O clube Albirex Niigata, do Japão, notificou a Fifa, a Conmebol e a CBF sobre um suposto descumprimento do Athletico quanto à punição aplicada em julho no chamado “Caso Rony”. Impedido pela Fifa de registrar atletas por duas janelas de transferências consecutivas (nacionais e internacionais), o Furacão assinou com três jogadores, o meia Jorginho e os atacantes Renato Kayzer e Fabinho, após o fechamento do último período de contrações do exterior, em 10 de agosto.
De acordo com a petição de cinco páginas que a Gazeta do Povo teve acesso, o time paranaense deveria ser punido com a perda de pontos das oito partidas em que pelo menos um dos reforços atuou.
Foram cinco duelos pelo Brasileirão (Red Bull Bragantino, Vasco, Botafogo, Coritiba e Bahia) e três pela Copa Libertadores (Jorge Wilstermann, duas vezes, e Colo-Colo). Para os japoneses, o Furacão deveria, então, perder dez de seus 14 pontos tabela de classificação da Série A, indo para a lanterna do campeonato, e outros sete pontos no torneio continental, o que causaria sua eliminação na fase de grupos.
O Athletico contou com a anuência da CBF para completar os registros dos atletas em questão. O clube ainda recorreu à Corte Arbitral do Esporte (CAS) por discordar da decisão da Fifa.
Confira a tabela completa do Brasileirão 2020
“Nesse cenário, o CAP não está apenas violando a decisão da Câmara de Resoluções de Litígio da Fifa, mas está obtendo vantagem indevida e injusta em relação aos demais clubes, que também participam das referidas competições e respeitam os diversos regulamentos da Fifa”, diz trecho da petição assinada pelo advogado Breno Tannuri.
“É indiscutível que o CAP (e eventualmente a CBF e os jogadores) estará sujeito às sanções disciplinares estabelecidas no Comitê Disciplinar da Fifa por ter desrespeitado claramente as sanções esportivas impostas pela decisão da Câmara de Resoluções de Litígio da Fifa. Tendo em mente, porém, por violar as disposições da decisão da Câmara de Resoluções de Litígio da Fifa, o CAP tornou-se um infrator reincidente, o que certamente agravará qualquer nova sanção disciplinar que lhe seja imposta”, frisa o documento.
A petição do Albirex Niigata pede que o assunto seja levado ao Comitê Disciplinar da Fifa e também ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e ao órgão judicial da Conmebol para investigação e aplicação de sanções disciplinares ao Athletico, à CBF e aos três jogadores envolvidos. Todos os clubes envolvidos no imbróglio já foram notificados da situação.
O advogado Marcos Motta, que representa o Athletico no caso, vai se reunir ainda nesta quinta com a diretoria do clube para discutir o assunto. Ele garante que os registros foram feitos de maneira correta.
"Vou conversar com o Athletico ainda hoje, mas é um tema que não me tira o sono. O que posso falar é que não houve irregularidade nas contratações", comenta Motta.
A CBF foi procurada pela reportagem, mas não se manifestou sobre o assunto até o fechamento da matéria.
Dúvida sobre a aplicação da punição
Logo que a punição ao Athletico foi divulgada, a CBF questionou a Fifa quanto à abrangência da sanção. O motivo da dúvida? A decisão da Câmara de Resoluções de Litígio fala em suspensão por duas janelas de transferência consecutivas, mas a entidade máxima do futebol no Brasil não adota o termo "janela de transferências" como padrão para registros internos.
Dentro do país, os clubes podem registrar atletas nos prazos de inscrição dos campeonatos. Ou seja, o Athletico seguiu liberado pela CBF para contratar mesmo depois do término da janela internacional, que vigorou de 20 de julho até 10 de agosto. Antes da pandemia, o período programado seria durante todo o mês de julho.
Teoricamente, a punição atleticana começaria a valer na reabertura da próxima janela internacional, entre 9 de outubro e 9 de novembro. Porém, no entendimento do advogado do Albirex, o Furacão já não poderia ter registrado novos jogadores nacionalmente após o fechamento do prazo em 10 de agosto.
Entenda o "Caso Rony"
Em 13 de julho de 2020, o Athletico foi banido pela Fifa de registrar atletas por duas janelas consecutivas (nacionais e internacionais) por causa da contratação do atacante Rony, atualmente no Palmeiras.
A Câmara de Resoluções de Litígio da Fifa também condenou o jogador a pagar multa de US$ 1,3 milhão, aproximadamente R$ 7 milhões, montante que a equipe paranaense responde solidariamente, além de impor quatro meses de suspensão. Tanto o clube como o atacante recorreram à Corte Arbitral do Esporte (CAS).
Rony chegou ao CT do Caju em julho de 2018. Dois meses antes, o atacante entrou com ação na Fifa e conseguiu se desvincular do Albirex Niigata, ficando livre para assinar com outro time.
O time japonês, no entanto, contestou a decisão e conseguiu parecer positivo dois anos depois, justificando que o atacante havia assinado um contrato de três anos. Inicialmente, ele chegou à J-League por empréstimo de um ano do Cruzeiro.
No Furacão, Rony se tornou titular absoluto e participou das conquistas da Copa Sul-Americana e Copa do Brasil. Em fevereiro de 2020, foi negociado por R$ 28 milhões com o Palmeiras, em uma novela que durou mais de um mês.