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Athletico e Coritiba: movimentos femininos ocupam estádios
Athletico e Coritiba: movimentos femininos ocupam estádios| Foto: Divulgação

Os movimentos femininos dentro de estádios de futebol estão cada vez mais fortes. Torcedoras têm se organizado para participarem intensamente. Como objetivo, tornarem as arquibancadas mais democráticas, para que nenhuma mulher se sinta oprimida, seja chamada de “maria-chuteira” ou tenha que explicar o que é impedimento, por exemplo.

No Paraná, o grupo de torcedoras do Athletico, o Atleticaníssimas, é um dos pioneiros. Com quase 40 integrantes, as atleticanas se reúnem em todos os jogos do Furacão para conversar, falar de futebol e se divertir antes do apito inicial.

“O nosso foco é a vivência do Athletico em sua integralidade, a parceria e a partilha de experiências. E como tudo isso surgiu de forma despretensiosa, estamos tentando dar um passo de cada vez, para que não percamos a espontaneidade e nem assumamos uma responsabilidade maior do que aquela que estamos dispostas a carregar”, conta Michele Toardik, representante do grupo Atleticaníssimas.

Atleticaníssimas na Arena da Baixada
Atleticaníssimas na Arena da Baixada| Reprodução Instagram

Como não é incomum para mulheres que frequentam estádios, integrantes já sofreram algum tipo de preconceito. Para as Atleticaníssimas, o crescimento destes grupos e o fortalecimento da presença feminina são importantes nos estádios porque, a cada dia, o campo vai se tornado um espaço menos machista. E o movimento por um ambiente mais diversificado não fica só dentro do Paraná.

“A campanha feita em março, 'Torça como uma mulher', reuniu torcedoras de norte a sul do Brasil, com diversos sotaques. Cada uma relatando as dificuldades que passam nas arquibancadas e procurando apoiar umas às outras. Desse movimento, vários grupos foram convidados a debater essas questões com as diretorias de seus clubes. O que é muito importante, visto que somos um público presente e consumidor”, afirma Michele Toardik. As Atleticaníssimas já tiveram a oportunidade de se encontrar com o presidente do Conselho Deliberativo do clube, Mario Celso Petraglia.

Inspiradas nos movimentos nacionais e também nas rivais do estado, torcedoras do Coritiba criaram o Gurias do Couto. Uma ideia que já vinha sendo alimentada desde o ano passado. As atuais integrantes já buscam mais adeptas para que o movimento ganhe ainda mais representatividade nas arquibancadas alviverdes.

“Em 2018, algumas das integrantes fizeram uma faixa e estenderam no Couto Pereira: 'Gurias sempre presentes'. Talvez ali tenha sido o start, a chama que precisava para a ideia se manter viva e desabrochar no momento que nos encontramos”, conta Natália Oliveira, uma das integrantes do Gurias do Couto.

Gurias do Couto reunidas logo após a criação do grupo
Gurias do Couto reunidas logo após a criação do grupo

Recentemente, no Couto Pereira, ocorreu um caso de assédio. Um homem tentou abusar de uma jovem de 17 anos, que estava pela primeira vez no estádio. O homem foi detido. O movimento Gurias do Couto conta que o episódio influenciou na criação do grupo coxa-branca e acelerou o processo.

“No dia da notícia, o grupo foi criado, para que falássemos sobre o assunto, era necessário um engajamento da pauta. Aconteceu dentro do nosso estádio e cabia a nós, mulheres, torcedoras e sócias ou não sócias, se posicionar. E exigir respeito dentro do nosso espaço. O fato nos deu mais força para se engajar nesse projeto, sabemos que sendo representadas por algo, sempre seremos mais fortes na nossa voz”, diz Natália.

Antes da criação do grupo coxa-branca, as integrantes conversaram com as torcedoras do Furacão para debater sobre a experiência e apoio. As coxa-brancas foram incluídas em um grupo que debate nacionalmente o assunto, já que a união pela feminina não tem cores nem clube.

“É bom ter essa troca com outras mulheres, elas vivem a mesmíssima coisa que nós. O que muda é a cor da camisa. Quanto mais troca, mais completas nós somos”, afirmam as Gurias do Couto.

As torcedoras provam que a união, apesar da rivalidade, é fundamental para a luta contra o preconceito, o assédio e o machismo nos estádios. O crescimento destes grupos só tende a tornar os estádios ambientes mais democráticos e menos opressores para as mulheres, porque liberdade, igualdade e respeito é só o que elas querem.

Conheça um pouco mais dos grupos:

Atleticaníssimas

O grupo de torcedoras do Athletico surgiu em 2016, quando a torcedora Milene Szaikowski, que é historiadora e coautora do livro "Estádio Joaquim Américo - Arena da Baixada 100 anos", convidou oito amigas para debater sobre o Furacão. Aos poucos, com uma amiga trazendo outra, o grupo foi crescendo e já conta com quase 40 integrantes, de todas as idades. No último dia 6 de julho, o grupo comemorou três anos de existência.

“Nosso objetivo é ocupar de fato nosso lugar no futebol, sem estigmas e sem padrões. Torcer, opinar, curtir as dores e delícias que esse esporte proporciona, nos emocionar, participar da vida do clube e ajudá-lo. E, a partir dessa vivência genuína, certamente conseguiremos agregar mais torcedoras e mostrar àquelas que por algum motivo não vão ao estádio que existe espaço para elas. Queremos engajar as atleticanas a viverem intensamente o clube”, comenta Michele Toardik.

As Atleticaníssimas se encontram antes de todos os jogos do Athletico em um estabelecimento próximo da Arena da Baixada. Dentro do estádio, a maioria delas assiste no setor 116, porém há integrantes com a faixa rubro-negra do grupo por todos os setores do estádio.

Gurias do Couto

O grupo nasceu recentemente, mas desde 2018 as integrantes já tinham o desejo de formar um conjunto que representasse as coxas-brancas dentro do estádio. Inicialmente, o Gurias do Couto reuniu Natália, Thalyta, Carolina, Giuliana, Paula e Ana Carolina.

“O objetivo maior é fazer com que as meninas - muitas delas vão sozinhas - frequentadoras do Couto e torcedoras assíduas, se encontrem nos jogos, se reúnam para ver o time fora de casa, estejam unidas para que, essencialmente, não se sintam sozinhas. Nós todas frequentamos o Couto há muito tempo, temos nossos grupos de amigos, mas sabemos que não é assim para todas. Queremos que as gurias que estão por vir, se sintam acolhidas. E as que já “são de casa”, fortaleçam ainda mais suas relações”, explica Natália Oliveira.

As torcedoras também assistem às partidas espalhadas pelo Couto Pereira. Mas, com o crescimento do movimento, pretendem ter um ponto de encontro entre as colegas para que as relações femininas se fortaleçam cada vez nas arquibancadas durante o jogo. Antes das partidas, as torcedoras se reúnem nas escadas do estacionamento da Loja Sou 1909, em frente ao estádio, para falar sobre futebol.

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