Entrevista
Aos 37 anos, herói de 2001 vê chance de rever amigos e torcida atleticana
Há quase nove meses, Alex Mineiro entrou pela última vez em um campo oficial de futebol. Uma partida festiva na Arena da Baixada, no dia 18 de dezembro, entre os campeões brasileiros de 2001 e os campeões da Série B de 1995. Será exatamente por causa do título de 2001 que Alex voltará a campo hoje, pelo Bairro Alto, na Suburbana. Convidado por Nem e Alex Mineiro para defender o Caba, Alex quer, acima de tudo, matar saudade da cidade e dos amigos que estiveram presentes no momento mais glorioso da sua carreira. O ex-atacante de 37 anos, hoje atuando no ramo da construção civil, falou ontem com a Gazeta do Povo horas antes de embarcar para Curitiba.
O que te atraiu nessa proposta do Bairro Alto?
O Nem e o Rogério Corrêa ligaram me convidando. Disseram que o dono do time é atleticano e que está fazendo um investimento para vencer o campeonato. Estive em Curitiba há 15 dias para assinar contrato, mas não sei se poderei ir a todos os jogos. Vou mais para dar uma passeada em Curitiba.
Tem jogado com frequência?
Nada. Estou parado há bastante tempo. Meu último jogo foi em dezembro, na Arena. Depois fiz três jogos do showbol pelo Cruzeiro e só. Tenho feito academia três vezes por semana para não ficar totalmente parado.
Os atleticanos estão muito animados com essa junção de campeões brasileiros no Bairro Alto. Isso te animou também? Espera ver torcedores do Atlético assistindo aos seus jogos?
O carinho do torcedor sempre vai existir por tudo o que conquistamos no clube. Sei que o Atlético tem jogo no mesmo horário que o nosso amanhã [hoje], mas aos que forem ver o Bairro Alto, vai valer a pena. Faremos um bom jogo.
"Chega na sexta, se reúne com o grupo para conhecer os companheiros e tomar uma água que você sabe qual é. No sábado joga uns 20 minutinhos, só para fazer uma graça. Semana que vem joga para valer." Com o despojamento típico do futebol amador, o presidente do Bairro Alto, Cláudio Cunha, define a chegada da mais galáctica contratação da história da Suburbana.
Alex Mineiro, herói do título brasileiro do Atlético em 2001, estreia hoje, às 15h30, em casa, pelo Bairro Alto contra o Capão Raso, na última rodada da primeira fase do Campeonato Amador. O eterno camisa 9 rubro-negro é apenas a mais reluzente estrela do Caba.
Para defender o título, o clube montou uma seleção de jogadores profissionais aposentados de preferência com o mais importante título rubro-negro no currículo. Já defendem a equipe os ex-zagueiros Nem e Rogério Corrêa. O volante Douglas Silva, reserva do time de Geninho, estreia com Alex. Reinaldo, revelação do Atlético-MG dos anos 90; Edmílson, ex-Coritiba e Palmeiras; e Alex Lopes, volante rubro-negro nos anos 90, completam a constelação. Um ideia, claro, nascido numa mesa de bar.
"Começou em uma brincadeira de fim de semana numa cervejinha. Ele falou em trazer os campeões de 2001 e fomos atrás", explica Cunha. O capitão Nem, a partir de hoje, será o treinador do time.
"Ele" é Sidney Felipe, dono da Brameincol, empresa de metalurgia com sede em Colombo (Região Metropolitana de Curitiba). Patrocinador do Ana Terra, clube amador de Colombo, Felipe começou a por dinheiro no Bairro Alto ano passado, graças à amizade com o Cunha corretor, o presidente do Caba vende seguros para o dono da metalúrgica. O clube foi campeão (com uma robusta premiação de R$ 50 mil) e o mecenas decidiu aumentar a aposta para a atual temporada.
"O sonho da vida dele era trazer esses caras campeões de 2001. É fanatismo. Sou coxa-branca e no meu time eles não jogariam. Mas não posso perder o patrocinador", brinca Cunha.
O ex-volante Cocito foi o primeiro a ser procurado pelo Caba, treinou por duas semanas no clube. Recusou para ter os fins de semana livres e indicou Rogério Corrêa. Apesar da recusa, Cocito ficou impressionado com a oferta do Bairro Alto.
"Pagam um dinheirinho legal. Dá para tomar várias geladas e fazer um belo churrasco depois do jogo. E com uma galera", compara.
Na Suburbana, os jogadores são pagos por partida. No Bairro Alto, o cachê bate em R$ 3 mil para os reforços mais ilustres, com luvas de R$ 5 mil na assinatura do contrato. Ou seja, se o Caba chegar à final sempre com Alex Mineiro em campo, o ex-atacante rubro-negro disputará nove partidas e receberá R$ 32 mil. Pouco para quem acostumou-se com salários de três dígitos, mas muito para um campeonato amador, em que nem se exige a presença em treinamentos.
Alex Mineiro, Reinaldo e Douglas Silva passarão a semana nas suas cidades (Belo Horizonte para os atacantes; Rio para o volante), chegam a Curitiba na sexta e voltam no domingo. Passagens aéreas e estada, claro, pagas pelo clube.
"Não posso falar o valor investido, mas daria para disputar a Série B do Paranaense", compara Cunha.
Exceto o Paraná Clube, os demais participantes da Segundinha deste ano desembolsaram algo em torno de R$ 200 mil por três meses de competição.
Embora muito maior no Bairro Alto, o investimento é questão de sobrevivência na Suburbana. "O time que não contratar quatro, cinco ex-profissionais hoje em dia não vai a lugar nenhum", resume Nelson Dias Ugolini, o Abatiá, diretor de futebol amador da Federação Paranaense.
Apesar do evidente desequilíbrio técnico, Abatiá é favorável à busca por profissionais para reforçar a presença de público nos estádios. "Neste ano cresceu em 40%", contabiliza.
A chegada de Alex Mineiro deve aumentar este efeito. O frenesi causado entre os atleticanos foi tamanho, que até cogitou-se a presença da Os Fanáticos nas partidas do Caba, algo desmentido pela organizada. De qualquer maneira, para o torcedor comum será uma oportunidade única de rever velhos ídolos. E, como manda a tradição da Suburbana, ter até mesmo chance de brindar as vitórias com eles.
Serviço:
Estádio Pedro de Almeida Andrade, capacidade para mil espectadores. Endereço: Rua Joaquim da Costa Ribeiro, sem número, Bairro Alto. A entrada é franca.
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