Os clubes da Série A do Brasileirão registraram até agora 95 casos do novo coronavírus em jogadores.
O Estadão levantou o número com base nas informações oficiais das próprias equipes divulgadas recentemente após as baterias de exames com os atletas, com destaque para a retomada das equipes de São Paulo.
A contabilização leva em conta os casos ativos e também os que já são considerados recuperados pelos médicos dos times. O Corinthians é o campeão de registros no elenco, com 21.
O número de 95 atletas significa que o Brasileirão seria capaz de acomodar oito times titulares completos formados apenas por jogadores que já tiveram contágio pelo vírus.
Caberiam ainda mais sete reservas. Proporcionalmente, o número é bastante alto. Mesmo com esse registro, a quantidade de contaminados pelo vírus pode ser ainda maior pela possibilidade de subnotificação e pelo tipo de exame utilizado poder não coincidir com a janela imunológica da doença.
Existe o risco também da contaminação se alastrar pelos próximos dias com o retorno dos times aos treinos. Os clubes informam que os atletas contaminados estão em quarentena.
Dos 20 participantes da elite nacional, somente os paranaenses Coritiba e Athletico não revelaram se tiveram registros de covid-19 nos grupos. Quem até agora não teve casos conclusivos confirmados foram Internacional e Fluminense.
O time do Sul já voltou à atividade, enquanto os cariocas ainda "brigam" com a federação do Rio para não jogar durante a pandemia. Todas as outras 16 equipes tiveram alguma confirmação por contágio, com um grande número de concentração, especialmente no Corinthians. Dos 27 atletas, 21 testaram positivo, o equivalente a 77%.
Segundo o consultor médico do clube, Joaquim Grava, o número elevado se explica pelo fato de a equipe ter sido submetida a testes mais apurados. "Nós realizamos nos atletas um exame que tem mais sensibilidade. Aplicamos um protocolo que consegue delimitar traços sensíveis da doença", disse o médico ao Estadão
Na opinião dele, a quantidade de casos oficiais registrados na Série A não pode ser considerada elevada. "Eu esperava até um número maior do que esses 95. Mas cada caso é um caso, porque depende de qual exame foi feito. Tem testes com grau de confiabilidade baixo", afirmou. Há três tipos de testes apenas. O RT-PCR, Sorologia e os Rápidos. Os clubes estão utilizando o primeiro, com maior número de acerto e confiabilidade, considerado o padrão para a covid-19.
Os cinco times paulistas da Série A somam até o momento 34 casos, dos quais 23 estão recuperados. Os quatro principais times do Estado retomaram os trabalhos nesta semana com um esquema especial de testagem.
O Palmeiras, por exemplo, organizou um "drive thru" no estacionamento da Academia de Futebol para verificar os jogadores. Os atletas foram testados sem precisarem sair dos carros. O Corinthians levou os jogadores para seu departamento médico.
Para o diretor-médico da Federação Paulista de Futebol (FPF), Moisés Cohen, a confirmação de quase cem casos na Série A representa um avanço e não um alerta.
"O fato de detectar muitos casos positivos é bom para que os clubes tenham tempo de tratar essas pessoas antes que a doença possa ser transmitida. Muitos atletas tiveram contato com o vírus e nem sabiam que haviam se contaminado", explicou.
Cohen afirmou que pelo protocolo médico da FPF, as equipes do Estado têm realizado dois tipos de testes: um molecular e outro sorológico. A utilização deles permite cobrir janelas diferentes de manifestações do vírus dentro de cada organismo.
Segundo o médico, a presença de clubes com um número mais alto de infectados do que outros não pode ser encarada como uma irresponsabilidade da equipe mais contaminada.
"Eles (jogadores) estão voltando agora. Estavam em casa. Se houve falha foi deles mesmos (dos jogadores), por estarem em uma zona mais contaminada, ou talvez porque não tenham tomado os cuidados necessários. É possível. O clube não tem nada a ver com isso. Ele simplesmente está passando uma régua e vendo quem contraiu e quem não contraiu a doença no Brasil", comentou.
Vale ressaltar que alguns jogadores foram criticados por terem dado festas durante a pandemia. Cazares, do Atlético-MG, foi um deles. O jogador reuniu amigos e foi multado pelo clube por isso. Gabriel Jesus também teria dado festas em seu apartamento enquanto estava em São Paulo, antes de voltar para a Inglaterra.
Os jogadores estão sempre juntos e se divertem juntos. Não está descartada a possibilidade de eles terem furado o isolamento. Em abril, os jogadores ganharam férias. Retornaram em maio, mas continuaram treinando em suas respectivas casas.
Por outro lado, para o médico Marcelo Otsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a quantidade de casos representa um susto para o futebol brasileiro.
"Esse número de 95 casos é muito preocupante. Se formos levar em consideração que cada clube tem cerca de 30 atletas no elenco, ainda temos uma grande parcela que pode adquirir a infecção. É claro que dificilmente um atleta vai desenvolver um quadro grave da doença, mas ele pode disseminar o vírus para outras pessoas", explicou.
Procurados pelos Estadão, atletas e dirigentes esportivos não quiseram comentar o assunto.
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