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Alan Fonteles (à esquerda) teve uma arrancada surpreendente e superou Oscar Pistorius perto da linha final dos 200 metros | Glyn Kirk/ AFP
Alan Fonteles (à esquerda) teve uma arrancada surpreendente e superou Oscar Pistorius perto da linha final dos 200 metros| Foto: Glyn Kirk/ AFP

Feminino

País ganha ouro e prata na disputa entre cegas

Os brasileiros podem dizer, sem medo, que são soberanos nas provas de velocidade disputadas entre atletas cegos. Ontem, o público em Londres testemunhou um pouco do domínio verde-amarelo: Terezinha Guilhermina e Jerusa Santos fizeram a dobradinha nos 200 metros na categoria T11, para competidores que não tem a visão.

A medalhista de ouro é um dos símbolos do poderio atual do país. Terezinha, ao vencer, ainda bateu o recorde paralímpico da prova com o tempo de 24s82. A melhor marca mundial também é dela. Além disso, a atleta detém outros dois recordes mundiais, nos 100 m e 200 m rasos. Os bons resultados não se restringem às mulheres. Lucas Prado, que estreia hoje nos Jogos e disputa a mesma classe T11 entre os homens, é recordista mundial e olímpico nos 100 m e 200 m.

"Existe um trabalho de base sendo feito por vários clubes no Brasil. Isso se reflete aqui depois e mostra a força que tem o para-atletismo brasileiro, disse Fábio Oliveira, guia da corredora Jhulia dos Santos.

Jhulia, aliás, quase formou um pódio inteiramente brasileiro. Por cerca de uma hora e meia, ela foi considerada medalhista de bronze na disputa por causa da desclassificação da chinesa Juntingxian Jia que, na pista, terminou em terceiro. A organização da prova, no entanto, reviu a decisão e devolveu a medalha à asiática.

  • Terezinha Guilhermina (com o seu guia) bateu o recorde olímpico nos 200 metros. Prata também foi de brasileira: Jerusa Santos
  • Recorde adiado- Os nadadores Daniel Dias (foto) e André Brasil tiveram ontem a chance de, juntos, se tornarem os maiores medalhistas de ouro do Brasil na história em Paralimpíadas. No entanto, na prova do revezamento 4x100 metros livre, a equipe brasileira – que contou com a dupla – ficou fora do pódio, em quarto lugar

Tudo estava dentro da normalidade ontem na prova dos 200 metros. Em sua primeira final na Paralimpíada de Londres, Oscar Pistorius largou bem e abriu vantagem diante dos oponentes. Nos metros finais, no entanto, o brasileiro Alan Fonteles - que iniciou a metade final da prova brigando pelo quinto lugar - disparou da parte de trás da disputa e acelerou suas próteses para conquistar o ouro.

Os aplausos não foram tão intensos no lotado Estádio Olímpico: fruto do espanto. O público estava boquiaberto com o que havia acabado de ver. Um dia depois de criticar as próteses do brasileiro, por considerá-las muito longas, o sul-africano viu o adversário acabar com a chance de seu tricampeonato paralímpico na prova da categoria T44.

A grande estrela dos Jogos foi ofuscada. Pistorius, que há exatos 30 dias fez história ao ser o primeiro biamputado a participar de uma prova olímpica, estava visivelmente abatido após a derrota. Na rápida entrevista que concedeu, apenas respostas curtas. Todas para criticar o oponente.

"Estou decepcionado. Ele está dentro do que é permitido, mas a questão é que alguns atletas estão muito altos. Este tamanho das próteses tem de ser visto. Há menos de um ano, ele corria na casa dos 23 segundos. [Depois de aumentar ‘as pernas’], ele fez 21 segundos. É um fato", declarou o corredor, que abandonou a coletiva ao ser perguntado se as próteses estavam fazendo mais diferença do que o talento dos atletas.

O astro chegou a formalizar a crítica ao Comitê Paralímpico. A entidade lhe respondeu que os "competidores estavam dentro do padrão".

O conterrâneo de Pistorius, Arnu Fourie (quarto colocado na final), foi mais direto. "Você pode perguntar para qualquer um do público. Ele [Alan] parecia estranho, desproporcional. Já se você olha para o Oscar [Pistorius], há uma proporcionalidade no corpo", disparou.

No último mundial da modalidade, o brasileiro media 1,76m. Em Londres, ele está com 1,81m. A diferença, segundo a comissão técnica nacional, foi para adequar o atleta ao crescimento corporal dele, já que o atleta utilizava o mesmo suporte desde os 16 anos, quando disputou a primeira Paralimpíada da carreira, em Pequim. Na China, aliás, Fonteles marcou 24s21 na final dos 200 metros, quase três segundos mais lento do que o tempo registrado ontem (21s45).

"Eu estou dentro das regras. Isso é o que importa. Não tenho que falar para ninguém se estou pequeno ou grande. Se ele se incomodou com isso, não posso fazer nada", defendeu o medalhista de ouro.

Mesmo ressaltando várias vezes que não queria polêmica, o paraense cutucou o mais novo arquirrival algumas vezes. "Eu fiquei chateado com tudo o que foi dito. Ele bateu o recorde mundial ontem [21s30] e eu precisaria de mais gás hoje [ontem]. Ele veio forte na semifinal para mostrar que ele era o dono da noite", disse. "Ele é o recordista mundial? É. Mas no final vale quem chegou primeiro".

A rivalidade criada será testada em mais três provas na Paralimpíada: 100 m, 400 m e revezamento 4 x 100 m.

*O jornalista viajou a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro

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