença. O alemão largou em último (24.º lugar), por não disputar a classificação seu carro pegou fogo , e cruzou a linha de chegada em oitavo. Se tivesse mais uma volta, alcançaria a sexta posição. "Eu não entendo. Larguei em sexto, estava em quinto no fim da primeira volta e terminei em 11.º. Já Nick [Heidfeld] largou em último e se classificou na minha frente, em oitavo, quase sexto", disse Vitaly Petrov, companheiro de Heidfeld, inconformado.
O brasileiro Rubens Barrichello também destacou a importância dos pneus. Para ele, o item tem sido determinante. "Quem se adaptou aos novos [pneus] duros trazidos pela Pirelli, mais duros dos que usávamos, teve imensa vantagem. Foi pouca gente", explicou o piloto da Williams, 17.º colocado na Espanha. Esses pneus foram responsáveis por diferenças de três segundos, na média, entre algumas equipes, como entre Ferrari, muito afetada, e Red Bull e McLaren.
Sorte da Ferrari que a próxima etapa será o circuito de rua de Mônaco, onde são utilizados os pneus supermacios e macios que também vão para Montreal e Valência. "Graças a Deus", resumiu Felipe Massa, que abandonou a prova com a quebra do câmbio.
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