• Carregando...
“O jogo é mais um elemento. Muitas vezes não o principal. Por isso, mesmo quando sei que a partida será ruim, eu vou. Essa é a vantagem: saber que, independentemente da importância, teu lugar estará lá guardado, com os amigos te esperando.”Gustavo Rolin, torcedor atleticano | Anotonio More/Gazeta do Povo
“O jogo é mais um elemento. Muitas vezes não o principal. Por isso, mesmo quando sei que a partida será ruim, eu vou. Essa é a vantagem: saber que, independentemente da importância, teu lugar estará lá guardado, com os amigos te esperando.”Gustavo Rolin, torcedor atleticano| Foto: Anotonio More/Gazeta do Povo

Conforto

Poltrona e tevê também são opções

Assistir a uma partida de futebol no estádio é algo próximo do indescritível. Se você não é um torcedor, pergunte para qualquer fã de futebol e terá a mesma resposta. Mas a possibilidade de ver todos os jogos do time de coração sentado na poltrona fez muitos aficionados mudarem de perfil.

Dois exemplos chamam a atenção para o efeito pay-per-view: quem, por motivos diversos, trocou o campo pelo conforto do lar e o torcedor que utiliza a televisão como um complemento para sua paixão.

O médico Gérson Sant’anna faz parte do primeiro grupo. Por falta de tempo, trocou as idas esporádicas ao estádio pela tevê e o rádio. "Assistindo em casa, não há preocupação com segurança e trânsito. Além de não me estressar tanto quando o Coritiba perde", afirma.

A comodidade também faz parte dos motivos para que o ex-presidente do Coxa, Francisco Araújo, assinasse nada menos do que três pacotes de televisionamento, um para cada residência. "Fiz as contas. Quando eu era dirigente, gastava viajando com o clube. Agora, quando o Coritiba está longe, ou eu estou em Santa Catarina, ou na fazenda, gasto com o pay-per-view. Fica quase elas por elas", revela. Ele, no entanto, dá sempre a preferência ao Couto Pereira. "Não há maneira melhor de se assistir a um jogo de futebol", define.

  • Sócio:é o preferido da diretoria. Assegura uma arrecadação fixa, que contribui no planejamento financeiro do clube. A fidelidade lhe garante descontos, com planos que vão de R$ 33 a R$ 135 mensais em Curitiba. Se sente como um colaborador do time do coração. Como já pagou mesmo, às vezes encara até os jogos de menor apelo e em momentos ruins da equipe. Quando nada o convence de ir ao estádio, até empresta a carteirinha
  • Torcedor de sofá:quer comodidade, sem abandonar o time. Tem a vantagem de acompanhar todas as partidas no conforto do lar. Os pacotes pay-per-view, com mensalidades a R$ 59, incluem os clássicos, com segurança de sobra. No Brasileiro, dá para espiar até bons duelos adversários. Os jogos podem virar até uma confraternização em casa, com direito à escolha do cardápio e replay
  • Eventual:cada vez mais raro. Quando a partida promete e o time embala, muitas vezes ele está lá. Não perde uma promoção. Escolhe seu jogo com critério. Afinal, paga mais caro pelo ingresso de última hora: de R$ 30 a R$ 140 na capital. Às vezes não consegue e apela para os cambistas só para não perder aquele jogão. Com o número reduzido de bilhetes, está exposto às filas

O jogo muitas vezes é o que menos interessa. Gustavo Rolin, 30 anos, não vê a Arena da Bai­­xada apenas como palco das apresentações atleticanas. É o ponto de encontro para sete amigos da antiga turma do colégio.

Desde 2004, quando decidiram trocar a incerteza do ingresso pela garantia da carteirinha, eles sabem que vão se ver no próximo jogo do Furacão. Em pouco mais de 90 minutos, o grupo, hoje de adultos, volta a sentir a energia e a paixão da adolescência.

É na reta da Getúlio Vargas, na parte de baixo das arquibancadas, entre um lance e outro, um xingamento básico ao juiz ou ao técnico adversário, que o pessoal vai colocando o papo em dia.

"O jogo é mais um elemento. Muitas vezes não o principal. Por isso, mesmo quando sei que a partida será ruim, eu vou. Essa é a vantagem: saber que, independentemente da importância, teu lugar estará lá guardado, com os amigos te esperando", conta o bancário Gustavo.

Cadeiras numeradas e nomeadas também não foram empecilho para que, nestes sete anos, o grupo crescesse. Às vezes, aparece um ou outro desconhecido, o que é mais uma característica do novo formato de torcida no futebol. O sócio, quando não pode ir ao jogo, repassa seu bilhete ou carteirinha.

"A gente ajuda da forma que dá. Quando não posso ir, mando alguém para fazer o meu papel", completa Gustavo. "Pa­­ra quem vai a todos os jogos é vantagem, pois sai mais barato. Além do mais, a torcida maior favorece o time", afirma Adria­­no Padilha, 30 anos, torcedor do rival Coritiba.

No Couto Pereira, as cadeiras não são nomeadas. Mas a economia, de tempo e dinheiro, é igual. Padilha, por exemplo, quando atendeu a reportagem estava chegando ao estádio para ver a classificação do Coxa na Copa do Brasil, contra o Atlético-GO. Sem filas, sem estresse.

Promoções, aliadas ao superfaturamento do ingresso, são os principais fatores que levaram à associação em massa. Mas a fórmula antiquada de decidir ir ao jogo na última hora, e comprar a entrada na bilheteria, embora cada vez menos usual, persiste em regime de exceção.

"Sou sócio olímpico, mas não é automático [o acesso ao estádio]. Às vezes esqueço de pedir a autorização para liberar o ingresso. Aí tenho de comprar", diz o paranista Joel de Almeida. A necessidade, contudo, não é o único fator que faz a bilheteria continuar útil. No caso de Joel, por exemplo, ela ainda é utilizada para um upgrade, quando decide trocar a arquibancada por uma cadeira.

É pela conta da atleticana Mi­­­chele Amaral Teixeira, 31 anos, que o ingresso tradicional prova continuar sendo imprescindível ao torcedor – não ao clube. Ela foi sócia do Rubro-Negro por dois anos, mas nunca conseguiu ir a todos os jogos. Na média, percebeu que mesmo os absurdos R$ 60 ainda eram vantagem para o seu bolso. "Vou de vez em quando, não tenho frequência. Se somar, saí ganhando. Na pior das hipóteses empata", compara.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]