Apesar do alto investimento nas categorias de base, trio de ferro não tem usado as promessas no time principal. Na foto, CT da Graciosa, do Coritiba| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

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Exemplo tricolor

O Paraná pode ser apontado como um exemplo da importância da garotada. O dinheiro da venda de Kelvin ao Porto rendeu cerca de R$ 7 milhões e aliviou um pouco da crise financeira paranista. "É a sobrevivência, não tem outro caminho", conta Paulo César Silva, vice-presidente de futebol do Tricolor. Em 2011, três jovens apareceram com destaque no Durival Britto: o lateral Henrique e Diego, além de Kelvin. Porém problemas com atravessadores complicaram o aproveitamento deles. "Alguns empresários pensam somente na parte financeira", declara Silva.

O técnico do Atlético Renato Gaúcho vai na mesma linha: "Em qualquer time do Brasil é importante ter muito cuidado com a base. De preferência, lançar um ou dois garotos por ano, pois é disso que os clubes sobrevivem", diz. Ele revela, ainda, que dará atenção especial aos jovens que retornarem da disputa da Taça BH. Considerando as formações titulares das últimas rodadas, o Furacão tem o maior número de pratas da casa em campo. O goleiro Renan Rocha, o zagueiro Manoel e o volante Deivid cresceram no CT do Caju, mas já superam os 20 anos.

Na última escalação do Tricolor e do Alviverde para partidas do Nacional não havia jogadores oriundos da base. (AP)

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Atlético, Coritiba e Paraná estão na contramão de uma tendência mundial de aproveitamento de jogadores jovens nos times principais. Embora a negociação de pratas da casa seja a fonte principal de renda dos clubes atualmente, só um atleta com idade de júnior (menos de 20 anos) é titular entre os três. E, na seleção brasileira que disputa o Mundial da categoria, na Colômbia, não há representantes.

O único sub-20 em ação no trio da capital é Lima, 19 anos, lateral-esquerdo do Tricolor. E, para piorar a situação, ele não nasceu na Vila Capanema. Foi criado no Beira-Rio, em Porto Alegre, e veio do Internacional B, emprestado até o fim da temporada. Cenário ruim avaliado como circunstancial.

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"Eu acredito que com a quantidade de contratações que foram feitas, a briga ficou mais acirrada, aumentou a concorrência. De repente, ficou mais difícil para esses jogadores jovens", afirma Roberto Fonseca, treinador paranista.

Marcelo Oliveira avalia de forma semelhante. "Não temos no momento porque os jogadores estão machucado ou por outra razão perderam a posição. Mas é um trabalho que pretendemos de estar muito atentos, até porque o time foi muito bem na Taça BH", declara o coxa-branca. Apesar da escassez sub-20, ambos dizem estar atentos às promessas da base, e elogiam o trabalho desenvolvido em casa.

Atlético e Coritiba têm mesmo motivos para esperar por dias melhores com os garotos. Os dois têm apresentado bons desempenhos nas competições amadoras recentemente. No ano passado, decidiram a Taça Belo Horizonte. E, em 2009, o Rubro-Negro terminou como vice-campeão da Copa São Paulo.

Porém o fator "circunstancial" pode ser analisado de forma mais rigorosa. O não aproveitamento da molecada é fruto da falta de competência no planejamento do futebol. Com as campanhas fracas do trio nos últimos anos, os dirigentes preferem apostar em jogadores experientes, normalmente contratados por empréstimo, na tentativa recorrente de escapar de cenários difíceis.

"Eles [os jovens] devem ser promovidos em épocas mais tranquilas", opina Alfredo Ibiapina, diretor de futebol do Furacão. "O momento do clube influencia muito na entrada ou não das revelações no time de cima", comenta Marquinhos Santos, técnico dos juniores do Coxa.

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A estratégia, entretanto, não garante a salvação e é terrível a médio e longo prazo. "É absolutamente fundamental para os clubes revelar e vender jogadores. O caso do Santos é emblemático. Graças aos jovens [Neymar e Paulo Henrique, especialmente] conseguiu mudar o curso de sua história", declara Amir Somoggi, especialista em gestão e marketing de clubes de futebol.