A suposta corrupção no apito paranaense ganhou um delator. Trata-se de alguém que confessa publicamente já ter participado do esquema para manipular resultados: o ex-árbitro José Francisco de Oliveira, conhecido por Cidão.

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Ele não diz o nome do operador da propina, o chamado "Bruxo", mas garante possuir provas de tudo que fala ("Serão mostradas na hora certa", avisa). O discurso põe diretamente a Federação no meio desse mar de lama – em especial o presidente da comissão de arbitragem, Valdir de Souza.

O homem que começa a abrir a caixa-preta dos gramados ficou marcado por ter confirmado um gol do meia William, então no Atlético, contra o Império (dia 20/2), pelo Campeonato Paranaense – quando a bola foi claramente à linha de fundo. Acabou afastado preventivamente, mas escapou da pena no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Magoado com os cartolas locais, desistiu de seguir carreira no estado.

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Atualmente, Cidão trabalha na Europa, onde diz atuar em algumas partidas da Terceira Divisão inglesa. Por telefone, ele conversou ontem com a reportagem da Gazeta do Povo.

Gazeta do Povo – Existe corrupção na arbitragem paranaense?

Cidão – Esse barulho de bruxo? Isso existe, sempre existiu.

Quem comanda esse esquema de manipulação dos resultados?

Só vou falar na hora certa.

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Quando será esse momento?

Logo, logo... Estou retornando para o Brasil e vou ter uma conversa séria com a imprensa.

Você vai apresentar provas?

É óbvio. Você acha que vou falar coisas sem provas?

O operador desse "mensalão do apito" seria alguém de dentro da Federação?

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Não vou dizer o nome. Mas é isso aí. Procede.

Os árbitros são coniventes com o esquema?

Muitos jogos eles nem sabiam. Os caras armavam, ferravam todo mundo... Você viu as arbitragens da Série Ouro passada? Uma tragédia. A maioria era manipulada. Aí não tem coisa que preste. Os árbitros todos assustados, com a cabeça fervendo. Se você entra no jogo dos caras, ganha trabalho. Se você não entra no jogo dos caras, não trabalha.

Valdir de Souza, presidente da Comissão de Arbitragem, sabe de tudo?

Também. São todos sem-vergonha.

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E o presidente Onaireves Moura?

Esse nunca falou nada. Mas os outros falavam usando o nome dele.

Esta prática funcionou para os grandes clubes da capital?

Era para tudo. Só que o interior é mais manipulado.

Você pode contar alguma história?

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Tenho coisas desde que o atual diretor de arbitragem (Valdir de Souza) era presidente do Francisco Beltrão. Ia apitar jogo e tinha de trazer coisas para essa pessoa.

Tinha de levar dinheiro para o Valdir?

Era complicado...

Você não teme ser chamado pelo Tribunal de Justiça Desportiva para depor?

Se eu estiver em Curitiba, vou com todo prazer.

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Por que os outros árbitros não falam nada?

Como vai falar? Se falar é reprimido, mandado embora. É difícil. Os caras almejando alguma coisa na carreira, abre a boca... Está morto, acabou. Tem de se sujeitar a muita coisa. Uns se sujeitam, outros vão empurrando com a barriga.

Mas todos os juízes sabem da corrupção?

Quase todos sabem.

O que está te motivando a denunciar...

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Apitei jogos durante 20 anos e tenho muita história. Tenho coisa para sentar três horas e ficar conversando. Arbitragem nem quero saber mais. Fui absolvido pelo tribunal da CBF, no erro do gol do Atlético. A bola não entrou, eu dei e tudo bem: paguei pelo erro que cometi. Os diretores atuais da Federação imploraram para eu voltar a apitar, mas dentro dos parâmetros deles.

Dentro de quais parâmetros?

Exatamente, dentro dos parâmetros. Coisa aqui, coisa ali. Você ganha aqui, ganha ali. Traz para nós aqui, traz ali. Eu achei melhor parar. Entrei com uma ação contra a Federação por danos morais e resolvi não apitar mais. Não estou a fim de trabalhar dentro dos parâmetros de ninguém.

O suborno era de quanto?

Não tem taxa específica. É assim: o diretor manda você apitar em tal lugar. Eu, por exemplo, sabia da minha escala 15 dias antes. Conhecia com antecedência três jogos da minha escala. Você, sendo um bom entendedor, vai ver que não era só eu que sabia.

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Quando você pretende apresentar provas?

Dentro de um mês ou dois volto para o Brasil. Se me perguntarem, não vou negar. Essa diretoria de arbitragem, com alguns vices, está virada no avesso. O mundo tem de acabar e começar de novo para ficar bom.

Com relação ao caso do Operário...

Sobre clube eu não falo.

A denominação Bruxo você conhecia?

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Ouvi agora pelos jornais. Mas essa prática é coisa velha.

Como foi a sua saída do quadro de árbitros?

Me chamaram para continuar apitando. Fiz uma reunião com eles (os supostos operadores do esquema de corrupção) em um restaurante e pediram isso. Falei: ‘Vocês me abandonaram, fizeram um monte de sacanagem comigo. Fiz tanta coisa por vocês e agora me chutaram. Vou chutar o balde’. Não ameacei. Só falei. Passei da idade de ficar de sacanagem. Então, pára com isso. Não preciso mais, mas se vierem me perguntar alguma coisa, não vou negar.

Você já se submeteu a fazer esse tipo de trabalho?

Não só eu, viu. Agora eu estou tendo coragem para falar. Se alguém tiver coragem como eu, tudo bem. Tenho muitos amigos na arbitragem, amigos que nem no pau-de-arara vou dizer o nome. Estou falando sobre mim. Porque o prejudicado em toda a história fui eu.

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