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Polêmicas fazem parte do marketing do mundo das lutas. No MMA (Mixed Martial Arts, o popular vale-tudo), a história não é diferente. Que o diga o curitibano Anderson Silva. Campeão entre os Médios (até 84 kg) do Ultimate Fighting Championship (UFC), maior evento da modalidade no planeta, o lutador de 34 anos costuma dar declarações consideradas autênticas e sinceras, mas para lá de polêmicas.
Antes da sua viagem para os Estados Unidos, onde enfrentará o americano Forrest Griffin no UFC 101, marcado para o dia 8 de agosto na Filadélfia, Anderson Silva conversou com a Gazeta do Povo. O curto período em Curitiba, sua terra natal, serviu para rever amigos, alunos e curtir a família. Todavia, a língua sempre afiada aprontou das suas. Questionado sobre a aguardada luta entre o amigo e campeão Lyoto Machida e o curitibano Maurício Shogun, o "Spider" não titubeou: "Estarei torcendo para o Lyoto."
"Tenho um respeito grande pelo Shogun, é um grande atleta, vem demonstrando isso nas suas últimas luta, está voltando bem e se recuperou de lesões, até acho que a luta com o Lyoto poderia acontecer, mas mais para frente", afirmou Silva. O lutador também falou sobre o outro curitibano e ex-companheiro dos tempos de Chute Boxe, Wanderlei Silva, do passado, do presente e do futuro. A aposentadoria e os planos de lutar boxe contra o renomado Roy Jones Jr. seguem em pauta.
Confira a entrevista completa com Anderson Silva:
Anderson, o que você espera desta luta contra o Forrest Griffin?
Estou treinando, é mais um desafio, mais uma vez vamos colocar o que estamos fazendo à prova, ver se funciona. Ele é um atleta duro, um cara que já foi campeão do UFC. Estou treinando focado nesta luta, vamos ver o que vai dar.
Lutar novamente entre os Meio-Pesados facilita ou dificulta a sua vida no UFC?
Tanto na minha categoria (a dos Médios) quanto na de cima existe atletas de alto nível. Será uma luta difícil, assim como todas as outras foram. Vou treinar e trabalhar pelo máximo de acertos lá.
Treinar no Brasil ou nos EUA, qual é melhor? E os trabalhos com o Minotauro para a luta dele no UFC 102, contra o Randy Couture, como vão?
Estava trabalhando aqui no Brasil, ainda não sei quando irei para os Estados Unidos. Mas é aquela coisa, todos os meus amigos acabam treinando juntos e nos ajudando. Esta luta do Minotauro será dura. Lá em casa existe um pé de "se" e outro de "acho". Você tem que estar treinando, o Couture é um cara a ser respeitado, a luta será determinante pro Minota no UFC e toda a equipe sabe disso. A luta é nossa e eu estarei indo até para ajudá-lo, acho que a luta dele é até mais importante que a minha.
E a luta entre o Lyoto Machida (campeão invicto do UFC entre os Meio-Pesados) e o Maurício Shogun (curitibano desafiante) no UFC 104, em outubro em Los Angeles, o que você espera?
O Lyoto dispensa comentários, sou suspeito para falar porque é meu amigo pessoal. A questão é que o Shogun levou sorte porque dois caras que poderiam lutar com o Lyoto (Rashad Evans e Quinton Jackson) estarem fazendo o reality show do UFC (Ultimate Fighter). Então sobrou ele, a organização está dando esta oportunidade a ele pelo cinturão, mas eu acho que ele não merece. Tenho um respeito grande pelo Shogun, é um grande atleta, vem demonstrando isso nas suas últimas luta, está voltando bem e se recuperou de lesões, até acho que a luta com o Lyoto poderia acontecer, mas mais para frente. Espero que ele aproveite, porém estarei torcendo para o Lyoto. Ele tem todas as condições de manter o cinturão, estaremos treinando juntos e vamos aguardar o resultado. Que vença o melhor.
Uma declaração como essa Anderson não pode dar margem para novas polêmicas envolvendo o seu nome?
A realidade é essa, não que o Shogun não esteja preparado, mas quanto tempo o Lyoto levou para chegar lá? O Shogun fez duas lutas e o Lyoto fez quantas? É algo óbvio. Não estou aqui para falar mal de ninguém, a vida é feita de oportunidades e eu disse aos nossos empresários que esta luta não deveria acontecer, o Shogun não fez lutas suficientes para se credenciar ao cinturão. Achei prematuro, se fosse eu não aceitaria. O Shogun é um grande campeão, precisa ser respeitado, mas é a minha opinião.
E aquela polêmica com o Wanderlei Silva? Ele não gostou de algumas coisas que você falou, assim como dos treinos seus com o adversário dele na última luta (Rich Franklin), e disse também que gostaria de te enfrentar...
O Rich treinou comigo e com os meninos lá nos EUA. Falei a ele que seria uma luta dura, disse que devia seguir um determinado caminho para chegar ao resultado mais positivo. Ele fez o que deveria ter sido feito com os seus treinadores, lutou bem, mas poderia ter ido melhor (apesar de ter vencido Wanderlei por decisão dos juízes). Quanto ao Wanderlei não tem o que falar né, somos lutadores e temos que falar pouco e fazer mais, não ficar fazendo este marketing negativo. Respeito ele como lutador assim como os outros. Existem grandes atletas no mundo todo, e é o que eu disse, as oportunidades que temos precisam ser aproveitadas. Tem gente muito melhor que eu por ai, só que não está tendo a chance, alguém que poderia me vencer e nós não conhecemos. Acho que agora está todo mundo feliz, o príncipe, o rei e o bobo (risos). Faço as palavras do Romário minhas. A vida não é fácil, o negócio é treinar, para que ele faça as lutas memoráveis que fazia no Pride.
