Cambará – "Você é um jogador de futebol desempregado, está sem clube e passando dificuldades financeiras? Vá para o Vietnã. Pior não vai ficar."

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Se o negócio fosse realmente rentável para o Matsubara, este bem que poderia ser o texto de alguma campanha publicitária do clube do interior do Paraná, famoso pela revelação de jogadores e que só no ano passado exportou 22 jogadores profissionais para o país do Sul da Ásia.

Tudo começou com um convite para o time de Cambará disputar um torneio no país, no fim de 2004. A equipe, na época afastada do futebol profissional desde 2002, foi montada às pressas com atletas sem clube e foi vice-campeã da competição. Era o estopim da "febre vietnamita".

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O time titular nem voltou ao Brasil. Ficou todo lá. Seis meses depois, o Matsubara enviou ainda mais dez jogadores para o país.

"Foi mais uma curiosidade nossa. Recebemos o convite e fomos conhecer o país. Deixamos praticamente o time todo lá", conta Shigueo Matsubara, que dirige o clube com o pai, Sueo, mais atuante na época em que o time era uma pedra no sapato de Atlético, Coritiba e Paraná.

Para o Matsubara, os negócios com o Vietnã não são muito vantajosos. Contudo, servem como uma forma de ajudar atletas desempregados, com uma idade mais avançada e que mantém boa ligação com o clube. Cada negócio com o Sul da Ásia rende no máximo 10% do que Matsubara obtém quando o destino de seus atletas é Suíça, Bélgica, México, Japão e Ucrânia – principais mercados dos seus jogadores.

"É mais para arrumar um emprego para os coitados. Vão para lá ganhar um salário melhor, tentar fazer a vida. Para nós quase não compensa", afirma Sueo, o fundador e presidente do clube.

Com experiência, ele garante a fórmula que dá certo no palco da mais cinematográfica das guerras: "Tem de ser rápido e dar porrada. Lá é uma correria em campo".

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O futebol do Vietnã é um dos piores do mundo. O país ocupa atualmente a 141.ª posição do ranking da Fifa. E tudo é muito precário: não há departamento médico e a preparação física inclui até correr carregando um colega nas costas.

O salários também não são atraentes. Quem foi para Lá ganha de R$ 2 mil a R$ 8 mil. Adaptar-se à culinária que tem a carne de cachorro como seu maior expoente completa o cenário de guerra para quem se aventura pelo país.

Se as dificuldades são grandes, o sucesso é quase garantido. Atualmente, o maior ídolo do futebol vietnamita é um dos atletas que estavam na leva do Matsubara. Kesley Alves, 26 anos, um atacante bem nas características descritas por Sueo, que teve passagens apagadíssimas pelo Brasil – uma delas na Portuguesa Londrinense – e agora é a sensação do campeonato local. Chegou no fim do ano passado, virou o artilheiro do Nacional, já ganha US$ 20 mil dólares mensais e está prestes a se naturalizar vietnamita. Ele nem pensa em sair de lá.

"Tivemos uma proposta da Coréia, mas o Kesley nem quis conversar. Falou: ‘lá eu vou ser só mais um, aqui eu sou rei’", conta Shigueo. "No Vietnã eles (os jogadores) se encontram. É um lugar diferente do que imaginamos. Tem um litoral bonito que atrai muitos turistas. Um dos nossos atletas até já casou com uma italiana por lá. Também não quer voltar".

A próxima abertura do mercado vietnamita será em outubro. Mesmo não sendo a prioridade, o Matsubara já tem vários pedidos dos clubes de lá para enviar novos atletas.

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