Londres - Tudo estava dentro da normalidade neste domingo (2) na prova dos 200 metros. Em sua primeira final na Paralimpíada de Londres, Oscar Pistorius largou bem e abriu vantagem diante dos oponentes. Nos metros finais, no entanto, o brasileiro Alan Fonteles - que iniciou a metade final da prova brigando pelo quinto lugar - disparou da parte de trás da disputa e acelerou suas próteses para conquistar o ouro.
Os aplausos não foram tão intensos no lotado Estádio Olímpico: fruto do espanto. O público estava boquiaberto com o que havia acabado de ver. Um dia depois de criticar as próteses do brasileiro, por considerá-las muito longas, o sul-africano viu o adversário acabar com a chance de seu tricampeonato paralímpico na prova da categoria T44.
A grande estrela dos Jogos foi ofuscada. Pistorius, que há exatos 30 dias fez história ao ser o primeiro biamputado a participar de uma prova olímpica, estava visivelmente abatido após a derrota. Na rápida coletiva que concedeu, apenas respostas curtas. Todas para falar sobre a condição física de Fonteles.
"Estou decepcionado. Ele está dentro do que é permitido, mas a questão é que alguns atletas estão muito altos. Este tamanho das próteses tem de ser visto. Há menos de um ano, ele corria na casa dos 23 segundos. [Depois de aumentar as pernas], ele fez 21 segundos. É um fato", declarou o corredor, que abandonou a coletiva ao ser perguntado se as próteses estavam fazendo mais diferença do que o talento dos atletas.
O Comitê Paralímpico Internacional (IPC na sigla em inglês) respondeu ao sul-africano que todos os competidores da prova foram inspecionados e estão dentro das regras da modalidade.
O conterrâneo de Pistorius, Arnu Fourie (quarto colocado na final), foi mais direto na crítica ao brasileiro. "Você pode perguntar para qualquer um do público. Ele [Alan] parecia estranho, desproporcional. Já se você olha para o Oscar [Pistorius], há uma proporcionalidade no corpo", disparou.
No último mundial da modalidade, o brasileiro media 1,76m. Em Londres, ele está com 1,81m. A diferença, segundo a comissão técnica nacional, foi para adequar o atleta ao crescimento corporal dele, já que o atleta utilizava o mesmo suporte desde os 16 anos, quando disputou a primeira Paralimpíada da carreira, em Pequim. Na China, aliás, Fonteles marcou 24s21 na final dos 200 metros, quase três segundos mais lento do que o tempo registrado ontem (21s45).
"Eu estou dentro das regras. Isso é o que importa. Não tenho que falar para ninguém se estou pequeno ou grande. Se ele se incomodou com isso, não posso fazer nada", defendeu o medalhista de ouro.
Mesmo ressaltando várias vezes que não queria polêmica, o paraense cutucou o mais novo arquirrival algumas vezes. "Eu fiquei chateado com tudo o que foi dito. Ele bateu o recorde mundial ontem [21s30] e disse eu precisaria de mais gás hoje [domingo]. Ele veio forte na semifinal para mostrar que ele era o dono da noite", disse. "Ele é o recordista mundial? É. Mas no final vale quem chegou primeiro", provocou.
A rivalidade criada será testada em mais três provas na Paralimpíada: 100 m, 400 m e revezamento 4 x 100 m. Antes de tudo, porém, os dois voltam a se encontrar hoje, quando o brasileiro receberá a medalha de ouro diante do público londrino e, mais uma vez, deixará Pistorius em segundo plano.
*O jornalista viajou a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro
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