A Gazeta do Povo e a Tribuna do Paraná selecionaram jogos antigos, disponíveis na íntegra na internet, para serem vistos e revistos. Do ponto de vista técnico, tático ou, até mesmo, apenas pessoal, leia como foi a experiência, tanto tempo depois.
Um jogo bem melhor do que você lembra. E Pelé em tarde de "profeta", por Robson Martins
Se você tem mais de 35 anos, com certeza lembra de alguma coisa daquela final da Copa do Mundo de 1994, entre Brasil e Itália. O que pode ser que não lembre é que, mesmo sendo um 0 a 0 com direito a prorrogação e decisão por pênaltis, a conquista do tetracampeonato veio em um jogo razoavelmente bom.
A tensão daquele dia, diante da ausência de títulos da seleção há 24 anos, e o começo da adolescência (eu tinha 13 anos), me impediu de perceber também como o Brasil foi superior à Itália. Revendo as três horas de transmissão, do jogo disponível no Youtube (veja ao final do texto), fica fácil notar.
Basta olhar os arremates a gol. Enquanto os italianos finalizaram seis vezes em 120 minutos, o Brasil chutou 18. Apenas o triplo! Destaque para a finalização de Mauro Silva, aos 29 do segundo tempo, em que o goleiro italiano Pagliuca quase levou um frango histórico e a bola parou na trave, o que gerou um beijo do arqueiro na luva e encostando ela na trave.
Outros lances, no entanto, também são memoráveis, no meio do calor escaldante daquele dia nos Estados Unidos e de 100 mil pessoas na arquibancada. O que falar do meia Mazinho dando uma bela “botinada” no italiano e levando amarelo com apenas quatro minutos de jogo? Aos 25 minutos, o mesmo volante/meia ainda fez um lance hilário ao furar um rebote de um chute de Branco, enquanto vários jogadores brasileiros esperavam na área para marcar. Veja abaixo...
Destaco ainda Bebeto, que aos dois minutos da prorrogação, perdeu um gol sem goleiro após errar o tempo da bola no cruzamento de Cafu. O atacante poderia ter sido o herói do tetra neste lance. Assim, como Romário, que aos quatro minutos do segundo tempo da prorrogação finalizou rente a trave.
Chama atenção ainda um Dunga feroz, que corria, marcava e armava; um Viola que entrou no segundo tempo da prorrogação com muita vontade, mas pouca pontaria; e, na minha opinião, o melhor em campo: o zagueiro Aldair, simplesmente impecável. Só de pensar que o camisa 9 daquela seleção era o meia Zinho e o principal jogador da equipe, Romário, bateu o pênalti na trave antes dela morrer no fundo do gol, já dá para entender o quanto aquela conquista foi diferente.
Óbvio que é importante lembrar que a Itália jogou desfalcada, que no final quatro jogadores já estavam com câimbras e que seu principal jogador, Roberto Baggio, estava claramente prejudicado e com uma proteção na perna direita por causa de uma lesão. Coube justamente a ele bater o pênalti para fora que liberou a festa brasileira e as homenagens em campo do time nacional para Ayrton Senna, que tinha falecido poucos meses antes. Veja abaixo...
Imagens da partida:
Por fim a narração de um Galvão Bueno realmente emocionado por ver o Brasil na final da Copa e os comentários do Rei Pelé, com uma bizarra gravata homenageando os Estados Unidos.
Teve muitas cornetadas do Galvão, como “o grande defeito do Cafu é cruzar”, “vai entrar o Appoloni, do Parma, e esse é fraco, não joga nada”, “o Branco se jogou na área, malandragem demais às vezes atrapalha” e “o Cafu não teve cabeça para jogar uma final de Copa”, sendo que esta última antes da prorrogação, quando realmente o lateral melhorou.
Sem contar que de vez em quando uma propaganda dita por Galvão entrava: “Com o Real os preços vão baixar. Espere para comprar”.
Sobre Pelé, que Galvão já afirmou em entrevistas que chutou muito a canela do narrador aquele dia tentando fazer um gol imaginário, duas falas proféticas. No primeiro tempo, diante da indefinição sobre a situação física de Romário, o rei divagou.
“Já imaginou se o Romário tem de sair, não consegue jogar. Entra o Ronaldo com 17 anos e estoura. Nasce o novo rei”.
Por fim, já aos oito minutos do segundo tempo da prorrogação, após Baggio ter um chute defendido por Taffarel, o rei lembrou: “se o Baggio tivesse em boa condição, poderíamos estar chorando aqui agora”.
Ainda bem que não estava.
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