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O espião atleticano na Libertadores virou coordenador técnico no Brasileiro. Borba Filho chegou ao Atlético no início do ano apenas com a missão de observar os adversários do Rubro-Negro no torneio continental, mas acabou tendo uma importante passagem como técnico interino da equipe, classificando o Furacão para as quartas-de-final da competição, e agora responde por quase tudo que diz respeito ao futebol no clube. É ele quem ouve os problemas dos atletas, discute com os treinadores o esquema de jogo, indica jogadores e até orienta na distribuição dos quartos na concentração atleticana. Função semelhante à do italiano Arrigo Sacchi no Real Madrid (lá, denominado diretor de futebol), como Borba mesmo gosta de comparar.

Uma ascensão rápida com uma explicação simples: competência. Ele mesmo não faz uso da falsa modéstia. "O que me fez ter vontade de ser treinador foi ver tanta mediocridade no futebol. Sabia que se colocasse uma pedrinha a mais já estaria dando a minha contribuição."

Dono de uma língua afiada e um conhecimento ímpar das quatro linhas, há duas semanas Borba teve mais uma prova de que fez escolha certa. A classificação da distante Trinidad Tobago para disputar uma vaga na Copa do Mundo em dois jogos com Bahrein é resultado de um projeto que iniciou com o hoje coordenador. Ele foi um dos primeiros treinadores brasileiros a trabalhar naquele país. Foi em 1998, quando o futebol lá era amador e os atletas ainda se dividiam entre as fábricas e os gramados. O técnico ficou por lá um ano, e antes de sair teve uma conversa séria com os homens da Federação. Disse: "Para crescer tem de profissionalizar". O conselho foi aceito.

"A liga profissional foi criada em 2000 e, coincidência ou não, agora eles estão prestes a chegar na Copa", conta.

Borba chegou a ser jogador de futebol – um volante que começou no juvenil do Atlético –, mas logo aos 32 anos iniciou a carreira de treinador, de onde colheu suas maiores glórias. As mais marcantes, o terceiro colocado no Brasileiro em 1978, dirigindo o Coritiba, o título parananense de 1980, dividido com o Colorado, quando dirigia o Cascavel (o famoso episódio do cai-cai) e a conquista do título de 1984, com o Pinheiros.

Hoje com 66 anos, a experiência do ex-treinador está a serviço do Furacão. E já rendeu frutos. Da primeira fase da Libertadores, trás dois trunfos. O primeiro, a contratação do meia Ferreira. O segundo, as vitórias sobre o Libertad, classificadas por Edinho como sendo 70% em virtude das observações do espião. Sobre essa passagem conturbada do Furacão na competição, Borba não gosta de falar, mas sabe-se que tem uma opinião formada sobre o insucesso dos dois primeiros técnicos do Rubro-Negro no ano – antes de Edinho também Casemiro. Eram inseguros, demoravam para tomar decisões.

Talvez por isso o time da Arena só tenha engrenado na Libertadores sob o comando do espião, que chegou, mexeu com o grupo e afastou logo quem não estava a fim – leia-se Maciel. Resultado: passou pelo Cerro Porteño nas oitavas e entregou uma nova equipe para Antônio Lopes.

O Delegado, aliás, é o único isento de culpa. O técnico que Borba tanto criticou quando era comentarista surpreendeu positivamente. "Nunca vi um homem trabalhar tanto."

Nem as invenções de Lopes na fatídica final contra o São Paulo, colocando André Rocha no lugar de Alan Bahia e tirando Fernandinho da equipe de cima, mudam o conceito. "Nós perdemos o título por não jogar na Arena. Eles sabiam disso, tanto é quando vieram aqui agora tomaram 4".

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