Durante o seminário"Desafios do Paraná para sediar a Copa de 2014", que acontece nesta quinta-feira em Curitiba, a participação do presidente do Sindicato da Arquitetura e Engenharia (Sinaenco), José Roberto Bernasconi, é uma das mais aguardadas. O dirigente vem acompanhando de perto as movimentações de todas as 17 cidades candidatas a receber a Copa do Mundo no país, e desta forma já possui uma opinião formada sobre o que virá pela frente.

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Em entrevista à Gazeta do Povo Online, Bernasconi preferiu não falar diretamente da candidatura de Curitiba para ser uma das 12 sub-sedes do Mundial de 2014, mas deu um panorama geral no qual a capital paranaense pode se considerar inserida em diversos pontos, principalmente os que envolvem a infraestrutura que é necessária a um país que sedia uma Copa. Os investimentos na melhoria da mobilidade urbana em Curitiba é um dos maiores desafios da cidade.

Mais importante do que identificar os pontos a serem melhorados, é preciso saber como fazer. E é esta a base do seminário do Sinaenco. Confira na íntegra o papo com o presidente da entidade, José Roberto Bernasconi.

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Gazeta do Povo Online – Qual a importância do seminário perante governantes, dirigentes e outros envolvidos nas candidaturas das cidades para receber a Copa de 2014?

Bernasconi – A expectativa nossa neste momento é buscar chamar a atenção da sociedade como um todo, chamando a todos para este papel importante que teremos pela frente. É preciso que os governantes se mexam, a tarefa será gigantesca, não só no campo, nas arenas, mas também na parte dos empreendimentos de natureza privada. Muitos clubes estão se mexendo para adequá-los para a Copa, enquanto os estádios municipais dependem de investimentos públicos. O problema é que apenas 15% de todo o investimento terá este fim. Os outros 85% terão de ser voltados a parte de infraestrutura, melhorando portos, aeroportos, meios de acesso, parque hoteleiro, gastronômico, entre outros.

Gpol – O Sinaenco visitou todas as cidades candidatas aqui no Brasil. De modo geral, qual a avaliação da entidade?

B – Pelo que sabemos, ainda temos muito a melhorar, até em São Paulo e Rio de Janeiro, que possuem condições melhores e estão acostumadas a promover grandes eventos. Agora veja Belo Horizonte, por exemplo. Lá se realizam poucos eventos de grande porte, e quando acontece logo a cidade para, não possui uma grande rede hoteleira. Em todas as cidades, temos de tratar a Copa como um grande negócio, veja o setor de turismo o quão importante será na época do Mundial. É preciso investir para que o turista consiga se movimentar facilmente pelas cidades, tanto para o lazer, quanto para acompanhar os jogos. Temos de melhorar e aumentar as vias de acesso, o transporte de massa, um sistema segura de táxis, além de toda a retaguarda de serviços de saúde. Diria que ainda estamos mal nestas e em outras questões, por isso a importância de estarmos cientes das responsabilidades que teremos e fazer o que e como fazer.

Gpol – Os seminários ajudam de que maneira esta mobilização de lideranças no país?

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B – Abrimos o encontro com duas idéias. A primeira é mobilizar de verdade, alertar todos os envolvidos que é preciso não só falar, e sim fazer, sem se perder. Temos de conseguir mobilizar lideranças da iniciativa privada também, a mídia, a população, até porque temos um tempo razoável até a Copa das Confederações de 2013. São quatro anos e meio. Até lá tudo tem que estar pronto, segundo a Fifa, é um mecanismo de segurança deles. O segundo ponto do seminário é pensar e identificar uma escala de prioridades em cada cidade, e mais importante, qualificar tudo o que for feito. Pelo tamanho do trabalho, quanto antes começarmos, melhor. Fazemos neste encontro diversas discussões importantes e, no final, a idéia é que o que hoje é apenas maquete transforme-se de fato em realidade.

Gpol – Muito se fala sobre os reais benefícios de uma Copa do Mundo em um país como o Brasil, cheio de outras mazelas mais importantes. Do ponto de vista de infraestrutura, o legado do Mundial de 2014 será o quão positivo?

B – Primeiramente acho que não podemos ficar estáticos. Temos de tomar todas as providências que estão previstas para receber a Copa, porque é este o nosso papel e é do nosso interesse. Para a Fifa, o evento é uma coisa, para o país sede é outra. A Fifa se promove e divulga amplamente o futebol e os assuntos relacionados, que é o negócio dela. E ela faz isto bem. Só na Copa da Alemanha, em 2006, 27 bilhões de pessoas viram alguma coisa relacionada ao Mundial. Para 2014, a expectativa é de que 40 bilhões de pessoas acompanhem a Copa pela televisão, pela internet ou por outros meios. É sim um espetáculo midiático, mas que depende de todo um trabalho de adequação, de infraestrutura. É assim que desenvolveremos possibilidade para a população e para o Brasil, e talvez seja este o principal legado para todos aqui.

Gpol – Os problemas no Brasil para receber a Copa variam de cidade para a cidade. Como superar estes entraves da melhor forma possível?

B – Temos de descobrir vocações diferentes das que estamos acostumados em cada cidade. É preciso identificar as oportunidades que vão se abrir e aproveitá-las, visando sempre o que queremos ser, o que queremos construir com a vinda do Mundial para cá. Sentimos que em alguns lugares as pessoas não tem consciência das dimensões de uma Copa do Mundo. No caso do Paraná, o que é preciso fazer? Cito um exemplo. Todo ano o Porto de Paranaguá é notícia nacional pelas longas filas que se formam na época de safra. Até quando isto vai acontecer? São perguntas deste tipo que precisam ser feitas, para que possamos desenvolver alternativas.

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Gpol – Dá para mensurar o tamanho do ganho que teremos, caso a iniciativa privada nacional firme parcerias com empresas do exterior nestas muitas obras que virão no Brasil?

B – Já recebemos grupos de empresários de Portugal, da Alemanha, da Inglaterra, e todos estão querendo vender a sua experiência aqui. Ficamos 20 anos sem investir de fato no país, e estes grupos estão atuando ativamente desde as Olimpíadas de Sydney, em 2000. Este grupo inglês mesmo que esteve aqui no ano passado, foram eles quem projetaram e construíram do Ninho do Pássaro, em Pequim. Eles têm a competência e o conhecimento que não temos, eles estão jogando estes "jogos" a mais tempo. Firmando ou não parcerias conosco, estes grupos de fora quiseram, primeiramente, conhecer a nossa maneira de construir o país. Não se pode vender nada sem conhecer a realidade local, e é desta maneira que eles atuam. Se as coisas correrem como se espera, o ganho será muito grande para nós.

Gpol – Depois da decisão da Fifa (dia 20 de março, em Zurique) sobre quais serão as sedes da Copa de 2014, qual o próximo passo?

B – Com as coisas definidas, cada candidata deve se preparar para receber quatro seleções. É preciso mensurar as necessidades de cada uma dentro do seguinte prisma: quem receber a Argentina, por exemplo, terá de ter em mente que 50 mil argentinos virão acompanhar a seleção. Então, como eles virão? Seja de ônibus, avião ou de carro, as cidades têm de oferecer condições para isto, precisam estar prontas para oferecer serviços com esta grande migração de pessoas. Em 2006, cerca de 20 mil brasileiros iam se deslocando pela Alemanha de acordo com cada partida do Brasil, e as cidades da Alemanha tinham de estar preparadas para estas movimentações de pessoas, tem hotéis, restaurantes, meios de transporte, entre outros itens, para assegurar uma boa estadia.

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