Um desabafo do presidente do Coritiba, Giovani Gionédis, minutos antes do jogo contra o Internacional, no domingo, trouxe à tona uma discussão sobre legalidade e ética no futebol. O dirigente não gostou da atitude do Atlético de incluir em suas categorias de base dois jogadores que até um mês atrás defendiam o Alviverde. Choco e Raul, meias de 15 anos, viraram a casaca e se transformaram em pivôs da mais recente desavença entre os rivais curitibanos.
No dia da irritação, o homem-forte do Coxa afirmou que a dupla tinha sido "roubada" pelo adversário e que o clube iria buscar seus direitos na Justiça. Ontem, preferiu não alimentar a polêmica e silenciou sobre o caso.
Já o presidente do Atlético, João Augusto Fleury da Rocha, negou que a aproximação com os dois jogadores tenha partido do Rubro-Negro. "Nunca aceitamos conversar com quem tenha contrato ou relação com outra agremiação. Em momento algum fomos fazer a cabeça de alguém", afirmou.
A versão difere um pouco da contada pelos meninos.
Para Fleury, a explicação pode estar na atuação de intermediários, que primeiro especulariam com os jogadores sobre o interesse de ir para outro time e depois os apresentariam a esses clubes.
Do ponto de vista jurídico, a ação rubro-negra encontra respaldo na Lei Pelé, a qual proíbe qualquer atleta sem contrato de profissional que só pode ser assinado aos 16 anos de ter vínculo com uma equipe. Assim, ele pode mudar de time a qualquer momento.
"A única coisa que um clube pode fazer é assinar um contrato de formação com esse garoto. Mas caso ele seja rompido, a discussão vai para a Justiça Cível. O clube tentará reaver com o próprio atleta o que foi gasto com ele em alimentação, alojamento, educação, entre outras coisas", explicou o presidente do Tribunal de Justiça Desportiva da FPF, Bortolo Escorssin. Quando casos de troca de equipes vão ao TJD, a tendência é que o ganho de causa seja daquele escolhido pelo boleiro-mirim.
Na opinião do especialista em direito esportivo, Augusto Mafuz, o problema não é jurídico, mas ético. "A lei não protege os clubes. Antigamente, existia uma espécie de Código de Ética. Um não pegava o jogador do outro. Hoje, os dirigentes são profissionais e não respeitam mais isso", comentou.
O mesmo tom é usado por Luiz Henrique Barbosa Jorge, secretário do Conselho Executivo do Coritiba. "O Atlético não tem categorias de base, por isso fica pegando jogadores de outros times. Já fez com o Paraná. Agora está fazendo com a gente", reclamou, citando as saídas de Ânderson Aquino, Caio e Schumacher do Tricolor para o Furacão.
A acusação deixou o presidente rubro-negro indignado. "Não consigo entender. Não cometemos nenhum ato ilícito, ilegal ou imoral", afirmou. "Centenas de jovens do Brasil nos procuram por causa das condições de trabalho que damos a eles. Não fui na calada da noite seduzir um jogador ou a família dele para trazê-lo para cá", complementou.
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