Quem vê Nikão com seu o jeito pacato e simples, típico dos mineiros, não imagina o que o meia enfrentou até se tornar ídolo no Atlético. Maior artilheiro da Arena da Baixada pós-Copa, com 11 gols, o jogador pode ser considerado veterano com apenas 25 anos. Rodou por 14 clubes na base e no profissional, peregrinou pelo Brasil e até pelo mundo para, finalmente, brilhar com a camisa rubro-negra.
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O atleta era uma aposta antiga de Mario Celso Petraglia, presidente licenciado do Conselho Deliberativo. O dirigente já acompanhava Nikão desde os 15 anos e sempre quis trazer o seu futebol para o Atlético.
“O Atlético era o lugar certo para o Nikão e o Petraglia acompanhava ele desde garoto no Mirassol. E eu sabia que era o lugar certo porque eles realmente treinam no Atlético. O clube não iria dar brecha para ele se desvirtuar”, revela Wanilton César Silva, o Cesinha, pai de criação de Nikão.
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A história de Nikão caminhava para longe dos gramados. Dono de uma habilidade impressionante na perna esquerda, o meia teve uma infância árdua. Cesinha conheceu Nikão com nove anos “driblando todos os meninos” em um campinho de terra em Montes Claros, Minas Gerais.
“Passei de moto e vi aquele negrinho driblando para lá e para cá. Eu era olheiro e trabalhava numa escolinha. Conheci a família e me apeguei com a história dele. Não foi fácil. A mãe morreu de câncer quando ele era garotinho. O pai verdadeiro ninguém sabe o paradeiro até hoje. Nem se está vivo ou morto. E a avó que o criava tinha uma doença gravíssima. Antes de morrer, ela pediu para eu e minha esposa cuidarmos dele. E eu aceitei”, conta Cesinha.
Álcool e criminalidade
Com 11 anos, Nikão foi levado para o Mirassol. Morava em um apartamento com outros garotos da base, tudo arranjado pelo dono do clube na época, o empresário Carlos Roberto de Carvalho. Lá chegou a ganhar o apelido de “Maradona Negro”. De lá, foi para a base do Santos, mas conforme o tempo passava, aumentavam os problemas fora de campo.
“O Nikão morava num lugar barra pesada e mandei ele para Mirassol. Ele viu muito caixão na sua frente. O irmão mais velho tinha envolvimento com criminalidade e morreu num acidente de carro. E por tudo que ele passou, andava com gente da pesada. Desde garoto já bebia. Ele era arretado, já saia com mulheres, não tinha limite. A única coisa que ele não fazia era se envolver com drogas”, relembra Cesinha.
“Ele estava envolvido só com gente ruim e ninguém mais queria cuidar dele. Então eu e minha mulher fomos para Santos para morar com ele. Larguei tudo em Montes Claros porque ele é um filho para mim. Do contrário, ele teria se perdido na criminalidade”, prossegue, emocionado, o pai postiço.
Nikão ainda fez testes na Holanda, Rússia e na Arábia Saudita durante a adolescência. Mas por problemas de documentação, ficou três meses fora do país ‘pingando’ em diversos clubes do exterior. No seu retorno, passou pela base do Palmeiras antes de chegar ao Atlético-MG.
Em 2010, o toque refinado do meia chamou a atenção de Vanderlei Luxemburgo, técnico do Galo na época responsável pela sua promoção ao time profissional. Na base, o meia era comandado por Rogério Micale, atual treinador do clube mineiro e campeão olímpico na Rio-2016. Mas as constantes noitadas e a forma física impediam o atleta de ganhar uma sequência.
Volta por cima no Furacão
Antes de ser contratado pelo Atlético, no início de 2015, Nikão foi emprestado para vários clubes para ganhar experiência. Entretanto, a história era sempre a mesma: arrebentava no início e caía de rendimento logo em seguida.
Foi assim na Ponte Preta, América-MG, Linense e Ceará. Em 2013, Muricy Ramalho até tentou leva-lo para o São Paulo, mas o clube vetou a contratação pela conduta pessoal. “Os clubes tinham receio em investir. Ele estava meio que largado, bebendo, só curtindo a vida. Eu levei ele para o Linense para ter um baque em um clube menor. Ele ficou até no banco lá e daí começou a acordar”, explica Cesinha.
Mas o início no Furacão foi muito difícil. O próprio Cesinha revela os pedidos de Nikão para sair do clube. “Ele ligava me xingando sempre. Queria ir embora, dizia que não era maratonista, que só ficava correndo”, conta. Quando chegou no CT do Caju, Nikão estava 10 kg acima do peso ideal e não viajou com elenco principal para a Europa. Quando estreou, fora de forma, foi contestado e quase rebaixado no Estadual.
Mas dois anos depois da desconfiança, Nikão se tornou realidade e caiu nas graças da torcida. “ Hoje ele brinca, diz que está ficando cada vez mais fácil jogar bola, que está no auge e se sente bem. Se casou com a Isabella e teve o filho, Thiago. Ele gosta muito da cidade, do clube e não pensa em sair. Ele me disse que é a fase mais feliz de sua vida”, finaliza Cesinha.
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