Aos poucos, Walter Casagrande Júnior vai voltando. O ex-jogador e comentarista da Rede Globo concedeu nesta quinta-feira sua primeira entrevista depois de deixar uma clínica para tratamento de dependência química, há duas semanas. Ele falou para o programa "Altas Horas", da própria Globo, que será exibido na madrugada de sábado para domingo. E foi de uma sinceridade brutal.
Casagrande confessou que teve quatro overdoses antes de ser internado. Uma delas, em frente ao filho de 13 anos. "Foi o pior momento desse processo." Ele era dependente de cocaína e heroína. "Eu me afastei de todas as pessoas, até da família. Estava usando muita droga", admitiu ele, que ficou um ano internado. "Comecei a ter dificuldade para trabalhar, mas achava que estava tudo bem. Achei que a droga não me incomodava e que não era um doente."
Aos poucos, o ex-atacante retoma a vida normal, longe do vício. Hoje mora sozinho num apartamento em São Paulo, e todas as tardes vai à clínica para participar de uma terapia em grupo. Não há, contudo, previsão de volta às transmissões esportivas.
Casagrande relatou que usava drogas desde os tempos em que era jogador. Seu último clube foi o São Francisco, da Bahia, em 1996 "Eu parei de jogar querendo mesmo, mas não estava preparado. A gente sente falta daquela adrenalina. E eu sempre gostei de viver no limite", assumiu. "Sou de uma geração em que os ídolos morriam de overdose. Eu queria viver a vida como Jim Morrison", disse, referindo-se ao vocalista da banda de rock The Doors, que morreu de overdose de heroína em 1971.
Em setembro do ano passado, o ex-centroavante sofreu acidente de carro e passou 24 horas em estado de coma no Hospital Albert Einstein, na capital paulista. Foi ali que Victor Hugo, seu filho mais velho, de 22 anos, produtor da ESPN Brasil, tomou as rédeas da situação e decidiu interná-lo. "Quando cheguei ao Einstein, eu, que tenho 1,91 metro de altura, estava com 71 quilos e várias marcas de drogas injetáveis no braço", contou Casagrande. "Eu não quero mais passar por isso. Não quero que meu filho me veja numa maca e diga que preferia me ver morto a estar naquela situação."
Durante a entrevista, Casagrande quase não falou sobre futebol. Ele contou que viu poucos jogos enquanto esteve internado, mas não perdeu a chance de brincar quando lhe perguntaram sobre o elenco do Corinthians. "Quer falar de droga também?", brincou, arrancando risos da platéia, para depois falar sério: "Para a Série A, o time vai precisar de quatro ou cinco reforços de peso".
O assunto que dominou a entrevista foi mesmo a relação do ex-atacante com os narcóticos. E ele descartou sua participação em campanhas de prevenção. "Sou dependente químico. Seria hipócrita dizer 'não use drogas'", disse, com o tradicional semblante que exibia nas transmissões da Globo.
Casagrande sempre foi considerado um dos jogadores mais esclarecidos do futebol, mas isto não o impediu de se afundar no submundo das drogas. "Nunca vivi no mundo do futebol. Vivi no meio da música, do rock n roll. Fui produtor do Raul Seixas por um ano. Sempre tive participação política."
Nos primeiros oito meses de internação, o ex-jogador não teve contato com ninguém de fora da clínica. "Todos os dias são uma emoção nova para mim, a partir de agora", emocionou-se. "Tenho de tomar cuidado porque eu sou doente, sou dependente químico", enfatizou.
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