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Beto em atividade no salão de beleza Shimmer, no Cristo Rei: “Quer um cafezinho” | Felipe Rosa/ Gazeta do Povo
Beto em atividade no salão de beleza Shimmer, no Cristo Rei: “Quer um cafezinho”| Foto: Felipe Rosa/ Gazeta do Povo
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Dentro de campo

‘Pior despedida’ para um jogador marca o ex-paranista Beto

Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Beto festeja gol em 2007, últimos momentos como boleiro

"Minha despedida como atleta foi a pior possível. Foi em um clássico contra o Coritiba, em casa, o Paraná perdeu, eu estava no banco e fui expulso", conta Beto sobre o jogo derradeiro, em 20 de abril de 2008. A derrota tirou o Tricolor da final do Paranaense. Depois de pendurar as chuteiras, seguiu trabalhando na Vila Capanema por mais dois anos, como gerente de futebol.

Na época, pensava em atuar como auxiliar técnico, mas teve dois dias para decidir se assumia o posto na tentativa de ajudar o time a retornar à Série A. Enfrentou greve de jogadores e sentiu o desconforto de informar ao amigo Goiano que não fazia mais parte do plantel paranista. "Foi complicado. Ele é uma pessoa que todo mundo gosta. Passei por situações que talvez não estivesse preparado", pondera.

Quatro anos após a experiência de dirigente, diz que nunca se sentiu gerente de futebol de fato. "Deram esse nome para o cargo, que era moda na época. Faltava autonomia". Em 2010, pediu demissão.

Dos tempos de jogador, guarda as lembranças boas e os amigos que fez. Jogou quatro anos pelo Paraná, onde foi campeão paranaense (2006) no mesmo ano que ajudou o time a terminar o Brasileiro em 5º lugar e assegurar a vaga na Libertadores.

Discreto, tom de voz baixo e fala pausada. Com essas características, Beto recebe suas clientes com a máxima gentileza. Proprietário de um salão de beleza há 14 meses, se habituou ao constante ti-ti-ti das damas, mas prefere se manter reservado, longe das conversas sobre tinturas e cores da estação.

Com o empreendimento, ele fez uma mudança radical em sua carreira, mergulhando nos segredos da construção da beleza feminina, deixando para trás o (ainda) mais masculino dos universos do brasileiro: o futebol.

Aos 39 anos, aposentou-se da função de volante e capitão paranista há quatro temporadas. Mas ficou mais duas como gerente do clube, apaziguando o ânimo dos atletas, ora com salários atrasados, ora pressionados pelo risco da degola na Segundona.

Agora, atende ao telefone para marcar horários de corte de cabelo, manicure ou maquiagem, faz a contabilidade e o controle do estoque.

"Todos os segmentos profissionais têm suas dificuldades. No mundo da bola, a carreira oscila muito. Quando ganha, tudo é maravilhoso; quando perde, vem aquele desespero. No ramo da beleza, tem de plantar para colher; manter um bom atendimento, um serviço de qualidade para satisfazer e fidelizar as clientes", diz sobre o novo trabalho, não sem antes ter oferecido, gentilmente, um cafezinho.

A decisão de adquirir o salão de beleza no bairro Cristo Rei veio após a última tentativa à beira do gramado, como auxiliar técnico de Luciano Gusso no Corinthians Paranaense, no ano passado. Investiu a verba que ganhou como jogador em um negócio que pudesse trabalhar com a esposa, Paula. "Ela já se interessava pelo ramo da beleza e, pesquisando, vi que poderia dar certo", conta Beto. Tanto que o casal já pensa em ampliar o salão. "Estamos em busca de crédito para expandir".

Agora, passa mais tempo com Paula e o filho Bruno, 9 anos. "Acabou aquela história de ter de atender ligação de jogador na madrugada", diz a mulher. O que não quer dizer uma rotina menos intensa. Se antes o tempo era consumido entre treinos, concentração, viagens e jogos, agora, o dia a dia é de, pelo menos, dez horas diárias dedicadas ao salão, entre secadores de cabelo, tesouras e afins.

Os sábados são os dias de maior movimento. A dedicação é tamanha que o futebol reduziu-se a jogar com os amigos uma vez na semana, no campo de society. Estádio, não mais. Acompanha o ex-clube pela tevê, quando pode.

Formado em Educação Física e tecnólogo em Processamento de Dados, Beto diz que uma das suas preocupações durante os 15 anos de carreira sempre foi o que fazer depois de deixar os gramados. "Vi vários colegas sofrerem um grande tombo. Alguns até vêm pedir favores. Fiz bem essa transição. Não ganhei o suficiente para me manter para o resto da vida, então sigo correndo atrás", explica.

Dos tempos de volante do Tricolor, Beto diz ter guardado apenas memórias. As mesmas que relembra quando algum cliente o reconhece no salão. "Não colecionei muitas coisas como jogador. Tenho as camisas dos clubes que defendi porque um tio guardou. As camisas que troquei depois dos jogos eram sempre para os amigos", diz, sem saudosismo.

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