No meio da delegação brasileira que tentará tomar do Canadá o terceiro lugar no quadro de medalhas nos Jogos Pan-Americanos, em julho, no Rio de Janeiro, um grupo em especial chama a atenção pelo sotaque. São os técnicos estrangeiros, que desde o fim dos anos 90, quando a ucraniana Irina Ilyaschenko trocou o Leste Europeu pela seleção brasileira de ginástica artística, provocaram uma espécie de minirrevolução no esporte olímpico nacional.
Do Pan de Santo Domingo, em 2003, para cá, a legião de treinadores importados trabalhando no país aumentou mais de 600%, saltando de quatro para 29 profissionais. Atualmente, representantes dos mais diversos países, que vão desde escolas tradicionais como Rússia, Cuba e França a países periféricos como Guiné-Bissau e Benin, dão expediente em quadras, piscinas e tatames buscando copiar o sucesso de Daiane dos Santos, Diego Hypólito e cia. "Sem dúvida os resultados da ginástica serviram de inspiração para outras confederações buscarem profissionais experientes fora do Brasil", afirma Eliane Martins, supervisora da seleção de ginástica, que além de Irina, conta com o casal Nadja e Oleg Ostapenko, também ucranianos, na comissão técnica.
É o caso do cubano Alejo José Morales, há dez anos no país e há pouco mais de um mês no comando do time brasileiro de luta greco-romana, que treina em Curitiba. Criado nos Centros Olímpicos de Cuba, o ex-lutador Morales, de 52 anos, acompanhou de perto a transformação esportiva em Havana. Por isso se empolga com o assunto. Ele acredita que a combinação entre investimento, estrutura e intercâmbio internacional pode fazer também do Brasil uma potência em diversas modalidades.
"A luta olímpica é muito atrasada no Brasil, o esporte não é massificado. Temos o talento, mas não temos grandes profissionais no país. Por isso essa troca de experiência acaba sendo importante. A receita é aliar essa miscigenação, essa riqueza humana, a técnicos com formação especializada", comenta. "A ginástica só cresceu quando a confederação passou a investir neste tipo de intercâmbio cultural", complementa ele.
O handebol é outro bom exemplo dessa ascensão "pós-internacionalização", ratificada com a conquista do inédito sétimo lugar no Mundial da Rússia, em 2005, pela seleção feminina. Treinada pelo espanhol Juan Oliver Coronado há pouco mais de dois anos, a equipe acaba de voltar da República Dominicana com o sétimo título pan-americano, espécie de preparatório para os Jogos do Rio de Janeiro.
"Se você pode trazer o melhor do mundo, isso só ajuda. E o melhor do handebol está na Europa. Eles (técnicos internacionais) têm um pensamento renovador", analisa a pivô Juceli Aparecida Sales, que em dezembro embarca com as companheiras para o Mundial da França, cuja missão será quebrar a barreira dos seis melhores times.
Porém, para a iniciativa não morrer na casca, e para que no futuro o país ocupe o outro lado do balcão, Eliane faz uma ressalva: "A vinda de treinadores de fora deve servir de ensinamento para os brasileiros, para criarmos a nossa própria escola."
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