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Membro do quadro de árbitros da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o cascavelense Evandro Rogério Roman decidiu romper a lei do silêncio que assola a turma do apito. Ele não vacila em dizer que há juízes de futebol corruptos no estado – rotulados pelo próprio como "aves de rapina", com força dentro da Federação Paranaense. Sugere uma medida rápida para limpar o quadro regional: uma espécie de hora da verdade com vários nomes ligados à arbitragem, no Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) e com a presença da imprensa. "Não vai sobrar pedra sobre pedra", avisa.

Gazeta do Povo – Existe uma máfia no apito paranaense?

Roman – Claro que existe. Só não posso ser leviano de acusar alguém, pois estaria dando um tiro no próprio pé. Existe e não é de hoje.

Você sugere algo para essa situação se resolver rápido?

O Cidão (José Francisco de Oliveira, ex-juiz, que confirmou o esquema de propina) tem de dizer quem é que faz parte dessa quadrilha. Eu pago a passagem dele para vir de Londres e denunciar. Devemos, inclusive, fazer uma acareação com todo mundo envolvido. Formamos um grupo de árbitros e falamos tudo no Tribunal, com a imprensa presente.

Mas o que te leva a ter tanta certeza da existência de corrupção?

Estou há 12 anos na Federação Paranaense, mas quem poderia dar essa resposta são os presidentes de alguns clubes: Engenheiro Beltrão, Nacional de Rolândia e Paranavaí. Se eles não forem omissos, podem responder às dúvidas que pairam.

Esses clubes estão envolvidos no escândalo?

Tenho sérias suspeitas. E digo: participo de acareação com eles, desde de que seja aberto à imprensa – como eu já disse.

Não há provas em suas mãos?

Não. Mas pode ter certeza.

Você já se viu envolvido em esquemas?

Eles sabiam muito bem em quem chegar. Eu sempre falo no olho, profundamente. Pode ser do mais simples ao mais requintado dirigente, adoto essa posição de respeito. Tanto é que estou colocando à disposição meu sigilo bancário e telefônico. Tudo que o Tribunal solicitar está na mão.

A Associação de Árbitros está se saindo bem...

No ano passado, o Henrique (Triches, presidente da entidade) teve toda a chance de desmantelar essa quadrilha. Mas quando chegou ao Tribunal, omitiu-se. Não conversei mais com ele depois daquilo. Tínhamos tudo para destruir, pelo menos, parte desse grupo.

Você pode dar maiores detalhes?

O Tribunal sabe. É a história de um depósito que o Henrique teve de realizar na conta de um árbitro.

Era para manipular resultado?

Não, não. Era para dar a um ex-diretor. Na hora que o dinheiro veio, ele falou que era empréstimo, segurando a onda. Tinha alguém do nosso meio (Amorety Carlos da Cruz) arrecadando uma quantia para repassar a esse então dirigente, hoje afastado (Fernando Luís Homann).

Mas essas pessoas foram absolvidas dessa denúncia?

Justamente porque o Henrique pulou fora.

Você viu essa prova?

Sim.

O quadro paranaense na CBF vai sair ileso de tudo isso?

Tenho certeza de que o Armando Marques (presidente da Comissão de Arbitragem da CBF) sabe quem é quem, em especial no Paraná. É um estado que vem com problemas há mais de dez anos.

Qual é a participação da Federação neste episódio?

Em toda a minha carreira, não devo ter ido mais de dez vezes à sede da FPF – isto dá menos que uma vez por ano. Se é que existe essa interferência, não é do meu conhecimento.

Você propõe um cara a cara para desvendar os fatos. Quem deveria ser chamado?

Todos aqueles que o Cidão falou... Sugiro ainda a presença do Henrique, uma pessoa séria, mas que foi omissa; o Roberto Braatz, que tem um conhecimento de tudo isso; Héber Roberto Lopes, Gílson Bento Coutinho e Rogério Carlos Rolim.

Esses árbitros podem ajudar nas investigações?

Mas tem de ser uma coisa aberta. Frente a frente, todo mundo.

Se isso acontecer, você arriscaria a dizer que não ficaria pedra sobre pedra?

Acredito que não.

Os seus indicados não estariam sob suspeita?

Exatamente. Nosso quadro de arbitragem é muito sério. Infelizmente, há umas 10, 15 aves de rapina que prejudicam pessoas honradas. Uma podridão. Quem não tiver nada a temer, enfrente agora a situação.

O que te motivou a falar, enquanto todos preferem o silêncio?

Se eu me calar, vai parecer que eu faço parte desse grupo. Sou um árbitro preparado, com toda uma vida de estudo, até chegar no doutorado. Estou cursando Direito Internacional e batalhando no meu aperfeiçoamento. Não vou aceitar ser identificado com esse bando.

A investigação precisa se concentrar em qual foco?

Em um grupo determinado de árbitros da capital. É isso, 100% isso.

Repercussão

Os três clubes que Evandro Roman envolve no "mensalão do apito" não entendem a atitude do árbitro.

Paranavaí – "Nosso time é pequeno e fez uma campanha fraca este ano, não há porque tentar fazer acerto com juízes. Considero o Evandro um dos melhores árbitros do Paraná e me admiro dele nos citar como o clube que poderia ajudar na investigação do citado bruxo", diz Édson Felipe, presidente do clube.

Nacional – "Olha, sem falsa modéstia, sou o braço-direito do presidente e cabe a mim pagar os árbitros depois do jogos, mas nunca existiu qualquer referência de acerto. Tivemos problemas para pagar os nossos atletas, imagine acertar com árbitros", garante Manoel Martinho Mendonça, vice presidente de Finanças.

Engenheiro – "O Evandro, que apitou o último jogo nosso, quando fomos rebaixados, está se precipitando. Precisa ser mais objetivo nas palavras. Se ele acha que nós podemos colaborar com as investigações, ao dizer isso sem ser bastante claro, o mesmo agora posso dizer dele", cobra Luís Linhares, presidente.

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