Antes da Copa das Confederações, Luiz Felipe Scolari pediu carinho da torcida com a seleção brasileira. Segunda-feira (17), em Fortaleza, os jogadores receberam a mais calorosa manifestação de apoio desde que a equipe se reuniu no país para o evento-teste da Copa de 2014. Movidos por um boato espalhado na internet, cerca de 5 mil torcedores a maioria crianças e adolescentes foram até o Estádio Presidente Vargas assistir ao primeiro treino brasileiro na capital cearense, visando ao jogo de quarta-feira (19), contra o México. Uma atividade fechada na programação da Fifa, mas que acabou aberta nos minutos finais a pedido do treinador.
Desde o fim de semana, circulava nas redes sociais a informação falsa de que o treino seria aberto mediante a entrega de um quilo de alimento não perecível. Em um efeito viral similar ao que recentemente fez milhares de nordestinos correrem à Caixa Econômica Federal achando que ia acabar o Bolsa Família, a história se espalhou e fez com que muitos torcedores se posicionassem diante dos portões fechados do PV no horário marcado para o início treinamento, às 15 horas, com pacotes de açúcar, sal, arroz ou farinha de milho a tiracolo. A grande parte era de moradores de Fortaleza, mas havia gente que atravessou o Ceará para ver a seleção.
"Sou fã do Hulk. Vim ver ele", disse o estudante Felipe Fernandes, de 18 anos, que passou a noite percorrendo de ônibus os 533 quilômetros que separam Juazeiro, no sul do estado, de Fortaleza, com o irmão gêmeo Vanderlei e o primo Luís, de 19 anos. "Pena que não vai poder entrar. Viemos de Juazeiro até aqui e não vamos ver a seleção", lamentava Vanderlei.
Moradora de Fortaleza, a estudante Yasmin Coelho, de 20 anos, queria entregar a Neymar um quadro que ela pintou do jogador. Chegou a pedir a um policial que falasse com a segurança da seleção para fazer o presente chegar ao jogador.
Yasmin e os garotos de Juazeiro eram o perfil médio do torcedor em volta do PV. Jovens e sem dinheiro para ver o jogo no Castelão, tendo o treino como única alternativa de ver a seleção de perto. Esperança que aumentava de tempos em tempos, quando alguém gritava que os portões seriam abertos e havia uma correria infrutífera até outro acesso do estádio. A polícia observava tudo a distância. A única ameaça de tumulto ocorreu quando o ex-jogador Jardel chegou com um grupo de amigos e conseguiu entrar sem ser incomodado.
Por volta das 16h45, quando o jogo-treino com o sub-20 do Ceará estava encerrado, o estádio foi finalmente aberto. Sem conseguir usar a chave, a polícia recorreu a um alicate para arrebentar o cadeado que trancava o portão. O mar de torcedores entrou rapidamente, deixando a calçada forrada de chinelos perdidos em meio a gritos histéricos por Neymar, Lucas e Fred, os preferidos de um público que parecia correr atrás de popstars.
"Felipão disse ao coronel Castelo Branco [chefe de segurança da CBF] que abrisse. Uma atitude de simpatia com os torcedores", afirmou o major Jorge, que comandava os 110 homens que trabalharam na segurança do treinamento. "O treino é meu", disse Felipão à beira do campo, quando teve seu pedido para abrir os portões confrontado com a informação de que a determinação de portas fechadas era da Fifa.
Logo a arquibancada central do PV foi ocupada pelos fãs. No gramado, os jogadores apenas treinavam pênaltis e finalizações. Quase todos correram para a arquibancada e chutaram bolas para os fãs. Lucas ainda voltou sozinho para jogar uma camisa, antes de seguir para o vestiário e dar início à dispersão dos fãs. Cinco mil torcedores que acabaram premiados por acreditar em um boato. E deram à seleção o carinho pedido pelo seu treinador.
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