Caso Bruno
Adriana Lacerda, uma das integrantes da equipe de psicólogos do Flamengo e participante do congresso, usa o caso do goleiro Bruno para reforçar a importância de realizar o trabalho de forma contínua com os jovens: "O Bruno era um atleta que não veio da nossa base, não teve um acompanhamento durante seu crescimento". Em casos como esse, logo após a contratação, o atleta é observado e avaliado. "No entanto, após os diagnósticos dos psicólogos é o treinador e a diretoria que têm a palavra final. Não temos o poder de barrar ninguém, nem em contratações, nem em escalações para os jogos", diz ela.
O teste seletivo é cruel: antes de entrar em campo, um menino que sonha brilhar no futebol passa por um processo de formação de pelo menos dez anos e, desde a infância, é exposto a uma peneira feroz apenas 10% das apostas serão bem-sucedidas. Por isso, além dos músculos é preciso que treinem e fortaleçam a mente. Essa temática, cada vez mais intrigante diante dos desvios de conduta dos boleiros, foi o fio condutor do XIV Congresso Brasileiro e VII Congresso Internacional de Psicologia do Esporte, que aconteceu na PUCPR e encerrado ontem.
"Uma equipe de futebol está envolvida em diversos compromissos: são viagens, diferentes campeonatos disputados ao mesmo tempo, treinamentos, etc. Os jogadores acabam também atuando em categorias misturadas. Equilibrar o emocional do atleta e seus níveis de estresse diante de todos esses fatores é trabalho do psicólogo do esporte", diz Afonso Machado, professor da disciplina de Corpo, Mídia e Esporte na Universidade Estadual Paulista (Unesp), um dos presentes ao evento.
"Existe uma crença de que a preparação de atletas começa pelo lado fisiológico, pelo rendimento físico, pela preocupação nutricional. Mas hoje os clubes precisam ver que para um bom desempenho o preparo psicológico é essencial", observa o professor.
No gramado, o trabalho dos psicólogos vai além da simples motivação em palestras ou no pré-jogo para garantir uma vitória.
"Psicólogo não ganha jogo: não é assim que se avalia o nosso trabalho. A intervenção da psicologia contribui com toda a equipe, com toda a preparação. Bons resultados são obtidos no longo prazo, ao vermos, por exemplo, um atleta chegar até a seleção", pontua Flávia Justus, que dividiu sua experiência de dez anos como psicóloga do Coritiba com cerca de 200 profissionais inscritos no debate.
"A partir das categorias de base, com avaliações, dinâmicas e análise das respostas dadas pelos atletas, é possível traçar o perfil psicológico dos jogadores e reconhecer, por exemplo, quem são, dentro de uma equipe, os líderes afetivos, os líderes técnicos, aqueles com melhor relacionamento com o grupo", relata Flávia. De acordo com ela, uma vez identificadas tais habilidades, o treinador pode utilizá-las como atalho para obter respostas mais rápidas do time.
Outra preocupação recorrente na área é garantir que a intervenção do bacharel seja encarada desde o início com profissionalismo. "Muitos treinadores têm resistência à psicologia porque já vivenciaram trabalhos com enfoques equivocados. A falta de especialização de muitos profissionais compromete a credibilidade da atividade", pondera o psicólogo Márcio Gelller, que trabalhou sete anos com o Internacional e hoje coordena a área no judô profissional da Sogipa, clube de Porto Alegre.
Para João Ricardo Cozac, com passagens por Goiás, Cruzeiro e Palmeiras, e presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte, apesar das dificuldades, o futuro é próspero para a psicologia no futebol.
"Existe hoje uma mudança de mentalidade, uma modernização da preparação esportiva em muitos times", diz ele, que cita Mano Menezes e Ney Franco como exemplos de profissionais que cresceram familiarizados com a importância do trabalho psicológico com atletas, e conclui: "A presença do psicólogo em um time não garante vitórias, mas a sua ausência pode, sem dúvidas, decretar derrotas".
A falta de estrutura familiar, a pressão do cotidiano, a súbita ascensão social também exige que o boleiro receba um tratamento diferenciado no aspecto emocional. Além de observar o comportamento dos atletas, cabe ao psicólogo ter atenção com os fatores extracampo.
"No profissional, por exemplo, procuramos fazer reuniões com as esposas, que ficam muito tempo longe dos maridos; já na base, explicamos aos pais como será o apoio dado ao atleta", diz Flávia Justus. Equilibrar as influências que preocupações externas, como problemas familiares ou financeiros, podem ter sobre um jogador são fundamentais para o sucesso da equipe.
Ela afirma ainda que artigos científicos sobre psicologia e futebol já demonstraram que determinadas posições em campo são ligadas a traços específicos de personalidade: "O atacante geralmente é um indivíduo mais ousado, capaz de assumir riscos; já um zagueiro costuma ter o perfil observador e justamente por essa característica muitas vezes é também o capitão do time", completa.
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