A quarta-feira, 14 de outubro de 2009, está eternizada: é a data em que Diego Armando Maradona, como técnico, colocou a Argentina em uma Copa do Mundo. Foi sofrido, foi turbulento, foi um processo de muito mais trapalhadas do que méritos, mas o ídolo máximo dos argentinos manteve sua divindade. A classificação foi confirmada em vitória histórica no Centenário, em Montevidéu. O 1 a 0 sobre o Uruguai, com gol de Bolatti, mandou a seleção celeste para a repescagem, já que o Equador, que também estava na briga, perdeu para o Chile por 1 a 0. O adversário será Costa Rica ou Honduras.
Esteve longe de ser uma partida bonita, técnica, de grandes virtudes. E pouco importa que tenha sido assim. O duelo desta quarta-feira foi e sempre será marcado por uma dramaticidade única, dada a situação dos rivais - a reunião do desespero de dois gigantes sul-americanos no clássico do Rio da Prata.
Com o resultado, a Argentina fechou as eliminatórias com 28 pontos, na quarta colocação, atrás de Brasil, Paraguai e Chile. O Uruguai foi o quinto, com 24. O Equador parou nos 23 e ficou fora da Copa da África do Sul.
Tensão e até um pouco de violência no primeiro tempo
Duas torcidas eufóricas, famintas pela classificação, formaram o ambiente de um jogo inesquecível. Durante toda a semana, o futebol foi o centro de cada conversa pelas ruas de Montevidéu. O Centenário lotou. Os argentinos apareceram em bom número, cerca de 3 mil pessoas. A entrada em campo das duas equipes fez o lendário estádio balançar: ele recebia, naquele momento, mais um episódio para sua história, construída jogo a jogo desde 1930.
Durante o hino uruguaio, os argentinos cantaram forte, tentaram atrapalhar o momento cívico do rival. Acabaram silenciados por uma enorme voz em uníssono. O Uruguai estava envolto em uma bolha de apoio incondicional. Assim, como se 11 jogadores representassem uma nação inteira, eles partiram para cima da Argentina.
Tentaram. Insistiram. Martelaram. Mas não fizeram. O primeiro tempo foi quase todo do Uruguai. Faltou o gol. Por pouco, mas faltou.
A pressão dos uruguaios teve seu ápice logo no começo da partida. Com três minutos, Diego Forlán, pela direita, acionou o atacante Suárez em profundidade. Virou uma pequena corrida entre ele e o goleiro Romero. Ambos partiram em disparada. O argentino chegou antes e deu um bico na bola, que estourou em Suárez e rumou a caminho do gol. Deve ter durado dois segundos, não mais que isso, o trajeto da bola até a linha de fundo. Foi tempo suficiente para que o mundo parasse para argentinos e uruguaios. E ela saiu.
O Centenário respondeu com um "uuuuuuuh" de incredulidade. E não seria o único. Em cabeceio de Scotti, quase saiu o gol. Em chute cruzado de Álvaro Pereira, também. Até a metade do primeiro tempo, tudo que a equipe de Diego Armando Maradona fez foi correr atrás do adversário.
Argentina acorda E aí os "hermanos" resolveram acordar. Não que tenham criado grande coisa. Longe disso. Mas ao menos conseguiram trocar passes, buscar triangulações, mostrar o mínimo de organização que se exige de uma equipe de futebol. Messi, novamente desaparecido, nada fez. A Argentina tentou sair com Verón, com Di Maria, mas o máximo que conseguiu foi girar ao redor da área adversária. As jogadas de bola parada representaram alguma esperança. Falsa esperança... Mascherano dá carrinho em Diego Forlán. Jogo violento no primeiro tempo Faltaram chances, sobrou pancada. O jogo teve momentos de violência na etapa inicial. Heinze, da Argentina, quase dividiu Rodríguez ao meio. Depois, o mesmo Heinze levou entrada muito forte Maximiliano Pereira. Ninguém foi expulso.
A divindade no segundo tempo
O período final começou estudado, mais centrado no meio do campo, como se as duas equipes temessem atacar. Houve lances de bate-rebate nas duas áreas. Forlan, em avanço pelo meio, buscou o canto do goleiro argentino. A bola saiu por pouco.
Até a torcida estava mais quieta do que antes. Mas aí saiu a notícia do gol do Chile sobre o Equador. O estádio voltou a pulsar. Bastava um gol para o Uruguai garantir vaga na Copa. Um gol e nada mais. Para a Argentina, em contrapartida, o empate passou a valer ouro. Com ele, a classificação estava garantida.
A equipe de Maradona se retraiu. Fechou um ferrolho defensivo e passou a atacar só na boa, geralmente em contra-ataques. Deixou o tempo passar. Como a zaga funcionou bem, conseguiu controlar o Uruguai sem muitos sustos. Mas a tranquilidade jamais foi absoluta.
Aos 28 minutos, o gol uruguaio não saiu por detalhes. Forlan, em falta perto da área, mandou na cabeça de Lugano. Livre, o capitão celeste até conseguiu desviar a bola, mas para fora. Houve um ruído geral no Centenário, um lamento uniforme, como se aquela fosse a última chance.
O Uruguai, conforme o tempo passava, errava mais. A Argentina percebeu e manteve os pés no chão para segurar o resultado. E conseguiu mais. Aos 38 minutos, em falta cobrada por Messi, a bola passou por Verón e sobrou para Bolatti, mandado a campo por Maradona, fazer o gol.
Foi o gol da divindade de Maradona. Ele, gênio eterno como jogador, não poderia manter o posto de Deus com um 0 a 0. Na comemoração após o apito final, Dieguito, extasiado, abraçou jogadores, colegas de comissão técnica e feza festa pela classificação.
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