Argentinos não sabem do Boca
André Pugliesi, enviado especial à Argentina
Buenos Aires - "Onde está o time?". Com esta charada, a Gazeta do Povo circula pelas ruas da República de La Boca. Como objetivo, descobrir no bairro mais famoso de Buenos Aires, se os xeneizes sabem que sua cria mais ilustre está hospedada no CT do Caju.
Entre os mais diversos hinchas do Boca Juniors, as respostas são quase todas iguais. Uma só apontando para o bunker rubro-negro, onde o clube realiza pré-temporada. Menos mal, o acertador não poderia ser mais representativo. Conjunto de agasalho com o escudo da Albiceleste no peito, barba desenhada e embranquecida nos pontos-chave. Sim, ele mesmo... Dieguito.
"Onde está? Treinando no campo do Atlético Paranaense", rebateu o sósia de Maradona, Escolástico Mendes, figura manjada no Caminito, atração turística que divide as atenções com a Bombonera na área dos italianos.
O fake de El Diez conhecia até a polêmica envolvida na viagem. Dirigentes do Boca escolheram a capital paranaense buscando um refúgio de clima "tropical brasileiro". Porém, ao desembarcar no Afonso Pena, encontraram frio igual ou pior do que o de Buenos Aires. "Soube que a temperatura está muito baixa e isso não era esperado."
Situação completamente ignorada pelo moleque Juan Martin, 13 anos. "O time está de férias, depois volta para treinar na Casa Amarilla (CT do Boca). O campeonato só começa em agosto, por isso."
Andre Briolote, funcionário de um restaurante próximo ao estádio, onde brilha uma mini-Bombonera na entrada, mostrou desconhecimento semelhante. "Acredito que os jogadores estão descansando", afirmou. Alertado sobre o paradeiro, continuou por fora. "Atlético Paranaense? Confesso que não conheço."
A pré-temporada do Boca Juniors em Curitiba, que encerra hoje, após 12 dias, é o principal passo do Atlético para fortalecer a estrutura do CT do Caju no cenário internacional e transformá-lo em uma das principais receitas do clube. E as metas são ousadas.
A médio prazo, além de equipes de ponta da América do Sul como o próprio Boca e o paraguaio Cerro Porteño, que em janeiro também fez pré-temporada no centro de treinamentos atleticano , o clube pensa em atrair equipes europeias. O local é endereço praticamente certo de algumas das seleções que disputarão o Mundial de 2014, a exemplo do Brasil, que antes de embarcar para a África do Sul, em 2010, usou a estrutura.
"Nós pesquisamos e descobrimos onde há demanda. Apresentamos a estrutura e acertamos o tempo de estada. Os valores são definidos entre as diretorias", explica o coordenador do departamento de Relações Internacionais do Atlético, Rafael Andrade.
Ano passado, conforme edital de balanço do Furacão, o CT rendeu R$ 1,9 milhão ao cofre rubro-negro, com pré-temporadas de equipes e seleções e intercâmbio de atletas nacionais e estrangeiros das categorias de base. Em 2009, o clube faturou R$ 1,2 milhão. No caso de grupos maiores, o Furacão disponibiliza comissão técnica à parte. Norte-americanos, asiáticos e australianos estão entre os intercambistas mais frequentes.
Antes de vir a Curitiba, a diretoria do Boca afirmou que a pré-temporada fora de Buenos Aires seria por causa do frio rigoroso do inverno argentino. Entretanto, avisa Andrade, os hermanos foram informados de que assim como lá, a temperatura aqui estaria tão baixa quanto ou até mais.
"Informamos tudo sobre o clima. Eles ficaram espantados é com a estrutura. E o bom de um clube de ponta mundial, como o Boca, é que nós também aprendemos trocando experiências", afirma Andrade.
O CT do Caju causou boa impressão à equipe do ex-camisa 10 da seleção argentina, Juan Román Riquelme. O presidente do Boca, Jorge Amor Ameal, chegou a cogitar um convênio com o Furacão. "Temos poucas boas estruturas na Argentina. O Atlético tem de ficar orgulhoso do que tem. Escolhemos pela estrutura e privacidade", considera Ameal.
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