Entidades divergem sobre ação da PM
A briga que ofuscou a classificação do Atlético à Libertadores provocou um jogo de empurra com relação à ausência da Polícia Militar (PM) dentro da Arena Joinville. De acordo com o tenente-coronel Adilson Moreira, responsável pelo policiamento nos arredores da praça esportiva, um acordo com o Ministério Público (MP) foi o motivo pelo qual os policiais permaneceram fora do estádio até o início da confusão. Fato que teria sido comunicado ao Atlético no dia 24, no jogo contra o Náutico, no mesmo local.
Ontem, dez pessoas foram presas pelos incidentes. "É evento privado", resumiu Moreira, para explicar a ausência da PM. O MP, por sua vez, afirma "que não fez nenhuma recomendação ou ação" para impedir a PM de atuar no interior do estádio.
Assim, o Atlético poderia ter requerido presença policial no local, além da empresa particular de segurança. Aliás, pelo contrato assinado com a prefeitura de Joinville, a segurança era prerrogativa do Furacão. O presidente Mario Celso Petraglia, no entanto, contesta. "Como vamos mandar aqui em outra cidade, em Santa Catarina? A gente não tem poder de polícia. Para aquele grupo de marginais, quantos seguranças teríamos de ter? Quem paga por isso? Essas deformações, essa conjuntura, essa estrutura que vejo e sinto a necessidade de mudarmos radicalmente", afirmou ele, que contratou 80 seguranças para a partida.
Bom Senso FC
O movimento Bom Senso FC divulgou nota na noite de ontem para lamentar a violência em Joinville. E pediu que sejam tomadas medidas enérgicas. "Esperamos que os culpados, em todos os âmbitos, sejam punidos e que medidas drásticas sejam tomadas por toda a coletividade do futebol para que cenas como essas jamais voltem a ocorrer", defende o movimento, que reúne mil jogadores do futebol brasileiro e defende melhores condições de trabalho.
O Bom Senso deixou claro que não compactua com nenhum ato de vandalismo. "Apoiamos a tolerância zero para a violência nos estádios. Os verdadeiros torcedores e suas famílias merecem isso", diz a nota oficial do grupo, que, sem acordo com a CBF, está ameaçando greve no começo da próxima temporada.
Atlético
O presidente do Atlético, Mario Celso Petraglia, demonstrou revolta contra integrantes da torcida que protagonizaram a briga na Arena Joinville.
"Temos de pensar definitivamente no problema da nossa torcida, que nos tirou da Vila Capanema [em função da briga no Atletiba, em outubro]. São um calo no nosso pé que está doendo e temos que extirpar", disse à rádio oficial do clube. "Não são torcedores, são vândalos", emendou o dirigente que tinha a Os Fanáticos, maior uniformizada do clube, como aliada. Em nota oficial, o Atlético lamentou os "acontecimentos bárbaros ocorridos" e prometeu tomar medidas para identificar os envolvidos. Há uma semana, a Fanáticos emitiu uma nota alertando para o risco da partida. A facção decidiu não levar mulheres e adolescentes para SC.
Punição
Para o presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Paulo Schmitt, Atlético e Vasco podem ser punidos com a perda de dez mandos de campo, além de multa de até R$ 100 mil pelos incidentes de ontem em Joinville. "De forma superficial dá para falar que essa é a punição que eles podem pegar, mas vamos analisar outros dispositivos legais", comentou, em entrevista à Rádio 98 FM. Tanto o Furacão quanto o Bacalhau são reincidentes nesta temporada. Os atleticanos, inclusive, tiveram de atuar em Santa Catarina ontem por causa de confrontos no último Atletiba, na Vila Capanema. "Os clubes são os responsáveis do ponto vista esportivo. Do ponto vista comum, criminal, cível, melhor nem palpitar. Precisamos de medidas mais rigorosas. Não é possível conviver com isso no país da Copa, que respira futebol", completou.
Cenas de barbárie, crueldade e estupidez. Foram esses os ingredientes da classificação do Atlético à Libertadores. A partir dos 17 minutos de jogo entre Atlético e Vasco, ontem, em Joinville, a violência substituiu o futebol no estádio catarinense. Torcedores de ambos os times entraram em confronto por cerca de cinco intermináveis minutos. Deixaram as arquibancadas manchadas de sangue.
