Com dois gols e uma assistência, Neymar é o destaque da seleção brasileira| Foto: Albari Rosa, enviado especial/Gazeta do Povo

O lado esquerdo do ataque é o escritório de Neymar. Por ali ele passa a maior parte do tempo e faz as suas jogadas mais espetaculares. Mas quando deixa esse hábitat é que o camisa 10 da seleção brasileira se torna o jogador solidário desejado pelos técnicos e o artilheiro esperado pela torcida. É o que mostra um diagnóstico com base no cruzamento de estatísticas dos dois jogos do Brasil na Copa das Confederações, contra México e Japão.

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Neymar foi decisivo nos dois. Permaneceu em campo por 173 minutos, fez dois gols e deu uma assistência. Saiu de ambas eleito o craque em votação popular promovida pela Fifa. Examinar estes números permite identificar a mutação no jogo do camisa 10 de acordo com a faixa de gramado em que está atuando.

Os dois gols foram marcados pelo meio, em chutes de primeira. Contra os japoneses, após passe de peito de Fred. Diante dos mexicanos, apanhando um rebote da zaga.

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Passar pouco tempo com a bola no pé tem sido uma característica de Neymar quando sai do lado esquerdo. Levantamento da Fifa indica que a faixa central, próximo à entrada da área, é de onde ele mais dá passes (17). Depois vem o lado direito, na mesma altura (9). São ainda as zonas em que ele mais recebe passes: 43 pelo meio e 20 na direita.

A diferença entre esses números revela mais um traço de Neymar no torneio: os companheiros jogam a bola nele. Somente Daniel Alves é mais acionado que o camisa 10 – são 111 bolas recebidas pelo lateral, ante 95 pelo atacante.

O inverso ocorre em escala bem menor. Neymar deu 56 passes, menos que seis outros titulares da seleção. Individualismo que se acentua do lado esquerdo. No escritório, prefere resolver as coisas sozinho. É por onde mais carrega a bola – foram 15 jogadas individuais, mais que qualquer outro jogador do torneio, a maioria por ali. E, com a bola no pé, é onde faz pinturas como a jogada do gol de Jô, diante dos japoneses.

Quando decide trocar passes, seu companheiro preferido é Marcelo. Somente contra o México foram 33 passes trocados entre eles, sempre na faixa esquerda. Quase sempre tabelas curtas, para se livrar da marcação. Se a bola sai de Neymar, o passe invariavelmente é para trás. O atacante arranca e recebe na frente do lateral.

A variação do jogo de Ney­­mar tem encantado Luiz Felipe Scolari. Após a vitória em Fortaleza, o treinador elogiou o trabalho tático feito com ele por Muricy Ramalho. "Chegou com a parte tática bem evoluída. Mérito de quem trabalhou com ele no Santos", elogiou.

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Por evolução tática entenda-se encaixe em jogo coletivo. Na seleção, Neymar não é visto como o exército de um homem só do Peixe. Com a amarelinha, o atacante ajuda a marcar mais do que Felipão considera necessário. E comete faltas. Com oito, é o jogador da seleção que mais cometeu infrações.

"O desafio do treinador é fazer com que o time, não só o Neymar, jogue sem a bola. Nossa experiência em Copa e seleção mostra que quando a gente consegue marcar, ocupar espaços, está com a mão na taça", disse o coordenador técnico da seleção, Carlos Alberto Parreira.

Recado entendido pelo atacante. E percebido pelos adversários, que dedicam atenção cada vez mais especial ao jovem craque brasileiro. "Neymar está mostrando o valor que todos pensamos que ele tem", afirmou o italiano Gianluigi Buffon, próximo goleiro a tentar parar um Neymar arrebatador em seu escritório e solidário fora dele.

Mais pesado

A seleção receberá um Neymar mais pesado para a Copa do Mundo do ano que vem. O médico do Barcelona, Ricard Pruna, disse ontem que exames realizados pelo clube catalão detectaram que o atacante tem tendência a perder peso. "Minha primeira impressão é de que Neymar precisa ganhar um quilo ou dois", afirmou o médico, em entrevista na Espanha. A projeção foi bem recebida pela seleção brasileira. O chefe do departamento médico, José Luiz Runco, disse que, por ter 21 anos, o camisa 10 tem totais condições de ganhar peso sem que isso crie uma sobrecarga no seu corpo. Tecnicamente, o fortalecimento também é bem-vindo. "Se ele ganhar dois, três quilos de massa muscular, será ótimo para o seu futebol", referendou o coordenador técnico Carlos Alberto Parreira.

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