A medalha de prata na Olimpíada de Atenas, em 2004, e o status de ser a principal jogadora de futebol feminino do Paraná não são suficientes para garantir à meia Dayane Rocha, de 25 anos, nem mesmo um local para treinar em Curitiba.
Sem clube após o fim do time do Novo Mundo (decretado no dia 16), a armadora se divide entre a faculdade de educação física, graças a bolsa de estudos do Dom Bosco, jogos na equipe de futsal da instituição de ensino, o trabalho como treinadora em uma escolinha de futebol e as viagens para representar o catarinense Kindermann na Taça Brasil em troca de R$ 200 por jogo.
Realidade sacramentada logo após Dayane voltar da seleção brasileira. Entre os dias 4 e 15 deste mês, a jogadora participou de um período de treinos na Granja Comary visando ao Sul-Americano, que ocorre no Equador, em outubro.
Ela, a zagueira Marina e a meia Cléo (outras paranaenses da seleção) estão no aguardo da convocação do técnico Kleiton Lima para a competição. Mas nem por isso estão em situação diferente de outras 30 meninas que ficaram a ver navios com o fim do Novo Mundo.
"Estamos envolvidas no projeto de transformar a cor da medalha olímpica de prata para ouro. Mas é difícil chegar em casa e logo saber do fim do meu clube", lamenta Dayane.
Cansado de gastar dinheiro do próprio bolso e não ver o retorno, Moacir Czeck, presidente do Novo Mundo, resolveu encerrar as atividades da equipe adulta. Manteve só as categorias de base, mas também não há grandes perspectivas. É o fim do time que colocou 10 mil pessoas no Couto Pereira para enfrentar o Santos, de Marta, em novembro do ano passado.
"Em 2009 gastamos cerca de R$ 70 mil com a equipe feminina. Sem patrocínio, apoio ou calendário não dava mais", explica o dirigente. "Aceito, mas não concordo", opina Dayane.
Com a expressão do cansaço no rosto, ela atendeu a reportagem na tarde de sexta-feira, minutos antes de iniciar o treino na escolinha do São Caetano, no Bairro Ahú, em Curitiba. Na noite anterior, marcou quatro gols no 8 a 0 do Kindermann sobre as gaúchas do Torrense, em Caçador, Oeste catarinense. Em seguida, dirigiu até as 4h30 da madrugada, dormiu por duas horas e iniciou sua rotina indo para a faculdade. À noite, também estuda, e quase não tem tempo para treinar.
"Pago para treinar. Com transporte, academia, suplemento...", diz. Na semana passada, ela aproveitou a visita do ministro Orlando Silva a Curitiba para pleitear apoio para o futebol feminino. Mas já parece exausta das promessas. "Quando voltamos da Olimpíada [2004], até os jogadores da seleção masculina prometeram ajudar. Mas não fizeram nada", comenta.
Apesar das dificuldades, ela pretende estar no Sul-Americano e talvez em um futuro distante não precisar ir ao exterior atrás de uma salário decente (já jogou na França, Espanha e Itália). "Estou aqui [em Curitiba] por não poder perder essa bolsa de estudos. Não tenho como pagar R$ 1,5 mil por mês. Por que os clubes grandes da capital não investem em futebol feminino? Uma folha de pagamento de R$ 40 mil não representaria quase nada para eles", sugere.
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