Em seis meses, uma consultoria curitibana saiu do completo anonimato no meio do futebol para assumir o status de craque cobiçado pelas potências da bola. Trata-se da Pluri Consultoria, dos sócios Fernando Ferreira e Nilson Feld. Nesse pouco tempo, a Pluri realizou estudos, sempre focados nas relações econômicas do esporte, que pautaram veículos de comunicação do mundo inteiro. E mais, passou a ser procurada por empresas, de olho no mercado crescente, e até clubes, em busca de auxílio em gestão. Teve de abraçar o ramo futebolístico.
O motivo da escalada? Mostrar que o futebol, normalmente, não tem nada de "caixinha de surpresa". "Os clubes com gestões eficientes, profissionais, estão sempre muito próximos das vitórias. O Barcelona perdeu 3 dos 16 títulos que disputou. As zebras serão cada vez mais raras", afirma o carioca Fernando Ferreira, economista, 40 anos.
Como surgiu o interesse pelo futebol?
Começamos a nos interessar pelo esporte bem depois da criação da empresa. Foi no ano passado. Vi um relatório, na parte de inteligência de mercado, falando do tamanho do negócio do futebol no PIB [Produto Interno Bruto] da Inglaterra, uma estimativa de 3% a 5%. Pensamos em qual seria o tamanho disso para o Brasil, aí veio o estalo.
A partir daí, o processo se desenvolveu de que maneira?
Percebemos que era um mercado sem quase ninguém atuando. Está entregue. Muita gente no marketing esportivo, atrás do pote de ouro, patrocínios, mas ainda restrito. Vimos que a tentativa de aproximar a análise econômica do mundo do futebol era uma oportunidade. Constatamos também que a percepção de um futebol bagunçado era real. Fiquei chocado.
A proximidade da Copa e da Olimpíada também foi um motivador?
É um negócio em expansão. E cada vez mais se necessita de dados, análises, para poder embasar a tomada de decisão. O futebol passa do modelo lúdico, em que tudo se decide dentro de campo, com a força de vontade dos jogadores e um tanto de casualidade, para o profissionalismo.
Qual o primeiro estudo?
Foi o mais trabalhoso. Decidimos montar uma base de dados sobre os jogadores das maiores 60 ligas. O jogador é quase como um ativo, uma ação na bolsa de valores. Quando você vai investir em ação, você faz uma série de análises. O mercado de atletas é muito subjetivo. O que fizemos foi fazer um software [PluriSoccermetric] para estimar o valor de mercado do jogador, por uma série de variedades, algumas subjetivas, mas também objetivas.
Qual é o estágio econômico atual do futebol brasileiro?
Estamos percebendo pelos últimos balanços um crescimento absurdo. Se pegar de 2006 para cá, os clubes aumentaram de duas a três vezes de tamanho. Poucos segmentos da economia atingiram isso. Quando você chega a um acordo de televisão de R$ 1 bilhão, mostra como as coisas estão. E creio que, após a Copa e a Olimpíada, o esporte será três vezes maior.
E os clubes do Paraná?
O estado do Paraná tem uma particularidade que é um nível relativamente baixo do interesse da população por futebol, e um interesse grande da torcida local pelos clubes de fora. Esses são os problemas que os clubes deveriam trabalhar. Mas eu acredito que Atlético e Coritiba estão bem, contam com bons profissionais. A tendência é que se distanciem dos clubes do Nordeste, de Goiás, e se aproximem cada vez mais dos mineiros. O caso do Paraná [Clube] é mais complicado, de reconstrução.
Vocês estão lançando um programa para ajudar na contratação de jogadores?
Contratar é parte fundamental da vida de um clube. Se fosse numa empresa privada, existiria um setor específico apenas para mapear o mercado, um processo técnico. Hoje o clube procura empresário, fala com alguém, até com a imprensa. Estamos programando um banco de dados completos, com as características e os valores dos jogadores.
Como deixar essa análise do jogador o mais confiável possível?
Focamos no custo-benefício, até porque o futebol brasileiro ficou muito caro.
Há clubes interessados?
Estamos conversando com um clube para montar esse departamento. Não é de Curitiba, isso eu posso dizer. Mas pode ser vendido para mais de um.
Há resistência ainda de as empresas entrarem no futebol?
Sim, os clubes ainda precisam se profissionalizar mais. Mas é inevitável o desenvolvimento. Nós fazemos essa ligação. As empresas ainda têm medo de bater na porta dos clubes. Os clubes se conhecem muito pouco, nem a sua própria torcida.
Há algum estudo polêmico previsto?
Estamos analisando o valor de mercado do Pelé e do Maradona. Certamente, vai provocar discussão.