Fim de tarde tranqüilo na Vila Capanema. O treinamento já acabou, a palestra do técnico Caio Júnior também. As entrevistas foram rápidas e o banho durou poucos minutos, menos do que o normal. Todos estão com pressa.
A explicação para o ritmo acelerado está a poucos metros do vestiário, na sala do departamento financeiro do clube, onde uma pequena fila se forma na calçada. Os salários não estão atrasados, muito menos são pagos ali. A espera é pelo bicho, premiação extra paga por vitória ou empate no Brasileiro.
O Tricolor e mais sete times da Série A (veja gráfico ao lado) mantêm a tradição de pagar premiação por jogo nos demais clubes é repassado um prêmio de acordo com a posição final no campeonato. Se um objetivo maior for alcançado (a vaga à Libertadores, por exemplo), uma bolada bem mais generosa é destinada ao elenco.
Na Vila, o valor do incentivo a cada rodada varia de acordo com a posição na tabela de classificação. Se o clube estiver na zona de rebaixamento, os jogadores não recebem nada mesmo em caso de vitória. Um triunfo que deixe o time na zona morta (13.º ao 16.º lugar) vale R$ 250, na faixa da Sul-Americana R$ 500, no bloco da Libertadores R$ 800 e na liderança R$ 1.500. O empate derruba o prêmio pela metade nas quatro situações.
"Todos os clubes pagam bicho para dar um incentivo. No Paraná entra inclusive no holerite de cada funcionário do departamento de futebol", revela o superintendente paranista Ricardo Machado Lima.
Apesar das dificuldades financeiras pela irrisória cota repassada pelo Clube dos 13 (R$ 3,9 milhões ao ano), o Paraná já gastou mais de R$ 142 mil com premiações de quem atuou nas partidas do Brasileiro. Um jogador que tivesse sido titular em todos os jogos que a equipe pontuou, teria recebido R$ 10.175 em bichos até o momento. Ninguém manteve tal regularidade.
"Aonde eu joguei sempre recebi bicho. Falo aos mais jovens que aproveitem para pagar as contas, se divertir ou comprar algo com esse dinheiro extra. Se não precisar mexer no salário é melhor", afirma o zagueiro Émerson.
"No J. Malucelli eu recebia R$ 800 por mês, agora recebo isso de bicho por vitória", comemora o atacante Cristiano. "Para mim o bicho é tão importante que até comprei meu primeiro carro graças a ele", conta o volante Pierre, se referindo à premiação do título paulista de 2002, quando defendia o Ituano.
Roupeiros, nutricionista, assessor de imprensa, massagista e comissão técnica também entram na divisão da cota com quantias mais baixas do que os atletas.
"A premiação é sempre bem-vinda. O valor é realmente bom quando o time vence vários jogos em um mês", conta a nutricionista Carolina Freitas.
Pelo Brasil afora o bicho é usado para embalar equipes no Nacional. O Flamengo, adversário tricolor no domingo, paga R$ 1 mil por empate em casa, R$ 1.500 por empate fora e R$ 2 mil por vitória, uma extravagância para um clube que acumula R$ 212 milhões em dívida.
No Vasco, conforme a reportagem apurou, os prêmios são pagos ainda no vestiário, o bicho molhado. Já o desesperado Santa Cruz ofereceu R$ 1 milhão para o elenco sair do rebaixamento, mas os jogadores sabendo da dificuldade da missão, recusaram a oferta.
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