Conforto
Poltrona e tevê também são opções
Assistir a uma partida de futebol no estádio é algo próximo do indescritível. Se você não é um torcedor, pergunte para qualquer fã de futebol e terá a mesma resposta. Mas a possibilidade de ver todos os jogos do time de coração sentado na poltrona fez muitos aficionados mudarem de perfil.
Dois exemplos chamam a atenção para o efeito pay-per-view: quem, por motivos diversos, trocou o campo pelo conforto do lar e o torcedor que utiliza a televisão como um complemento para sua paixão.
O médico Gérson Santanna faz parte do primeiro grupo. Por falta de tempo, trocou as idas esporádicas ao estádio pela tevê e o rádio. "Assistindo em casa, não há preocupação com segurança e trânsito. Além de não me estressar tanto quando o Coritiba perde", afirma.
A comodidade também faz parte dos motivos para que o ex-presidente do Coxa, Francisco Araújo, assinasse nada menos do que três pacotes de televisionamento, um para cada residência. "Fiz as contas. Quando eu era dirigente, gastava viajando com o clube. Agora, quando o Coritiba está longe, ou eu estou em Santa Catarina, ou na fazenda, gasto com o pay-per-view. Fica quase elas por elas", revela. Ele, no entanto, dá sempre a preferência ao Couto Pereira. "Não há maneira melhor de se assistir a um jogo de futebol", define.
O jogo muitas vezes é o que menos interessa. Gustavo Rolin, 30 anos, não vê a Arena da Baixada apenas como palco das apresentações atleticanas. É o ponto de encontro para sete amigos da antiga turma do colégio.
Desde 2004, quando decidiram trocar a incerteza do ingresso pela garantia da carteirinha, eles sabem que vão se ver no próximo jogo do Furacão. Em pouco mais de 90 minutos, o grupo, hoje de adultos, volta a sentir a energia e a paixão da adolescência.
É na reta da Getúlio Vargas, na parte de baixo das arquibancadas, entre um lance e outro, um xingamento básico ao juiz ou ao técnico adversário, que o pessoal vai colocando o papo em dia.
"O jogo é mais um elemento. Muitas vezes não o principal. Por isso, mesmo quando sei que a partida será ruim, eu vou. Essa é a vantagem: saber que, independentemente da importância, teu lugar estará lá guardado, com os amigos te esperando", conta o bancário Gustavo.
Cadeiras numeradas e nomeadas também não foram empecilho para que, nestes sete anos, o grupo crescesse. Às vezes, aparece um ou outro desconhecido, o que é mais uma característica do novo formato de torcida no futebol. O sócio, quando não pode ir ao jogo, repassa seu bilhete ou carteirinha.
"A gente ajuda da forma que dá. Quando não posso ir, mando alguém para fazer o meu papel", completa Gustavo. "Para quem vai a todos os jogos é vantagem, pois sai mais barato. Além do mais, a torcida maior favorece o time", afirma Adriano Padilha, 30 anos, torcedor do rival Coritiba.
No Couto Pereira, as cadeiras não são nomeadas. Mas a economia, de tempo e dinheiro, é igual. Padilha, por exemplo, quando atendeu a reportagem estava chegando ao estádio para ver a classificação do Coxa na Copa do Brasil, contra o Atlético-GO. Sem filas, sem estresse.
Promoções, aliadas ao superfaturamento do ingresso, são os principais fatores que levaram à associação em massa. Mas a fórmula antiquada de decidir ir ao jogo na última hora, e comprar a entrada na bilheteria, embora cada vez menos usual, persiste em regime de exceção.
"Sou sócio olímpico, mas não é automático [o acesso ao estádio]. Às vezes esqueço de pedir a autorização para liberar o ingresso. Aí tenho de comprar", diz o paranista Joel de Almeida. A necessidade, contudo, não é o único fator que faz a bilheteria continuar útil. No caso de Joel, por exemplo, ela ainda é utilizada para um upgrade, quando decide trocar a arquibancada por uma cadeira.
É pela conta da atleticana Michele Amaral Teixeira, 31 anos, que o ingresso tradicional prova continuar sendo imprescindível ao torcedor não ao clube. Ela foi sócia do Rubro-Negro por dois anos, mas nunca conseguiu ir a todos os jogos. Na média, percebeu que mesmo os absurdos R$ 60 ainda eram vantagem para o seu bolso. "Vou de vez em quando, não tenho frequência. Se somar, saí ganhando. Na pior das hipóteses empata", compara.
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