Como você vê este seu título de "melhor de MMA lutador do mundo", entre todos os pesos e eventos?
Particularmente estou sempre em uma transformação constante, aprimorando a parte técnica. Falei para o Dana White (presidente do UFC) que estou treinando para enfrentar os melhores, fazer grandes lutas, independente de quem seja. Procuro estudar muito o meu trabalho, não faço nada por fazer, vejo as minhas lutas todos os dias, procuro me aprimorar em todos os sentidos. Não me preocupo muito com o resultado, em vencer ou no dinheiro. Penso apenas em sair de lá como entrei, ou seja, inteiro, e é isto que está fazendo a diferença para mim e para a minha equipe. Procuro me manter desta forma, não procuro nocautear sempre, é algo que acontece enquanto busco a luta. Tento bater em cima dos erros do meu adversário, não é interessante para mim me expor, correr riscos desnecessários. Estou ficando mais velho e, desde que comecei a lutar, nunca sofri um arranhão ou fiquei com a cara quebrada. Quem entende de luta vê isso. Deus me perdoe pelo que vou dizer mas estamos anos luz na frente de alguns atletas. Também podemos cometer erros, estudando nós vemos, porém a olho nu não aparece.
Teremos em agosto a luta feminina de MMA mais aguardada da história, entre a Gina Carano (campeã do Strikeforce) e a curitibana Cris Cyborg (da Chute Boxe). Você acompanha o mundo das lutas entre as mulheres, e o que espera desta luta?
A Cris vem mostrando muita competência, tem um grande treinador (Rafael Cordeiro), que já foi meu treinador também, enquanto a Gina também é uma grande lutadora. Temos que aguardar, será uma das maiores lutas da história do MMA, vai revolucionar o esporte e eu considero isso bom. Não sei se outras meninas terão mais espaço para lutar depois disso, porque o nosso esporte ainda é totalmente machista, é aguardar. Vou estar torcendo pela Cris.
Especulou-se nas últimas semanas que o Luiz Azeredo, um dos quatro atletas a terem te vencido, e o Vitor Belfort (ex-campeão do UFC) poderiam cruzar o seu caminho mais adiante. O Azeredo até declarou que te dá a revanche. O que você acha destes boatos, destas possibilidades?
O Azeredo é um bobo, vai tentando cair de pára-quedas. Ele lutou comigo no vale-tudo e foi nocauteado no muay thai. Já o Vitor não é meu amigo, se esta luta acontecer vamos estar treinando para lutar. Sou muito amigo do Lyoto, do Minotauro, do Minotouro, irmãozão do Pelé (Landi, ex-Chute Boxe), do Pedro Rizzo, enfim, com estes caras eu nunca lutaria. O Murilo Bustamente já foi meu treinador e é outro que nunca enfrentaria, o Paulo Filho, o Ricardo Arona, estes caras não aceito encarar. Respeito o Vitor, já treinei junto com ele quando ele morava em Minas, agora é fácil todo mundo querer enfrentar o Anderson Silva, aquele que criou polêmica com o Wanderlei, com o Demian Maia. Sempre me perguntam com quem quero lutar a seguir, e eu sempre digo que tenho que passar por muita coisa ainda, tenho muita coisa para viver e que quero enfrentar os melhores. Desde o começo da minha carreira é assim.
E os seus planos de aposentadoria, seguem mantidos para depois do fim do seu contrato com o UFC?
Acho que já valeu, estou bem satisfeito com os meus resultados, e quero manter da mesma forma até o fim. Tenho outros projetos, quero ficar mais perto dos meus filhos, eles estão em uma fase ótima para que eu os acompanhe, no esporte, no estudo. Quero também dar oportunidade aos meus alunos e amigos, passar a minha experiência como lutador, como técnico. Também quero abrir a minha escola, quem sabe aqui em Curitiba. A minha contribuição ao MMA está chegando ao fim, o que eu tinha que provar para mim mesmo eu já provei. Quero ainda participar de competições de quimono e sem quimono.
E a luta de boxe contra o Roy Jones Jr., vai acontecer mesmo?
Não tenha dúvida, vai acontecer porque temos conversado muito, ambos os managers meus e os dele. Assinamos alguns contratos já, de hombridade, vamos aguardar para que ela ocorra o mais rápido possível, não pelo dinheiro ou pela mídia, mas sim pela minha vontade. Acompanhei o Roy Jones desde que ele lutou no boxe amador, que foi às Olimpíadas e perdeu. Quero muito fazer esta luta, botar no ringue tudo o que eu sei, para que quando eu chegue a ser treinador eu possa dizer que isso ou aquilo eu entendo, não bancar o "papagaio de pirata". Quero dar dicas e passar experiência com conhecimento. Antes disso o foco é o UFC, o Dana me trata super bem, todos do evento também, porém temos que procurar o que é melhor para nós.
Quantas lutas ainda restam no seu contrato?
Tenho mais quatro ou cinco.
Não há dinheiro no mundo que faça você rever esta decisão?
Não faço mais isso pelo dinheiro. Já fui ao Mato Grosso, no começo da carreira, lutar com R$ 50 no bolso só para ganhar R$ 500. Fiz isto pelo dinheiro? Fiz porque eu gostava, o esporte que faço é arriscado e tem que ser remunerado. Mas é aquele negócio, faço porque amo, pelo trabalho, porém está na hora de parar e rever as coisas.
Nem a chance de termos uma nova edição do UFC no Brasil faz você pensar de outra forma?
Se tiver mesmo, posso até estar na plateia (risos).
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