Apenas seguranças particulares faziam a separação entre as torcidas a Polícia Militar (PM) decidiu trabalhar apenas fora do estádio, alegando seguir orientação do Ministério Público local de que não deve atuar em eventos privados. Assim, o frágil cordão de homens com coletes alaranjados estourou 11 minutos após Manoel abrir o placar para o Furacão o juiz deu o gol para Paulo Baier. Os vascaínos derrubaram a barreira e marcharam sem obstáculos em direção aos atleticanos. Os primeiros pontapés foram dados e a confusão começou. Barras de ferro e pedaços de madeira viraram armas.
A maior parte do estádio assistiu, atônita, ao desenrolar de uma guerra. Pais faziam o possível para proteger os filhos, enquanto outros torcedores rubro-negros se juntaram à batalha, fazendo os vascaínos recuarem. O sentimento de desespero tomou conta de toda a praça esportiva com a pancadaria que parecia não ter fim.
Só então a PM, que fazia o policiamento fora da Arena Joinville, entrou em cena. Com bombas de efeito moral e balas de borracha, tentou dispersar os brigões. Já era tarde. Quatro vítimas foram contabilizadas. Desacordado, William Batista, 19 anos, foi levado do estádio pelo helicóptero Águia da PM. Gabriel Ferreira, 20, Estevam Viana, 24, e Diogo Cordeiro, 29, também foram levados ao hospital São José, especializado em traumas. O último teve alta antes mesmo do fim do duelo; os demais ficaram em observação.
No gramado, o desespero e a incredulidade também eram evidentes. Jogadores foram à beira do campo para tentar conter os ânimos. Alguns torcedores entraram no campo, com medo da violência. Outros fizeram o mesmo caminho para cobrar de perto mais empenho do time do Vasco. Naquele momento, o futebol era o que menos importava.
"São vidas que estão em jogo. Não é a primeira ou a segunda divisão que importa. Não sei se vão conseguir garantir a segurança", falou o presidente vascaíno, Roberto Dinamite, decidido a cancelar o jogo. Ele chegou a citar a suposta morte de um dos agredidos, situação que felizmente não se confirmou.
Com reforço de 160 policiais, a partida recomeçou 1h13min depois. O placar final foi de 5 a 1 para o Atlético Marcelo e Éderson (três) ampliaram; Edmílson descontou. A classificação paranaense à Libertadores, entretanto, foi manchada. "Dá vontade de largar a bola", resumiu o meia Paulo Baier, de 39 anos, que se aposentará no fim de 2014.
Luiz Alberto pede rigor contra brigas
O zagueiro Luiz Alberto desabafou após presenciar as cenas de violência que marcaram o fim da temporada do Atlético, ontem, contra o Vasco, em Joinville. O jogador, que foi às lágrimas durante o incidente que deixou quatro feridos em estado grave, havia cogitado até levar o filho de sete anos ao estádio. "Minha esposa comentou que não poderíamos levar as crianças porque não saberíamos o que poderia acontecer. Imagina se meu filho estivesse aqui, como muitas crianças que estavam e viram essas cenas", revelou, citando que esse tipo de incidente afasta os futuros torcedores dos estádios.
Para o defensor, a briga que deixou a goleada atleticana em segundo plano deve servir de exemplo para o país que vai sediar a Copa do Mundo daqui a seis meses. Cenas fortes que viraram manchetes em todo o mundo. "As pessoas que têm condições de tomar decisão em relação a isso [a violência], de mudar isso, têm de ser mais fortes, mais firmes. E isso aí tem de ser sério. Acho que a gente tem de pensar nesse lado. O futebol brasileiro é muito bonito dentro de campo, mas na arquibancada tem essas cenas aí...", falou o jogador de 35 anos. "Fiquei muito mal vendo aquelas cenas. Em toda minha carreira eu nunca vi isso. Foram cenas muito fortes", emendou.
Quando a confusão começou, Luiz Alberto foi um dos jogadores do Atlético que foram em direção das arquibancadas para tentar apaziguar a situação, que só foi minimizada quando a Polícia Militar entrou no estádio. De frente para o local onde estava a torcida vascaína, ele confessou ter visto uma cena impossível de apagar da memória. "A torcida do Vasco conseguiu segurar um torcedor do Atlético. Ele estava caído no chão, desmaiado, não tinha reação nenhuma, coitado. Pisado na cabeça, barra de ferro. Este estava todo ruim. Essas cenas te marcam", finalizou.
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