A Inoovi, empresa francesa anunciada como parceira do Atlético na última sexta-feira (29), e a moeda virtual IVI, produto que as duas partes esperam promover, têm sido encarados com desconfiança por parte do mercado. Para especialistas em criptomoedas, há muito mais dúvidas do que certezas sobre a nova moeda, criada com foco no mundo esportivo. Motivo de alerta. Como em atividade financeira, confiança é fundamental, a orientação é ter cautela. Ceticismo este que não incomoda a empresa estrangeira, tranquila e confiante em sua investida no mercado brasileiro - que deve se intensificar.
O site Guia do Bitcoin foi o primeiro a alertar sobre a nova parceira do Furacão. De maneira contundente. Em postagem feita no dia 1º de julho, com uma imagem que traz, em inglês e com destaque, a mensagem “Alerta de fraude”, a publicação diz logo na abertura do texto que os clubes (Corinthians e Atlético) “podem estar sendo palco para um golpe bizarro envolvendo criptomoedas”.
Até o momento não há qualquer irregularidade constatada na negociação da IVI, apenas indícios que levantam suspeitas, no mínimo, de um amadorismo inapropriado para uma empresa do ramo financeiro. Desconfiança que o CEO da Inoovi, Fernad Danan, espera superar em breve com trabalho de conscientização. “Sabemos o que estamos fazendo. Que algumas pessoas estão felizes, outras mais críticas. Sabemos o que estamos oferecendo. E não temos nada a esconder”, resume, em entrevista por telefone à reportagem da Gazeta do Povo.
São vários os itens elencados para explicar o receio com a operação da Inoovi, cuja sede ficaria em Hong Kong. “Chega a ser difícil escolher por onde começar a falar das inúmeras bandeiras vermelhas que surgem com uma consulta simples aos textos e propostas oferecidos no site”, afirma o Guia do Bitcoin. O aparente desleixo com o site oficial da empresa, escrito com nível de português bastante desajeitado, é o primeiro ponto que incomodou os analistas.
Danan admite problemas no endereço virtual do produto, mas considera a situação normal. A justificativa é de que a companhia ainda está começando e fazendo ajustes constantes. “A questão é que não fingimos ter um site top. Estamos fazendo correções, atualizações, tudo. Nossa empresa tem apenas um ano de existência. Estamos fazendo nosso melhor”, explica. Segundo a avaliação do presidente, se fossem planejar um lançamento “perfeito desde o primeiro dia”, levaria ainda mais um ano para entrar no mercado. A opção foi corrigir as falhas no meio do caminho.
Explicação que se estende ao whitepaper (documento que rege as regras de cada criptomoeda e que ajudam a dar segurança ao investidor). O Guia aponta falhas no documento, em especial a falta de fundamentos técnicos sobre segurança e procedimentos básicos de compra e venda para o usuário. Danan afirma que o whitepaper será atualizado em duas a quatro semanas.
Ismair Junior Couto, diretor jurídico da Bitcoin Banco (empresa focada na aquisição e circulação de criptomoedas), propõe cautela ao potencial investidor nesse momento. “Não [recomendaria a moeda IVI aos clientes], seguramente não. Do ponto de vista jurídico, temos que tomar alguns cuidados com novas moedas. Trabalhamos apenas com moedas que têm reputação positiva no mercado nacional e internacional”, opina. “Por que usar uma moeda nova se poderia utilizar tranquilamente moedas que já existem, têm um lastro de segurança?”, questiona.
A confiança nas criptomoedas tem relação também com as exchanges - plataformas de negociação de moedas virtuais - que incluem a IVI em sua lista. O Guia do Bitcoin alerta para a ausência de locais que negociem o produto da parceira atleticana. “O mais provável é que o investidor morra com a moeda na mão na incapacidade de trocá-la por qualquer coisa”, diz a publicação. Cenário real, mas que o CEO da Inoovi promete que irá mudar. Já teriam sido abertos processos de aplicação para a Binance e a Exchange brasileira Braziliex. O prazo estipulado é de mais 2 ou 3 semanas para a finalização do cadastramento.
PARCERIA: Atlético anuncia parceria com empresa francesa de moeda virtual
Apesar de não ser exatamente ilegal, a bandeira defendida pela empresa em seu lançamento no país, de isenção de impostos, também não caiu bem para Couto. “Uma moeda que já nasce querendo driblar as regras de um estado soberano já deveria alertar os usuários. No caso do Bitcoin Banco, nós respeitamos a legislação, embora ela não exista especificamente para a criptomoeda”, avaliou, entendendo que a atitude da empresa seria um mau sinal. O presidente da Inoovi se defende explicando que a moeda IVI é um token de utilidade (utility) e que, por isso, não haveria impostos em qualquer lugar do mundo. Os tokens de utilidade são diferentes dos de segurança (security), que estão sujeitos a regulamentos federais de valores ativos.
Outro ponto levantado pelo Guia do Bitcoin foi o funcionamento do processo de compra e venda dessa moeda virtual. Danand confirmou o sistema através do MercadoPago e a intenção de fechar contratos com bancos brasileiros também, para poder realizar as operações.
Mercado brasileiro
O CEO da Inoovi revelou que a empresa está em contato com outros oito clubes brasileiros. Em um mês, ele pretende desembarcar no Brasil para se reunir com essas agremiações e com bancos, além de mirar ainda um encontro com a CBF. Sobre a inclusão de jogadores brasileiros na lista de usuários - apenas esportistas franceses desconhecidos fazem parte do rol atual -, Danan está convicto de que “eles virão naturalmente”. A empresa não pretende bater à porta deles.
Atlético
Danan também esclareceu o tipo de negociação feita com o Atlético. Segundo ele, parte do pagamento ao clube foi feito em dinheiro e outra parte em tokens - ou seja, quanto mais a moeda valorizar, mais o Furacão embolsaria. O dirigente também confirmou a parceria com o Corinthians.
A reportagem procurou ambos os clubes para esclarecer as dúvidas sobre o negócio, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria.
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