A cartolagem do Brasil não se contém de alegria. Depois de muitas idas e vindas, a Timemania (considerada pelos dirigentes como a tábua de salvação do futebol brasileiro) foi aprovada pelo Congresso Nacional na quarta-feira à noite por 262 votos a favor, 34 contrários e uma abstenção.
Idealizada pelo Ministério do Esporte com o objetivo de sanar as dívidas dos times com a União (Previdência Social, INSS, Receita Federal, Procuradoria da Fazenda Nacional e FGTS) contraídas até 30 de setembro deste ano, a versão atualizada da loteca irá agora a votação no Senado.
De acordo com o projeto de lei, terão direito a receber parte do dinheiro da Timemania que irá direto para os cofres públicos até que os débitos sejam totalmente quitados num prazo máximo de 120 meses os clubes da Série A, B e C que cederem os direitos de uso de seu nome, marca, emblema, hino ou de seus símbolos à loteria. Ao invés de jogar em números, os apostadores poderão concorrer via distintivos das equipes. A adesão é opcional.
"Só posso louvar a aprovação da Timemania. Se trata de uma lei que só acrescenta aspectos positivos no futebol brasileiro. O Coritiba batalhou muito para que essa nova loteria fosse criada", afirma o presidente alviverde Giovani Gionédis. "Esta loteria é a salvação da maioria dos clubes do Brasil. Acredito que em até dois anos poderemos pagar todos os impostos atrasados", completa o presidente do Paraná, José Carlos de Miranda.
A derrota por goleada foi um duro golpe na oposição (leia-se PSDB) que tentou até o último instante incluir a contrapartida dos clubes se tornarem empresas para votar em favor do projeto. Relator da CPI CBF/Nike (2000/2001), o deputado tucano Sílvio Torres (SP) acredita que o Congresso Nacional perdeu a oportunidade de exigir uma administração mais transparente das equipes. "O governo federal já ajudou os clubes de futebol em outras oportunidades, mas a estrutura continuou a mesma, deficitária e amadora. Pelo histórico, acredito que desta vez não será diferente", analisa o parlamentar.
Especialista em direito esportivo, o advogado Marcílio Krieger é outro que critica a aprovação da loteria sem ônus algum aos cartolas. "Hoje os dirigentes não recolhem os impostos, devem um monte para a previdência e nada acontece. Eles brigam é para não serem responsabilizados perdendo o patrimônio pessoal pelos eventuais prejuízos que causarem às suas equipes. Querem apenas uma teta a mais para mamar. São uns brincalhões", argumenta o jurista, lembrando que tão logo as dívidas sejam quitadas, os times poderão usufruir das verbas como bem entenderem.
Defensor dos clubes S/A, o jornalista Juca Kfouri também questiona a lisura com que o futebol brasileiro é comandado. "O atual modelo de gestão é um fracasso. Os cartolas estão ricos e os clubes pobres. O que está gente não quer é abrir a cabeça, abrir mão de seus privilégios", diz.
Pelo que ficou combinado entre situação e oposição, a transformação dos clubes em empresas deve ser incluída no Estatuto do Desporto, previsto para ser votado em março. "São uns poucos utópicos que nunca trabalharam no dia-a-dia do futebol que pensam assim", rebate Miranda.
Os dirigentes do Atlético não foram encontrados pela reportagem.
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