Considerado o diamante bruto das categorias de base do Paraná, o meia-atacante Jhonny Lucas vem sofrendo forte assédio de empresários e grandes times brasileiros antes mesmo de estrear entre os profissionais da Vila Capanema.
Já o Tricolor tenta agir rapidamente e ampliar o salário do jovem de 17 anos, para automaticamente elevar o valor da sua multa rescisória — Johnny Lucas possui vínculo profissional com o clube até outubro de 2019. O Paraná garante deter 100% de seus direitos econômicos. O atleta, por sua vez, assinou recentemente contrato de patrocínio pessoal com a Nike.
Todos os empresários locais nos procuraram. Oferecem dinheiro, casa pra ele, coisas pra família. Tem empresários agressivos. Um me disse que jogaria R$ 1 milhão em cima da mesa e que mudaria a nossa cabeça. Mas com a gente não é assim
Mário Vieira, tutor e o gerenciador da carreira de Jhonny Lucas, reclama da insistência de outros empresários do mundo da bola em várias sondagens. E revela ter recebido também uma proposta oficial do Cruzeiro. Ele cita também o empresário Naor Malaquias, que comprou o jogo do Tricolor contra o Atlético-MG e agora adquiriu a partida contra o Guarani, pela Série B.
“A minha preocupação hoje é só o assédio. O que o Naor [Malaquias] está fazendo não é certo, mas esse é o mundo do futebol. Conversei com muitos empresários, o último que veio foi o empresário do Jadson [meia do Corinthians]”, afirma Vieira, o Mazola, como é conhecido. O empresário de Jadson é Marcelo Robalinho.
Naor não quer comentar o assunto, nem sequer confirma o interesse pelo garoto. Robalinho também não confirma, mas admite que “alguém da sua empresa pode ter observado o menino”.
“Todos os empresários locais nos procuraram. Oferecem dinheiro, casa pra ele, coisas pra família. Tem empresários agressivos. Um me disse que jogaria R$ 1 milhão em cima da mesa e que mudaria a nossa cabeça. Mas com a gente não é assim”, assegura, sem revelar mais nomes.
A fama tem origem no futsal, quando o camisa 10 da base paranista foi eleito o melhor atleta do estado nos anos de 2008, 2009, 2011, 2013 e 2015. Na base tricolor, chama a atenção pelo desempenho acima da média.
Empréstimo rechaçado e estreia na Série B
Mazola conta que o Paraná sugeriu recentemente emprestar Jhonny Lucas para ganhar experiência. A possibilidade foi imediatamente rechaçada pelo administrador de carreira, que não quer ser confundido com empresário, especialmente pela relação próxima com o jovem. “Enquanto o Jhonny não estrear no profissional do Paraná, tem chance zero de sair do clube, mesmo emprestado”, assegura.
“O primeiro sonho dele é ser profissional. O segundo, fazer a estreia no Paraná, com um gol na Vila Capanema. Somente depois disso podem pensar em negociá-lo”, conta Mazola, que já foi chamado pelos diretores paranistas – nestes últimos dias – para apreciar um plano de carreira especial para o jovem.
Ainda segundo Mazola, o projeto é lançar o garoto no time de cima ainda nesta Série B. “Ele vai ter que treinar alguns dias com o profissional, ver se aguenta a parte física, técnica, porque ele tem um estilo de jogo muito intenso”, explica.
Cria do futsal e talento precoce
Mazola é uma espécie de padrasto de Jhonny Lucas. O garoto praticamente vive com ele desde os oito anos de idade. A aproximação se deu ainda nas quadras de futsal da sede da Kennedy, quando Jhonny fez amizade com o filho de Mazola, que também joga no clube.
“Virei responsável pela carreira dele quando ele tinha 11 anos. Mas desde os 8 anos a mãe dele assinou um documento dizendo que eu podia ser responsável por ele”, afirma, revelando que a família do garoto é extremamente humilde.
Assim que chegou ao futsal do Tricolor, em 2008, Jhonny teve o talento reconhecido. “Velocidade, drible, raciocínio, visão de jogo...Quando chegou, o destaque dele foi visto por todos”, relembra Caio Krueger, primeiro técnico de Jhonny no clube.
Quando estava no sub-11, o atleta acabou promovido precocemente à categoria seguinte. “Ele subiu pra treinar com garotos de dois anos a mais e se destacou. Se destacava tanto na parte técnica, individual, um potencial muito forte, e na técnica, de entender a dinâmica e leitura de jogo”, comenta Thiago José Ferreira, que comandava o time sub-13.
Ajuda dos outros pais
Por ser de família humilde, Jhonny recebeu não apenas ajuda de Mazola, como também de outros pais das equipes de futsal do Paraná. Caso de Paula Armentano, mãe do jogador Warley, que até hoje atua com Jhonny na base do Tricolor – ele é filho do ex-atacante Warley, do Atlético.
“Todo mundo ajudava quando tinha que pagar alguma coisa, conforme a gente podia. As viagens para jogos ele não pagava, por exemplo. Dormia várias vezes na casa dos colegas, inclusive na minha”, conta Paula. Ex-coordenador do futsal do Tricolor, entre 1992 e 2011, Josley Luiz de Carvalho, o Duda, relembra a situação.
“É um garoto simples, a primeira vez que pisou numa quadra de futsal foi no Paraná. O Mazola é quem criou ele, pagou colégio”, conta. “Os pais se mobilizavam, levavam roupa, tênis, o Jhonny sempre foi muito querido por todos. Em quadra, a força física, impulsão, chute com as duas pernas, eram coisas que chamavam atenção”, completa.