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 | Mauricio Kaye
| Foto: Mauricio Kaye

Entrevista

Juliana Felisberta da Silva e Larissa França, dupla mais vitoriosa do vôlei de praia brasileiro. Uma dupla, sim. Mas com pontos de vista diferentes.

Larissa, mais objetiva, mostra-se muito focada nos planos futuros. Juliana não se importa em falar do passado que a transformou na atual melhor jogadora do mundo.

Com tantos recordes sendo construídos e batidos por vocês, como manter a motivação na areia?

Larissa – O grande segredo é não pensar nos recordes. Temos escrito nossa história no livro do vôlei de praia, mas ainda não fizemos essa leitura. Seguimos focadas nos treinos e nos objetivos e metas que traçamos ano a ano.

Juliana – A gente não pensa muito nisso. É cada vez mais raro ter duplas com o tempo de parceria que temos e somar tantos títulos, não temos a proporção do que estamos fazendo. Toda vez vou jogar com o meu melhor desde o primeiro jogo, como se fosse uma final.

Em 2007, vocês se classificaram para a Olimpíada de Pequim e, com a lesão da Juliana [às vésperas da competição] não puderam brigar por uma medalha. Há uma pressão para conquistar este ouro em Londres, no ano que vem?

Larissa – A classificação para Londres e o Pan-Americano são nossos maiores objetivos neste ano. Continuamos treinando do mesmo jeito. Se não for o momento, a medalha [olímpica] não vai vir. Em 2008, não era a hora. Não ganhamos uma medalha em Pequim, mas ganhamos outras coisas, como a maturidade.

Juliana – A Olimpíada ficou meio engasgada, meio mal-resolvida. Nem sei se estava preparada. Me sinto muito mais preparada agora. Estávamos meio obcecadas pelos Jogos. Acordava e dormia pensando nisso. Hoje, acho que vai acontecer se tiver de acontecer. Jogo para tentar ser a melhor no que faço. Todo o resto vem como consequência.

A preparação de vocês inclui alguma preocupação extra com uma possível nova lesão?

Larissa – No esporte de alto rendimento, risco de lesão está ali, sempre junto. É algo fora do nosso alcance. E essas lesões parecem sina. Quando íamos jogar o Mundial Sub-21 [em 2002], tive uma hérnia de disco. Em 2007, para o Pan do Rio, a Juliana torceu o joelho. Em 2008, torceu o outro, tes dos Jogos.

Juliana – Não há como prever. Quando me machuquei, não sabia como ia voltar. Não passou pela minha cabeça não voltar a jogar, mas não sabia se ia voltar no mesmo nível. Poderia ter voltado após seis meses da cirurgia. Mas preferia atrasar minha volta e voltar bem, em condição perfeita, física e psicológica.

Uma máquina de quebrar recordes. Assim é a dupla de vôlei de praia Juliana e Larissa, formada por dois dos maiores nomes da 4.ª etapa do Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia, que tem as finais disputadas hoje em Curitiba, no Parque Barigui.

Mas a capixaba e a paulista radicada em Fortaleza dizem não se importar com as estatísticas – que são de dar inveja a qualquer atleta. Elas preferem olhar para o que podem conquistar no futuro. A medalha olímpica é o que falta na estante da parceria.

Em números, são imbatíveis: pentacampeãs mundiais, tetracampeãs brasileiras, campeãs dos Jogos Pan-Americanos do Rio (2007), um recorde de vitórias batido atrás do outro. "Não sentimos essa badalação no dia a dia. Talvez porque em Fortaleza [onde treinam] já façamos parte da cidade, todos nos tratam como ‘da casa’. Sei que o que fazemos é importante, mas não na exata proporção. A ficha não cai nunca", diz Juliana.

Com quase oito anos de parceria são uma das poucas duplas no mundo que permaneceu junta para o desafio do pódio em Lon­­dres, no ano que vem. O Circuito Mundial, que terá início em abril, em Brasília, e vai até novembro, contará pontos para a classificação olímpica. O Brasil tem direito a mandar duas duplas no feminino e duas no masculino. "Queremos os melhores resultados neste ano para poder descartar os do ano que vem. Para Pequim, fizemos isso: já em 2007 garantimos a vaga e, no ano seguinte, pudemos focar no treinamento para a Olimpíada", conta Larissa.

Neste ano, não perderam nem uma partida sequer. Resultado, diz Juliana, da versatilidade em quadra de ambas. Na teoria, ela é a bloqueadora; Larissa, a defensora. "Mas estamos sempre tentando coisas novas. Ela vai para o bloqueio e eu defendo". Desde 2004, as duas só treinam com homens. Têm duplas masculinas para a preparação para as competições nacionais e outras para os campeonatos internacionais. "Eles sempre nos fazem ir um passo além. Contra eles, conseguimos saber se estamos jogando bem ou não", conta Juliana.

Outro fator que contribui para o sucesso – e longevidade – do time foi a paciência de Larissa e do processo de reinvenção pelo qual Juliana passou. Só resumindo a história das duas para poder entender. "Vôlei de praia é um esporte muito difícil. Tem muitos fatores que dificultam: é um time, mas não tem reserva, você compete com sol forte, chuva e vento. Temos se aprender a administrar e fazer ficar fácil", diz Larissa.

Antes de ficar fácil, a trajetória das duas foi pontuada por lesões. No primeiro encontro da dupla, em 2002, Larissa teve de desistir da disputa do Mundial Sub-21 por causa de uma hérnia de disco. Foi substituída por Taiana. O improviso deu certo e elas conquistaram o título.

Depois, Juliana se machucou. Uma lesão no joelho esquerdo a deixou oito meses longe das areias, adiando mais uma vez a parceria. Em 2004, as duas se reencontraram. A partir daí, já se sabe: títulos, recordes, títulos, recordes.

A medalha de ouro no Pan do Rio foi conquistada sem perderem nem um set sequer. "Foi diferente de tudo. A torcida não era pela du­­pla, era pelo Brasil. Temos a pretensão de estar no Pan mais uma vez", diz a bloqueadora.

Mas, em junho de 2008, faltando pouco mais de um mês para a estreia nos Jogos de Pequim, Juliana rompeu o ligamento cruzado do joelho direito, em uma etapa do Circuito Mundial. Ficou fora da Olimpíada, substituída por Ana Paula. Foram 231 dias "de molho", sem ter certeza de como iria voltar. Larissa, paciente, esperou. O retorno foi em Curitiba, em 20 de março de 2009, pelo circuito nacional. Ficaram em 4.º lugar. Depois, não souberam mais o que era ficar fora do pódio.

"Nem meu técnico nem a Larissa sabia, mas, para mim, era tudo novo. Mesmos lugares, mesmas adversárias, mas era tudo novo. Parecia o renascimento. Parecia um sonho, que quando vi que era realidade, fui como um leão em busca da caça", diz a atleta, sobre o retorno vitorioso.

Se ficou a frustração da ausência em Pequim? "Me resolvi muito bem. Falta, para nós, uma Olimpíada. Mas hoje eu sei que a vida de atleta não acaba sem uma", diz, sentindo-se mais madura para disputar a competição.

Serviço

Finais e disputa de terceiro lugar da 4ª etapa do Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia, na arena no Parque Barigui, em Curitiba, a partir das 9 horas. Entrada gratuita.

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